Ron Lach -Pexels – Em qual lado da tela estão os “anjos tronchos”?

Recomenda-se que esse texto seja lido ao som de Anjos Tronchos do Caetano Veloso.

Não! Não é uma interpretação, releitura ou qualquer coisa que valha sobre essa letra, que revela o zeitgeist” do artista. Vamos falar sobre o bug dos tronchos (desajeitados) do Vale do Silício, que deixou Facebook, Instagram e WhatsApp fora do ar por seis horas, em quase todo o planeta, na primeira segunda-feira útil do mês. O “anjo troncho” em questão seria Mark Zuckerberg, que pediu desculpas aos três bilhões de usuários diários de seus serviços. Até aí nenhuma aparente novidade. E não vou comprar a visão de estratégias dos trilionários de tecnologia e informação para desvirtuar denúncias no Congresso norte-americano ou investimentos de novos negócios. Assim é nosso mundo.

Há uma semana de jejum de redes sociais, com pequenas e homeopáticas inserções de conteúdo, o bug da segunda-feira, dia 04 de outubro de 2021 só manifestou um pequeno susto: achei que tinha algum problema com a operadora de telefonia móvel. Em um dia que reservei para consultas médicas de rotina e a agenda profissional resolvida pela manhã, recebi algo praticamente raro nos dias de hoje, uma ligação telefônica. Da filha, avisando que nossa comunicação estava prejudicada pelo tal bug.

 

Mesmo compreensiva ao prejuízo que muitas pessoas tiveram pela falha do serviço, percebi que os anjos tronchos são na verdade os usuários; como bem definido no Dilema das Redes – o termo usuário se aplica aos consumidores de drogas e de vida virtual em excesso. Ficar à mercê e na dependência de plataformas para estabelecer uma comunicação com o mundo é uma insanidade. Nutrição de vida alheia em selfies é tóxica. Ser notificado pelo sistema, validado por selo de verificação, curtido, engajado, encaminhado, toca o sininho, comenta, “pô, seja legal e me note nesse mundo e arrasta prá cima!”

 

Se nós, adultos com maturidade e experiência nos vemos cada vez mais enredados (olha como essa palavra é profunda) em nosso comportamento ditado pelas redes sociais, pelo mundo digital e tecnológico, qual a solução ideal? Evitar ao máximo que a geração nativa se reconheça apenas como um algoritmo. Esse é o nosso desafio, refletir e agir sobre uma velocidade desembestada para um conhecimento raso, democrático na verdade, mas absolutamente calcado na superfície.

Nem uma pandemia foi capaz de nos fazer parar pelos motivos “certos”, no sentido de dar uma oxigenada na vida do planeta. Paradas obrigatórias e forçadas são apelos do corpo físico para o nosso massacre praticado dia após dia.

 

Que velocidade é essa? Aonde querem chegar? Ou nem sabem, o que sinto ser o mais provável.

Completando mais uma semana sem redes sociais, não completamente do zero, pois tudo pode ser usado com sabedoria e equilíbrio (usar e não ser usado), continuo com o trabalho, retomada de conversa com velhos amigos, parada na rua para aquele bate-papo de 15 minutos, um almoço em família sem marcação de @s, enfim, vivendo a vida com todo o ritmo necessário, sem neuroses, como se fosse ”Miss Eilish faz tudo do quarto com o irmão”.

 

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*Ronise Vilela é criativa de Comunicação Afetiva, Jornalista, Escritora e Psicanalista Integrativa.

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