Dez minutos esperando minha filha no portão da escola. As vozes das crianças que acabam de sair da aula de canto aquecem a noite chuvosa de São Paulo, descem a rampinha vermelha carregando na mochila o cansaço do dia longo. Já são quase 9 da noite. Lara é uma das últimas a cruzar a grade, engatou uma conversa que daqui de onde a observo parece interessante o suficiente para lhe fazer ignorar a minha presença. Passa direto, beija e abraça a amiga despedindo-se, e já na rua olha para trás. Vem mãe!.

Alguns metros de silêncio depois, ela segura a minha mão e segue o monólogo sobre o coral, o lanche, o trabalho de inglês, os amigos. Cantamos aquela música que você gosta. A fila hoje estava gigantesca. Parece que não fui tão bem. Fulano isso, fulana aquilo.

Fiquei enternecida. Desde que tinha uns 10 anos, não é afeita a mãos dadas. Nunca chegou a verbalizar, mas se eu me distraio e a seguro, ela arranja algum cabelo para ser posto atrás da orelha, alguma coceirinha no rosto ou qualquer coisa que o valha para livra-se do entrelaçar de dedos.

Até que assim, numa noite de coral, 12 anos recém-completos como se nada fosse… Penso que o crescimento é feito dessas pequenas idas e vindas. Saber que posso ir para só então querer voltar. E quão significativo é o gesto das mãos dadas. Um abraço em miniatura.

Um quilômetro separam a escola de nossa casa. Duas quadras, um shopping atravessado no meio do caminho, mais três quadras. Foi só o tempo de contar as novidades da escola e o aconchego já era o suficiente para a minha menina. Passada a primeira vitrine do shopping, soltou a mão, mexeu no cabelo. De lá até em casa reassumiu a postura adolescente, aquela que guarda uma certa distância de qualquer pessoa que já tenha passado dos 18.

Segui observando-a até o elevador de nosso prédio (como está grande a minha filha), quando ela me apertou a bochecha e disse estar morta de fome. Entrou e seguiu direto para quarto, celular na mão.

Mãe, tu faz um ovinho pra mim?

Eu não, o jantar já está pronto

Por favor, te dou um abraço

Faço, claro que faço. E sim, sigo aqui, mãos disponíveis sempre que você procurar.

https://www.facebook.com/roberta.dalbuquerque 
https://www.instagram.com/robertadalbuquerque/