Franklin de Freitas – Na Interpares

A obesidade infantil é uma doença em ascensão. De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 40 milhões de crianças com menos de cinco anos são obesas ou estão acima do peso em todo o mundo. E este número não para de crescer, especialmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), 15% das crianças brasileiras estão acima do peso.  
E muitas vezes pais e educadores não se dão conta do princípio do problema. Elisa Karkle, nutricionista da escola curitibana Interpares Educação Infantil , que conseguiu praticamente zerar o índice de obesidade da escola, explica, por exemplo, que é um hábito comum entre os adultos o uso de comandos como “se não comer tudo não vai brincar” ou “se comer tudo vai poder ir ao parque” como prejudicial.  “Isso é um erro, pois a nossa expectativa em relação à quantidade que a criança vai comer pode não estar adequada à fome dela naquele momento. Quando você força a alimentação, está fazendo aquela criança desrespeitar seus sintomas de saciedade”.
A Interpares, que atende crianças de zero a cinco anos, praticamente zerou o índice de obesidade entre os alunos e diminuiu significativamente o sobrepeso. Com isso, a escola elevou para 93% a quantidade de alunos considerados eutróficos, termo utilizado pelos nutricionistas para indivíduos que não enfrentam problemas de sobrepeso ou baixo peso.
O avanço no quadro nutricional se deve a um trabalho que combinou a reestruturação do cardápio, a mudança de hábitos no refeitório e a priorização de brincadeiras e atividades fora de sala de aula. A nutricionista da instituição, Elisa Karkle, conta que iniciou aos poucos as mudanças nas refeições, com o aumento da oferta de frutas, verduras e legumes e a diminuição de pães e bolos.
“Com esta pequena mudança já começamos a perceber a diferença nas crianças. Inicialmente, imaginamos que enfrentaríamos a resistência dos pequenos, mas foi tudo muito tranquilo. Em seguida, retiramos os embutidos do cardápio, pois geralmente têm excesso de sal e muita gordura saturada. O passo seguinte foi estimular ainda mais o consumo de água pura, saborizada ou sucos naturais sem açúcar”.
Os resultados vieram: em apenas um ano, a taxa e obesidade na escola, que antes era de 3%, caiu para praticamente zero (atualmente há apenas um caso identificado, mas que também tende à remissão). Entre os 100 alunos matriculados, o sobrepeso diminuiu em mais de 60% no período e a eutrofia (nutrição adequada) saltou de 80% para 93%. “A mudança que iniciamos na escola repercutiu entre os pais. Notamos que em casa as crianças também passaram a ter menos acesso a alimentos industrializados. Foi uma transformação para todos e os resultados positivos vieram rápido”, conta a diretora da Interpares, Dayse Campos.
Além disso, a escola estimula a autonomia na alimentação. “Instalamos um buffet na altura das crianças e elas podem se servir e se alimentar sozinhas, sob a supervisão de uma professora. Essa supervisão inclui desde a quantidade e escolha dos alimentos – que devem ser adequadas – até o estímulo para que experimentem novos sabores, tenham bons hábitos à mesa e saibam perceber o momento da saciedade”.
Outro ponto destacado pela diretora é o fato de a escola priorizar atividades ao ar livre e fora de sala de aula. “A educação infantil tem a infância a seu favor. Nessa fase, as crianças aprendem de todas as formas e não necessitam da sala de aula. Nossos alunos aprendem o tempo inteiro, assim como brincam o tempo inteiro. Uma coisa não está desconectada da outra, pelo contrário. E, além de potencializar a aprendizagem, o brincar potencializa a saúde deles”, finaliza.
Conduta saudável
A endocrinologista Rosana Bento Radominski ressalta a importância da participação de toda a família no tratamento e prevenção da obesidade. “Comer de forma saudável não é recomendação exclusiva para o paciente obeso. Toda a família deve cuidar da alimentação e não deve haver diferenciação entre magros e obesos. Uma dieta nutricional equilibrada faz bem a todos”, afirma. A atividade física também deve ser equilibrada e fazer parte do cotidiano. “Não basta matricular a criança em uma academia. É preciso incentivar hábitos diários mais saudáveis como caminhar todos os dias, procurar subir escadas e brincar, por exemplo”, reforça a médica.