O kit recebido pelo brasileiro no voo. A mensagem diz: 'Olá. Sou uma menininha de 8 meses e esse é meu primeiro voo! Normalmente sou um bebê feliz, mas gostaria de me desculpar com antecedência se eu ficar inquieta, assustada ou chateada porque meus ouvidos doem. Mamãe e papai estão fazendo o possível para me acalmar, e esperamos que esses doces e tampões de ouvido ajudem a tornar sua viagem comigo um pouco mais fácil. Tenha um bom voo!' (Foto: Jacson Boeing/Arquivo pessoal)

Reportagem no site G1 revela que a nova moda nos Estados Unidos é os pais de crianças pequenas que choram durante o voo distribuírem um kit de desculpas aos passageiros. A mensagem junto com um dos kits diz “.Olá. Sou uma menininha de 8 meses e esse é meu primeiro voo! Normalmente sou um bebê feliz, mas gostaria de me desculpar com antecedência se eu ficar inquieta, assustada ou chateada porque meus ouvidos doem. Mamãe e papai estão fazendo o possível para me acalmar, e esperamos que esses doces e tampões de ouvido ajudem a tornar sua viagem comigo um pouco mais fácil. Tenha um bom voo!”. Pode até parecer uma atitude fofa, mas não passa de um mea culpa absurdo.

Confesso que quando era mãe de primeira viagem me incomodava um pouco quando a Maitê chorava no avião, na loja, na fila do mercado. Eu me sentia envergonhada, mas logo me lembrava do Dennis Carvalho, sim o ator. Explico: uma vez quando minha irmã era pequena, como 1 ano e meio começou a fazer muita bagunça no avião bem na hora que serviam o almoço. Ela gritava e batia na mesinha. Aquela foi a primeira vez que vi minha mãe incomodada com uma bagunça dela em pública. Estava até com as bochechas vermelhas. Eu, do alto dos meus seis anos, perguntei porque ela estava estranha. Ela cochichou no meu ouvido que estava vergonha porque o Dennis Carvalho estava olhando ali do lado. Contou também que gostava tanto do Dennis Carvalho quanto eu gostava do pessoal do Sítio do Picapau Amarelo. E minha irmã lá botando para quebrar. De repente, Dennis Carvalho, o galã da época, sorriu e disse: “Criança é uma bagunça mesmo. Vamos brincar então”. Ele começou a fazer palhaçada, jogou uns copos e todos se acalmaram. Inclusive a minha mãe que ficou meio paralisada.

Dennis Carvalho tinha razão, e isso lá entre 1979 e 1980, criança é uma bagunça mesmo.  E se em um vôo, os ouvidos dos adultos doem e alguns sentem enjôos, outros se incomodam com o pouco espaço,  imaginem uma criança que não sabe porque está ali, porque é apertado e porque o ouvido dói? Claro que os pais fazem tudo para que a criança esteja bem, até porque garanto que os mais preocupados em que seus filhos não sofram são os próprios pais.

Será que os incomodados (no avião, no supermercado, no consultório médico, no ônibus) não têm filhos? Netos? Sobrinhos? Uma criança querida sequer no mundo? E se não têm, os incomodados já foram uma criança e provavelmente fizeram algum escândalo em algum lugar.

Acho tão irônico esse tipo de constrangimento em tempos de luta contra qualquer tipo de preconceito, em tempos onde as fotos de crianças são campeãs de curtidas nas redes sociais da vida.

Os pais que têm filhos pequenos devem então ficar em casa? Não podem viajar com a família, nem ir ao shopping para que o possível choro não incomode ninguém?  Não, esse não é o mundo da inclusão que vivemos.  Não é um kit de desculpas que a sociedade precisa, mas sim um manual de como viver em comunidade.

 

O Dennis Carvalho era mais ou menos assim