Eu não gosto de dar conselhos para mães/pais porque criar os filhos dos outros é a coisa mais fácil do mundo. E também porque meu filho tem (quase) três anos: o que é que eu sei dessa labuta? Sou ainda uma iniciante. Mas isso aqui não é bem um conselho para mães e sim algo que percebi importante na forma como eu mesma encaro a vida.

Começo com uma história: quando eu tinha uns, acho, seis anos meus pais contrataram a mulher de um conhecido para dar aulas de violão e órgão para mim e meu irmão mais velho. A moça deu uma olhada em mim e decretou: tem dedos muito curtos. O resultado foi que nos meses seguintes passei mais tempo assistindo ela ensinar meu irmão do que com a mão no teclado.

Pois bem, quando aprendi a tocar, anos depois, estudando numa escola de música, me dava um prazer secreto pensar que provei errada aquela sentença. Ela disse que eu não iria tocar, e eu toquei.

Rebelde é aquele que desafia o status quo. E o que nos impõe o status quo? Aquilo que determinam para nós. O que vamos ser por conta da nossa posição social e econômica, da cor da nossa pele, nosso gênero, nossa opção sexual, porque não somos inteligentes ou não nascemos para isso ou aquilo. Quando essa noções pré-determinadas nos são apresentadas queremos muito fazer parte delas, nos encaixar, ser parte de algo. Isso é normal. Quem é que quer ser o menino tímido no canto da sala?

Ser parte do grupo não é ser legal? Veja nossos sitcoms preferidos: Friends, How I met your mother, Grey’s Anatomy etc. São todos sobre pertencer a um grupo (alguém mais romântico vai dizer que é sobre amizade).

Concordo. Fazer parte de um grupo, ser aceito é muito bom. Nos dá conforto. É se sentir parte de algo maior que nós mesmos, um pertencimento que amplifica nossa própria existência.

Mas ser parte de algo porque nos conformamos com um papel que nos é imposto não é uma ação sem prejuízos. Se nos adequamos é porque abrimos mão de algo que nos pertencia, que era parte de nós e que não deixa de existir, mas passa a nos incomodar.

Já parou para pensar em quanta gente já sofreu porque viveu sua sexualidade no armário, porque não expôs suas ideias, porque se conformou com limitações impostas pelos outros?

É aí que o rebelde se mostra mais sábio. Rebelde é a pessoa que não aceita mudar para ser aceita, e sim espera que os outros a aceitem como ela é. Mas se não aceitarem, tudo bem, até porque ela não sabe muito bem o que é, mas está disposta a descobrir.

O rebelde sabe que o mundo pode ser melhor. E que as coisas não precisam ser como são. Especialmente se elas são injustas. E se ele não se sente respeito dentro da dinâmica daquele grupo.

O rebelde não acha que está certo. Ele só não aceita que o decretem errado só porque ele é o único disposto a fazer as coisas de forma diferente. Ele não quer ser outra pessoa. Ele só quer saber como faz para ser ele mesmo.

O rebelde está sempre disposto a correr riscos. E é por isso que volta e meia um rebelde se torna mainstream. Daí as ovelhas iguais do rebanho correm dizer que o sucesso dele é a confirmação de que elas estavam certas, que são elas que agora aceitam o rebelde.

Mas a rebeldia não está em busca do sucesso ou da aceitação. Ela quer é desafiar os limites, é pra isso que ela vive. Ela sabe que errar é parte do caminho em direção ao certo.

O rebelde sabe aceitar que nem sempre as coisas vão ser fáceis ou dar certo. Mas que tudo bem. O importante é a jornada e a sensação de estar em busca de um propósito e não do aplauso vazio.

O rebelde sabe que quem muda o mundo é quem sai do caminho e não quem segue o rebanho de cabeça abaixada.

Não digo que abraçar a rebeldia seja um caminho fácil. Às vezes penso que seria melhor para meu filho ser parte do grupo e sair nas selfies sorridentes como se nada de mais importante houvesse no mundo.

Em geral esses pensamentos aparecem quando me sinto sozinha, mas daí vejo que há do meu lado pouca gente, mas são pessoas incríveis, sensacionais. Não é sempre fácil conviver com elas. Mas elas me desafiam a ser uma pessoa melhor. E, principalmente, elas me lembram constantemente que se não posso fazer algo é porque não tentei, não porque não posso.

Meu mundo é menos povoado, mas é mais cheio de possibilidades. Ele encerra a expectativa de que as coisas não são como são, mas podem ser como queremos que elas sejam. E quando a vida parece difícil, não é o grupo que me dá forças (muito embora eu seja extremamente grata aos meus amigos e toda energia que eles me dão), e sim a certeza de que vivo com propósito e isso não será em vão.

E no meio do caminho nós que insistimos em desviar da trilha marcada sempre teremos o prazer de perceber que nos disseram não, que não era possível, mas nós fomos lá e fizemos. E isso é bom para c$#%&*.