No último domingo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sentiu por algumas horas a sensação de liberdade. Fontes da Polícia Federal relataram que o petista chegou a arrumar as malas. Recolheu os pertences imaginando que de fato deixaria a carceragem da superintendência da PF em Curitiba depois de cumprir apenas 90 dos 4.380 dias a que fora condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na ação penal envolvendo o apartamento triplex em Guarujá, no litoral de São Paulo.  
Embora estivesse reticente sobre a liberdade, por algumas horas Lula se viu fora da carceragem. No entanto, por vezes se mostrava reticente da efetividade da decisão proferida em Porto Alegre pelo desembargador Rogério Favreto do Tribunal Regional Federal da 4º Região. O magistrado, aliás, é um velho companheiro de Lula. Por 20 anos Favreto foi filiado ao Partido dos Trabalhadores e ocupou cargos na gestão de Lula e Dilma Rousseff (PT) na presidência da República além de assessorar petistas do alto escalão da legenda como no caso dos ex-ministrosTarso Genro (Justiça) e José Dirceu (Casa Civil). Ou seja, presentes todos os elementos cabíveis para suscitar suspeição de julgar o caso. 
Aliás, todo o processo que culminou na desastrada decisão de Favreto tem suspeita de vícios. A começar pelo ingresso de um novo habeas corpus, impetrado por deputados do PT, justamente 32 minutos depois do início do plantão de Favreto – demonstrando a real intenção que o “companheiro” e agora magistrado pudesse apreciar o caso. O argumento para tal pedido também beira o amadorismo. Basicamente suscitam como “fato novo” a pré-candidatura de Lula à presidência em 2018. 
A partir daí, o domingo transcorreu numa verdadeira guerra de decisões judiciais ora mandando soltar Lula ora mantendo-o preso na PF. Nem vou entrar no mérito da usurpação de função pública, já que contrariou diametralmente decisão da turma do próprio TRF4. O final desta queda de braço é conhecido. O ex-presidente chega hoje ao nonagésimo quarto dia de prisão – restando ainda longos 4.386.
Este foi apenas um e não o último episódio de uma saga que Lula e o PT traçaram para libertar o ex-presidente e fazer com que ele dispute as eleições de outubro. O PT está disposto a tudo e vão jogar todas suas fichas na grande e última aposta: o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Antonio Dias Toffoli. A estratégia será a mesma, só que mais ousada já que desta vez será na mais alta Corte do Brasil. 
O roteiro já está desenhado: no final deste mês Toffoli vai assumir a presidência do STF quando o órgão estará em recesso. Isso quer dizer que toda e qualquer demanda que chegue na Suprema Corte será apreciada por Toffoli. E assim como fizeram no TRF4, aliados de Lula vão ingressar com um novo pedido de soltura do ex-petista. As semelhanças não param por ai. Toffoli, assim como Favreto, tem ligação umbilical com o PT. 
Para resumir, Toffoli foi consultor jurídico na CUT, assessor jurídico da liderança do PT na Câmara dos Deputados,foi subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil no primeiro governo de Lula, e, como se precisasse de mais, atuou como advogado de três campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva. 
Em tempo, só para explicar, Toffoli pode assumir a presidência da Corte Máxima do país porque o atual presidente Michel Temer (MDB) estará em missão oficial fora do país. Na linha sucessória, assumiria o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia (DEM), sendo sucedido pelo presidente do Senado, senador Eunício Oliveira (MDB), e em seguida pelo presidente do STF, ministra Carmem Lúcia. Como Maia e Eunício vão disputar a eleição de outubro não podem por força de lei assumir a presidência da República, abrindo o caminho para Carmem e, conseqüentemente, para Toffoli, que é vice-presidente do Supremo, assumir o comando do Poder Judiciário do Brasil. 
Mas se Temer não viajar? Carmem Lúcia não assume, tampouco Toffoli o comando do Supremo. Aí sim, viria a grande e última aposta de Lula: em 12 de setembro, Toffoli vai tomar posse como presidente do STF para o biênio 2018/2020. E mesmo a menos de 30 dias da eleição presidencial, Lula acredita que enfim estará livre e poderá disputar a presidência da República novamente. Isso claro, contando com uma decisão favorável do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para validar sua candidatura. Hoje Lula está inelegível por causa da condenação no colegiado do TRF4, mas o PT tem outro plano, este junto ao TSE, para permitir que Lula dispute a eleição. 
O que se conclui é que estamos diante de um grande plano do PT nas mais diversas esferas (TRF, TSE e STF) para fazer de Lula candidato à presidência da República. Mesmo que para isso tenham que rasgar a Constituição Federal.