Arquivo pessoal/Marco Assef – Marco Assef

Marco Assef tem 35 anos de jornalismo esportivo. Trabalhou em rádios, tvs e jornais. Sentiu na pele as mudanças radicais na profissão e no meio esportivo das últimas décadas. E nunca deixou de acreditar na força do rádio. 

Apaixonado pelo futebol, colecionou prêmios na imprensa paranaense. Com conhecimento de causa, segue defendendo o 'jornalismo raiz' e lamentando a 'pasteurização' da informaçõs nos clubes. 

Nessa entrevista da série Craques da Imprensa, Marco Assef fala todos esses assuntos. E muito mais. 

Entrelinhas do Jogo — Como virou jornalista esportivo? Era sonho de infância ou acabou decidindo depois?
Marco Assef — Na infância e juventude eu era fanático por futebol. Daqueles que sabia dar a escalação completa e reservas dos principais clubes brasileiros. A gente se informava pelo rádio ou pela Revista Placar, que era a bíblia de quem curtia futebol naqueles tempos. Jogava futebol de botão e anotava as escalações, fazia fichas técnicas dos jogos, narrava, comentava e fazia as entrevistas, tudo sozinho. Como jogar bola, infelizmente nunca foi meu forte – a natureza não colaborou comigo – virei um ‘nerd’, me informando de tudo que eu podia, com tudo que chegava ao meu alcance. Sempre estava muito bem informado. Já tinha a vontade de fazer jornalismo desde os 14 anos e a área escolhida certamente seria a esportiva. Já no segundo ano da faculdade comecei a trabalhar e não parei mais. Comecei com 18 anos. Em 2019 completo 35 anos de atuação profissional. Mudei de áreas algumas vezes porque não gosto de rotina, mas o jornalismo esportivo ainda é a paixão original, o primeiro amor.

Entrelinhas — Você já trabalhou em rádio, TV e jornal impresso. O jornalismo esportivo é diferente em cada um desses meios? Ou o jornalista precisa “trocar o chip”, passar por uma adaptação em cada veículo?
Assef —
O jornalismo esportivo é diferente em cada meio. O básico é igual. É questão de formação do jornalista, como ética, saber escrever, apurar a informação adequadamente, entre outras coisas. Mas cada veículo tem um jeito específico de se fazer. O jornal requer mais apuração. No rádio e na TV vale muito o conteúdo, mas a forma de levar a informação ao seu público é fundamental. Agora tem gente atuando apenas em redes sociais, no youtube, já é um caminho a mais para quem está na área esportiva.

Entrelinhas — Você pegou aquela época em que não havia assessoria de imprensa nos clubes e os jornalistas tinham livre acesso aos clubes. Como era o jornalismo naquela época? O que melhorou e o que piorou nesse cotidiano de cobertura dos clubes de futebol?
Assef —
Peguei a fase em que não havia assessoria de imprensa nos clubes e fui o primeiro assessor de imprensa de clubes de Curitiba, ainda nos anos 80. Depois voltei no fim dos anos 90 mais uma vez. Você conversava com quem você queria, os dirigentes, jogadores e técnicos eram acessíveis. Era jornalismo de verdade. Você criava suas fontes e conseguia material exclusivo, algo que quase não se vê mais hoje em dia. Mas também era tudo muito esculhambado. No rádio você entrevistava jogador embaixo do chuveiro, os jogadores não tinham privacidade. Neste aspecto as assessorias organizaram melhor, mas exageraram na dose. Hoje as assessorias de imprensa são responsáveis pelo distanciamento da imprensa com os clubes e consequentemente dos clubes com a torcida. O repórter fazia diversas entrevistas por dia. Atualmente faz apenas uma ou duas perguntas numa coletiva, o material de todos é igual. Pasteurizou demais a informação esportiva. Hoje é tudo muito fechado, não pode ver treino, não pode entrevistar quem você quer. O futebol ficou mais chato e sisudo. As assessorias erraram na dose. Era necessário organizar, mas não transformar os clubes em fortalezas inacessíveis. Espero que algum dia os assessores dos clubes se toquem que estão atrapalhando mais do que ajudando o futebol.

Entrelinhas — Qual o melhor momento que já viveu na carreira?
Assef — Fiz coberturas internacionais, mais com a Seleção Brasileira, como Copa América, mas o grande momento de quem gosta de futebol é uma Copa do Mundo. Minha experiência foi inesquecível, pois fui cobrir a Copa dos Estados Unidos, em 1994 e o Brasil foi campeão. É algo difícil de descrever. Era a satisfação do jornalista com o bom trabalho realizado e a do torcedor vendo de perto sua seleção campeã do mundo. Cobri a Copa de 1994 pelo rádio, enviando boletins e pelo jornal, enviando textos por fax, pois a internet ainda dava os primeiros passos naqueles tempos. Então era uma tarefa dobrada, mas foi algo muito gratificante, inesquecível mesmo.

Entrelinhas — Qual a melhor parte de ser jornalista esportivo?
Assef — As amizades que você faz ao longo da trajetória, seja com os colegas de profissão, seja com as pessoas envolvidas no esporte. Quando era setorista dos clubes, sempre busquei um distanciamento profissional. Você tem que ter a necessária isenção para elogiar e para criticar sem ser cobrado por isso. Outra vantagem da profissão é viajar muito, o que eu sempre gostei. Conheci lugares que, se não fosse o futebol, talvez nunca tivesse ido. Isso no Brasil e no exterior.

Entrelinhas — E qual a parte mais difícil, mais complicada na profissão?
Assef — É você não ter vida social. Quantas vezes perdi festas de amigos ou da família porque tinha um jogo para cobrir ou uma viagem para fazer. Grupos de amigos, muitas vezes, marcavam encontros de acordo com a tabela do campeonato em andamento para saber se eu poderia ir ou não. Mas com o tempo a gente se acostuma, mas seus amigos e parentes ficam privados da sua companhia, muitas vezes.

Entrelinhas — As redes sociais provocaram mudanças no jornalismo esportivo e na sua maneira de trabalhar?
Assef —
Primeiro que você tem contato mais direto com a torcida. Tem muita gente do jornalismo esportivo que abandonou algumas das redes sociais por causa das cobranças e do comportamento grosseiro e agressivo de muitos torcedores. Por um lado o torcedor hoje é muito bem informado. Se você não se preparar direito, muitas vezes o público que você deveria informar, acaba sendo mais bem informado do que você. É preciso apurar ainda mais uma informação e especialmente no caso do rádio – agora também com transmissões com imagem nas redes sociais – a fase do ‘eu acho’ morreu. Tudo que você informar deve ser com a maior certeza possível. Quem não está bem informado no jornalismo esportivo atualmente, acabará expurgado do meio mais cedo ou mais tarde.

Entrelinhas — Já teve problemas com os chamados 'haters'? 
Assef —
Desde antes da internet e das redes sociais. No rádio, quando você cobria um clube e ia fazer jogo no estádio do adversário, tinha gente que ficava te seguindo pelo alambrado o jogo todo, te xingando e te hostilizando. Trabalhei por 11 anos na Tribuna do Paraná e já foi hostilizado por carta de leitor, antes de surgir a internet. Hoje em dia, então, é quase uma rotina diária. Alguém ter opinião diferente da sua é normal, mas partir para a grosseria e a falta de educação não dá para tolerar.

Entrelinhas — Pergunta tema livre. Que pergunta faltou aqui que você gostaria de responder?
Assef —
Eu me preocupo muito com o futuro do rádio esportivo. As equipes de transmissão de jogos estão desaparecendo. O anunciante abandonou o rádio e não tem noção do poder que este veículo tem, como força para a divulgação do seu produto. É comunicação direta, barata e com retorno imediato. Pode ser que seja uma evolução natural do futebol atual e do domínio que a televisão tem das transmissões, mas amo o rádio e me preocupo com o seu futuro. Hoje a TV faz o tipo de transmissão que o rádio fazia antes, cobrindo desde a chegada dos clubes no estádio e fazendo as entrevistas pós-jogo, mas a emoção da transmissão de jogos pelo rádio é insuperável. Quero deixar registrado aqui meu amor pelo rádio, meu apoio aos colegas que resistem no dia-a-dia das transmissões esportivas e que a transmissão esportiva, o futebol pelo rádio, nunca deixe de existir, por mais mudanças que possam surgir ainda.

PERGUNTAS RÁPIDAS, RESPOSTAS CURTAS
Melhor jogador do mundo na história: Essa é fácil: Pelé. Insuperável. O Pepe, que foi companheiro dele no Santos, diz que ele é de outro planeta. Acho que ele tem razão.
Melhor jogador do mundo na atualidade: Cristiano Ronaldo. Estamos falando dentro de campo.

Três melhores jogadores do futebol paranaense em toda história: Vou falar dos que eu vi, pois falam de Fedato, Miltinho, Jackson, Caju e outros, mas esses eu não vi. Sicupira, Cláudio Marques e Zé Roberto.

Três melhores jogadores em atividade em clubes paranaenses hoje: Wilson (Coritiba), Dagoberto (Londrina) e Pablo (Atlético)
Melhor técnico do mundo na história: Por sua história na seleção vou destacar o Zagallo.
Melhor técnico do mundo na atualidade: Pep Guardiola. Depois da Copa de 2014 queriam que ele fosse técnico da seleção brasileira, mas os técnicos brasileiros se fecharam e a CBF desistiu.
Maior time da história do futebol: o Brasil da Copa de 1982.
Maior time da história do futebol paranaense: Difícil citar só um. O Coritiba hexacampeão nos anos 70; o Atlético de 1982, com Washington e Assis e o Paraná do começo dos anos 90, com Régis, Adoilson, Saulo, etc.
Melhor jogo de futebol que já assistiu: Era pequeno na Copa de 70, mas vi o videotape completo depois: Brasil e Itália, final da Copa de 1970.

Clubes do coração: Quem me conhece sabe qual é, mas prefiro não falar publicamente.
Ídolos fora do esporte: Milton Nascimento, Nelson Mandela.
Esportes que já praticou: Sempre fui um mau jogador de futebol, apesar de insistir em jogar. No handebol fui campeão na escola com 12, 13 anos.
Hobbies: Cinema, música, em especial música popular brasileira.
Locais preferidos em Curitiba: Nossos parques são todos ótimos. Estar com os amigos, batendo um papo. Isto pode ser em qualquer lugar.

Três melhores jornalistas esportivos brasileiros: Paulo Vinícius Coelho, pelo seu conhecimento; João Saldanha, tinha opinião forte e era versátil; Tostão, foi um craque no campo e é preciso nas análises em seus textos.
Três melhores jornalistas esportivos paranaenses: Ayrton Baptista Jr., uma enciclopédia ambulante, muito fera; Fernando César, o melhor narrador que já atuou em Curitiba e Josias Lacour, o melhor repórter esportivo do rádio dos últimos 40 anos.

Currículo: Marco Antonio Assef Bruginski, o Marco Assef, nasceu em Curitiba em 18 de fevereiro de 1966, tem 52 anos. Estudou no Colégio Lins de Vasconcellos, em Curitiba; no Colégio Santo Antônio, em Blumenau (SC) e Colégio Dom Bosco, de Curitiba. Ingressou no curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná aos 16 anos e se formou aos 20 anos. 

Começou a trabalhar no jornalismo aos 18 anos. Atuou em rádios (Independência, Cidade, Paraná, Paraná Educativa, CBN, Cultura, 91 Rock, etc.), jornais (O Estado e Tribuna do Paraná; Gazeta do Povo; Diário Popular; Folha de Londrina; Jornal do Ônibus, Diário Indústria & Comércio, etc.) e TVs de Curitiba (RIC, Band, Rede Massa), na área esportiva e em outras editorias, fez trabalhos freelance para a Revista Placar, Jornal O Estado de São Paulo e para o Sportv. Também atuou em assessorias de imprensa no esporte (Coritiba, Clube Curitibano) e fora dele (Polícia Militar do Paraná). 

Foi premiado como melhor repórter esportivo de jornal em 1991, 1993 e 1994 no Troféu Plumas e Paetês, da jornalista Sonia Nassar; Destaque da Imprensa – Melhores do Ano 1997 pelo Jornal do Estado; melhor repórter de rádio em 1994 no Troféu Plumas e Paetês; Destaque esportivo 2014 e 2016 pela Federação Paranaense de Motociclismo. 

É divorciado, tem um filho, João Gabriel, de 19 anos, atualmente trabalha em sua própria empresa de assessoria de imprensa, executando textos para publicações de ‘house organ’ e textos para livros. Apresentou até setembro um programa na Rádio Cultura de entrevistas sobre esporte e cultura.