SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A resposta das veteranas da seleção brasileira feminina de futebol à demissão de Emily Lima e à contratação de Vadão ganhou mais um capítulo nesta sexta-feira (6).
Por meio de seus perfis em redes sociais, jogadoras publicaram carta aberta à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) cobrando melhorias nas condições de trabalho para as praticantes da modalidade no país.
Entre outros itens, o texto critica “o fracasso em apoiar e estimular o futebol feminino em todos os níveis do esporte, desde a grama do campo até o Brasil como um todo”.
Na carta aberta —assinada por Marcia Tafarel, Sissi, Juliana Cabral, Formiga, Cristiane, Fran, Rosana e Andréia Rosa—, as veteranas também cobram igualdade de gênero para o esporte no país.
“No ano passado, a FIFA fez grandes reformas, como a inclusão obrigatória de mulheres em seu próprio Conselho, e a adição de mulheres em todos os níveis de administração do futebol”, diz o comunicado.
Além da carta aberta, que também tem versão em inglês, as jogadoras deixaram suas visões individuais e anexaram documentos, como uma declaração de Romário sobre a modalidade e um texto publicado por Mayi Cruz Blanco, chefe do departamento de desenvolvimento do futebol feminino da Fifa.
Ainda há a carta enviada pelas jogadoras da seleção para Marco Polo del Nero no dia 19 de setembro, informando sobre os resultados de reunião com Marco Aurélio Cunha e manifestando apoio a Emily Lima.

Veja a carta publicada pelas veteranas:
“Nós, ex-jogadoras da seleção brasileira de futebol feminino (SBFF), estamos muito tristes e angustiadas pelos recentes acontecimentos na CBF no que concerne o futebol feminino e a nossa seleção brasileira, que incluem:
– O tratamento pobre das mulheres como líderes e jogadoras por muitos anos. Esses são apenas os mais recentes exemplos: a técnica Emily Lima, apesar do apoio das jogadoras, expressado em carta para a CBF, dia 19 de setembro, foi abruptamente demitida; e cinco jogadoras de destaque – Cristiane, Rosana, Andreia Rosa Francielle e Maurine – se aposentaram, exaustas dos anos de desrespeito e falta de apoio.
– O fracasso da CBF ao longo de vários anos em providenciar oportunidades significativas para as jogadoras avançarem até a liderança – mesmo quando nós ganhamos nossas qualificações de técnicas, a um alto custo e com o encorajamento da CBF. Até agora nós tivemos uma ex-jogadora da SBFF (Daniela Alves) trabalhando com a configuração da SBFF, e, apesar das promessas, apenas Emily Lima teve a chance de ter um papel de liderança na seleção feminina.
– A falta de mulheres em papéis de liderança na CBF; a ausência de qualquer estrutura dentro da CBF que permita que mulheres façam parte da gerência e da administração do futebol; e a ausência de voz daquelas que vivenciaram o futebol feminino, em decisões sobre o futebol feminino.
– O fracasso em apoiar e estimular o futebol feminino em todos os níveis do esporte, desde a grama do campo até o Brasil como um todo. Nós, as jogadoras, investimos anos das nossas próprias vidas e toda a nossa energia para construir essa equipe e criar toda essa força que o futebol feminino tem hoje. No entanto, nós e quase todas as outras mulheres brasileiras, somos excluídas da liderança e das tomadas de decisão relativas à nossa própria equipe e ao nosso esporte.
Nós convidamos a CBF a trazer reformas de igualdade de gênero para o Brasil. No ano passado, a FIFA fez grandes reformas, como a inclusão obrigatória de mulheres em seu próprio Conselho, e a adição de mulheres em todos os níveis de administração do futebol. Membros como a CBF são obrigados a levar em conta a importância da igualdade de gênero na composição de seus órgãos legislativos.
A CBF ainda não tem nenhuma mulher no seu conselho de administração. Não há quase nenhuma mulher na sua assembleia legislativa e administração senior. Não há nenhum caminho relevante para ex-jogadoras entrarem na CBF e ajudarem a gerir o próprio jogo delas.
Nos últimos anos, nós temos vivido e assistido horrorizadas enquanto as mulheres brasileiras foram negligenciadas pela CBF. Os eventos da última semana — onde as vozes das jogadoras foram ignoradas, e algumas agora estão se aposentando em protesto — são o resultado de um longo histórico de portas fechadas.
Enquanto alguns validamente escolhem permanecer dentro da equipe e buscam mudar a partir de dentro, o fato de jogadoras terem que fazer tal escolha traz à tona alguns problemas mais graves. Isso nos deixou decididas a falar sobre isso e exigir uma mudança. É chegado o tempo da CBF rever as suas práticas, em linha com as reformas e os princípios da FIFA.
Especificamente nós pedimos a CBF que:
(1) Respeite as reformas internacionais de governança, incluindo mulheres em todos os níveis de tomada de decisão, especialmente no seu Conselho.
(2) Construa um caminho inclusivo para o jogo para as mulheres que praticaram o esporte durante toda a vida delas, por meio da:
a) Criação de um Comitê de Futebol Feminino dentro da CBF, composto de experts em futebol feminino, e que tenha poderes para construir a estrutura de como o futebol feminino deve ser desenvolvido, organizado e gerenciado no Brasil.
b) Criação de caminhos relevantes para mulheres ocuparem posições administrativas, gerenciais e como técnicas, dentro da CBF.
Nós somos gratas pela oportunidade de ter jogado pelo nosso amado país por tanto tempo. Nós permaneceremos gratas pelo resto das nossas vidas pela chance de servir nossa nação e nossa equipe, e de chegar tão perto de realizar nosso sonho de sermos campeãs do mundo. As ações que estamos tomando agora são motivadas por um desejo de que todas as mulheres e meninas que seguem os nossos passos possam ser capazes de alcançar mais do que nós, dentro e fora do campo.
Marcia Tafarel
Sissi do Amor Lima
Juliana Ribeiro Cabral
Miraildes Maciel Mota (‘Formiga’)
Cristiane Rozeira
Francielle Manoel Alberto (‘Fran’)
Rosana dos Santos Augusto
Andréia Rosa de Andrade”