Além da polarização ter alcançado um nível inédito nas eleições 2018, outro fato marcante também entrará para a história do pleito. De acordo com informações do jornal O Globo, as eleições presidenciais deste ano registraram um número recorde de denúncias por coação eleitoral em empresas, com o Paraná aparecendo como o segundo estado com mais reclamações feitas ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ao lado dos vizinhos da região Sul.

Até a última sexta-feira (05 de outubro), haviam sido apresentadas 120 denúncias em todas as procuradorias do MPT, contra 32 empresas diferentes. Santa Catarina foi o estado com mais denúncias (61, contra sete empresas), seguido pelo Paraná (22 casos) e Rio Grande do Sul (17). Assim, os estados sulistas concentram 83,33% das reclamações de todo o país.

Os dois casos mais marcantes sobre o assunto, inclusive, foram registrados em estados da região. No último dia 02, o MPT de Santa Catarina ajuizou ação contra Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, por pedir em vídeo para que os colaboradores votem no candidato Jair Bolsonaro (PSL), de quem o empresário é cabo eleitoral.

Num vídeo publicado esta semana, Hang apareceu dizendo que se algum candidato "de esquerda" vencer a eleição, ele vai repensar o plano de crescimento da empresa e talvez venha a fechar algumas lojas. Ironicamente, contudo, sua empresa cresceu exponencialmente justamente durante o governo do Partido dos Trabalhadores (PT): entre 2005 e 2014, foram 50 empréstimos junto ao BNDES, o que possibilitou a abertura de quase 100 lojas em 13 estados brasileiros. No total, os empréstimos totalizaram R$ 20,6 milhões, com prazos de pagamentos entre 60 meses (cinco anos e 48 meses (quatro anos).

Outro caso que chamou a atenção envolveu o Grupo Condor e o dono da empresa, Pedro Joanir Zonta. Numa carta que vazou nas redes sociais, o empresário defendeu o voto de seus funcionários em seu candidato (Bolsonaro), alegando que ele "não tem medo de dizer o que pensa; protege os princípios da família, da moral e dos bons costumes; luta contra o aborto e contra a sexualização infantil; é a favor da maioridade penal e segue os valores cristãos".

O ponto sensível da mensagem, segundo o MPT-PR, contudo, é o destaque à afirmação de “não haver corte no 13ª salário e nas férias dos empregados do grupo”, que é composto por 48 lojas no Paraná e em Santa Catarina. “Nesta carta, fica o meu compromisso, com você meu colaborador hoje, de que não haverá de forma alguma, corte no 13º (décimo terceiro) e nas férias dos colaboradores do grupo Condor”, diz Zonta, que completa em seguida: “Acredito no Bolsonaro, votarei nele e peço que confiem nele e em mim para colocar o Brasil no rumo certo”.

Chamado para prestar esclarecimento, o presidente do Grupo Condor assinou um aordo com o MPT-PR para evitar uma multa de R$ 100 mil.

"Nunca vimos nada assim", diz procuradora

Em entrevista à revista Exame, a procuradora do trabalho do MPT-SC, Márcia Aliaga, demonstrou preocupação com o cenário que se apresenta. Segundo ela, é a primeira vez que tantas denúncias desse tipo são levadas ao Ministério Público do Trabalho.

"Não temos notícia de nada parecido, nunca vimos nada assim. É um fenômenos completamente novo", declarou ela, destacando que em pleitos anteriores o que costumava acontecer eram casos individuais e a nível local, em situações mais específicas. Já nessas eleições, por conta dos ânimos mais acirrados e maior polarização política, os casos são maiores e nacionais, inclusive com advertências aos funcionários falando em riscos de perda de emprego caso determinado candidato seja eleito.