UFPR abre inscrições para o Provar (Franklin de Freitas)

O número de estudantes com 40 anos ou mais em instituições de ensino superior mais que dobrou nos últimos dez anos, entre 2012 e 2021, segundo dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC). A alta, de 104,9%, foi bem maior do que a variação do total de matrículas: de 43,3%. Entre as causas, especialistas apontam, principalmente, a expansão dos cursos de ensino a distância (EAD) e a crise econômica, que obrigou muitos a tentarem recalcular a rota no mercado de trabalho.

Nos últimos dias, repercutiu nacionalmente o caso de uma estudante de 45 anos que foi alvo de etarismo em vídeo gravado por três colegas. “Era para estar aposentada. Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade”, disse uma aluna. O material, que inicialmente foi publicado para um grupo restrito no Instagram, gerou revolta ao viralizar em outras redes sociais. A vítima, Patrícia Linares, é caloura de Biomedicina na Unisagrado, faculdade particular localizada em Bauru, no interior de São Paulo.

No Paraná, em 2012 haviam 439.292 estudantes matriculados em instituições de ensino superior, dos quais 39.326 (9% do total) eram alunos com 40 anos ou mais de idade.

Dez anos depois, em 2021, o número total de matrículas em universidades, faculdades, centros universitários e instituições federais (IFs) cresceu 43,31%, alcançando um total de 629.568 estudantes. Já o número de universitários com 40 anos ou mais avançou 104,9% no mesmo período, com 80.581 alunos – o equivalente a 12,8% do total de matriculados.

Ainda segundo os dados do MEC, o aumento no número de matrículas ocorreu em todas as faixas etárias mais avançadas, com especial destaque para os grupos de 60 a 64 anos (130,8%), de 40 a 44 anos (118,3%) e de 55 a 59 anos (118,1%).

Já em termos proporcionais, a maior parte dos universitários mais velhos tem entre 40 e 44 anos (49,4% do total), de 45 a 49 anos (27,1%)e e de 50 a 54 anos (13,9%).

Ensino a distância impulsiona crescimento de alunos mais velhos
Em entrevista ao Estadão, Mozart Ramos, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), explicou que o crescimento no número de alunos com mais de 40 anos decorreu, principalmente, do avanço da modalidade de ensino a distância, principalmente em universidades particulares.

No Brasil, por exemplo, seis de cada dez ingressantes do ensino superior entraram nos chamados cursos EAD. Essa mudança no modelo de ensino, segundo Ramos, alterou de forma direta o perfil dos alunos. “O aluno do EAD é, geralmente, um estudante mais velho e que já trabalha. Portanto, é um caminho mais factível para conciliar estudo e trabalho”, disse o pesquisador.

Mas esse não é o único ponto que justifica o aumento em faixas etárias com mais de 40 anos. Um outro motivo, continua Ramos, é a crise econômica que atingiu o País nos últimos anos e elevou as taxas de desocupação. “Com a pandemia, muita gente perdeu emprego ou perdeu renda”, afirmou. Segundo ele, isso, por um lado, aumentou a evasão de quem não conseguiu mais arcar com as mensalidades da faculdade, mas também empurrou alunos para salas de aula na esperança de realocação.


“Não vou desistir”, diz aluna alvo de etarismo por parte de colegas
Na última terça-feira a estudante Patrícia Linhares celebrou seus 45 anos de vida. Ela, que foi alvo de deboche por parte de três colegas de turma de uma universidade particular, se pronunciou pela primeira vez sobre o caso e afirmou que não vai desistir de seu sonho, que é se formar em biomedicina.

“É um sonho de adolescência que nunca pude realizar porque tive várias interrupções de estudo. E agora também não vou desistir, o sonho não morreu dentro de mim”, afirmou a universitária, que começou a graduação em 27 de fevereiro e está no primeiro ano da faculdade.

A história dela, inclusive, bate com a análise de Mozart Ramos. É que Patricia teve, por 11 anos, uma loja. Com a pandemia, porém, teve de fechar o estabelecimento. “Fui pra casa e fiquei pensando o que eu poderia fazer pra mudar minha história. Eu tinha que vivenciar outras coisas. Todo mundo se reuniu pra me ajudar e comecei esse ano a graduação”, conta ela, que escolheu biomedicina pela influência da antiga profissão da mãe, que era enfermeira.