Jonas Ferlin no Pexels – A morte contém um mito da destruição

A fiel escudeira desde nosso primeiro suspiro de vida, também nos acompanha no último inspirar. Não há fidelidade que supere a morte, essa, a física, a que faz parte dessa realidade material. Do toque, da sensação de estar vivendo em parceria, ao mesmo tempo. 

A gente sofre é a da saudade e da impotência de não se tornar reversível. De mais um minuto, mais um momento, mais uma palavra. Verdade? Provavelmente faríamos da mesma forma. Tudo outra vez.

E se a vida fosse um modo Benjamin Button, o sufoco seria infinitamente pior. Saber a hora da partida, ao meu ver, demonstraria falta de compaixão. Uma dor com hora e data marcada é cruel.

Eu já tive momentos íntimos com a morte. A de perder pessoas preciosas e até me deparar com a própria. Uma coisa que aprendi sobre a morte é que temos um momento certo para que ela aconteça, mesmo que nossa compreensão não alcance isso. Mesmo que a dor, e, por que não, nosso egoísmo não permita aceitar essa tese.

Como disse Cazuza em Boas Novas, “eu vi a cara da morte e ela estava viva, viva!” – eu já estive quase do lado de lá, quando em 1995 sofri um acidente automobilístico, cuja sobrevivência é atribuída a um milagre.O milagre existe, óbvio! Mas a morte sustenta para nós ocidentais, o mito de destruição, do fim, algo um pouco injusto, ao meu ver.

Não há essa eternidade que a juventude presume, nem o elixir da longa vida e se “todo mundo quer ir prô céu, mas ninguém, quer morrer”, como já cantou a Blitz no famoso disco das faixas riscadas pela censura, por que então não valorizamos mais a vida?

A vida é experimento e aprendizado, me convenço cada vez mais disso. E talvez, a maturidade e busca por propósito deixe isso mais claro e leve.

Na minha brevíssima vivência de quase estar ali no portal da morte, tive a melhor sensação de liberdade, provavelmente por já não me sentir tanto num corpo físico. Sim, eu vi a luz. Também soube que os aparelhos que monitaravam meu estado fez o “tuuuuuuuuuuuu” de perder a linha, que depois do retorno meu médico deu uma explicação clínica, e completou: “no seu caso teve uma boa dose de milagre, nunca vi alguém querendo viver tanto”.

O mundo está estranho, acho que sempre foi para falar com muita honestidade. Tudo está ampliado, porque nos recusávamos a aceitar a mudança mais que necessária. Nenhum ponto de virada é doce. A morte pode ser, pelo menos, para quem vai.

#morte #experienciaposmorte #vida #pontodevirada

*Ronise Vilela é criativa de Comunicação Afetiva e Psicanalista Integrativa. Atende pacientes on-line e presencial com terapia que inclui escuta ativa, respiração consciente, Escrita Afetiva e meditação fácil.

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