Tão comum quanto o desejo de ser mãe é o medo de ser mãe. Esse mundo encantador, mas misterioso, relatado como cor-de-rosa e sombrio ao mesmo tempo. E a dúvida sobre a decisão correta para encarar esse desafio – e de quando fazê-lo – costuma tirar o sono de muitas mulheres que, ao mesmo tempo em que nutrem o desejo de embalar uma criança nos braços, temem perder suas próprias identidades.
Acho que não existe receita, pois ser mãe não é fazer um bolo, que se não der certo você joga tudo fora. Mas o que percebo, a partir da minha própria experiência e o que vejo entre as muitas mães amigas com as quais convivo e troco experiências é que, a partir do momento que você diz “sim” para a maternidade, tudo se ajeita. Sim, sou uma otimista de carteirinha, que vibra cada vez que escuta a palavra “mãe”.
Vida na barriga: O corpo muda, a mulher ganha peso, perde o ritmo e vê seus contornos darem forma à outra vida. Sim, seu corpo vai mudar. Mas isso não quer dizer “embarangar”. Enquanto os quilos a mais forem uma realidade, não esqueça que a barriga ou o próprio bebê não te impedem de usar batom e manter o brilho nos olhos. Maternidade não tem nada a ver com preguiça de se arrumar. Na prática, você vai mesmo é querer que a cada consulta pré-natal o obstetra diga que está tudo certo, que o bebê está bem.
Vida real: Depois da maternidade, a ficha cai: “e agora, o quê eu faço”. Primeiro, respire fundo e tente lembrar de todos os livros e cursos que encarou durante a gestação. Vale ligar pra mãe, pra vó, pras amigas e recorrer à ajuda da unidade de saúde se não souber o que fazer. Valorize essas dicas preciosas, de quem só quer ajudar e tem um pouquinho mais de experiência que você – bem diferente daquela gente palpiteira que te aborda na fila da padaria pra dar consultoria. Mas eu garanto, ser mãe é instintivo. Na hora do aperto, a gente descobre o que fazer e esquece do medo. O bebê não vai quebrar na hora do banho e colocar a roupinha naqueles bracinhos aparentemente frágeis é só uma questão de hábito. As mamadas durante a madrugada, tão exaustivas, vão se espaçar rapidamente e em pouco tempo o serzinho estará dormindo feito um anjo, a noite toda.
Vida social: Passados os primeiros 30 dias de adaptação e fortalecimento do sistema imunológico do bebê, que já recebeu as primeiras vacinas, você vai perceber que a vida continua, com algumas “pequenas adaptações”: um bebê conforto, um carrinho modelo tranqueira, uma bolsa cheia de fraldas e roupas, entre outros acessórios. Se você costumava sair com frequência, é bom e saudável retomar o ritmo aos poucos. Claro que não dá pra ir pra uma baladona com a criança a tiracolo. Mas o mundo está começando a entender essas necessidades. O número de bares e restaurantes com espaço kids aumentou muito nos últimos anos e estes locais se transformaram em verdadeiros pontos de encontro para “pais e mães frescos”. Outra opção bem legal é reunir os amigos em casa.
Vida profissional: A passos um pouco lentos, infelizmente, o mundo corporativo está começando a entender a importância de garantir e ampliar os direitos da mãe para que ela possa curtir a nova fase da vida. Grandes empresas e órgãos públicos já ampliaram a licença-maternidade para seis meses, que por lei é obrigatória apenas até o final do quarto mês. Voltar ao trabalho pode ser um choque de realidade porque você terá que decidir quem será responsável pelos cuidados do bebê enquanto está fora. Avó, babá, escolinha, creche, etc., qualquer alternativa é válida desde que você esteja segura e com o coração tranqüilo. Inclusive parar de trabalhar e se dedicar ao bebê por um tempo, se você puder se dar a este luxo. E, ao voltar ao trabalho, às vezes, as coisas podem não estar do jeito que você deixou e encontrar outras pessoas fazendo o que você fazia. É uma possibilidade e você terá que ter jogo de cintura para se readaptar. Em último caso, emprego você encontra outro.
Vida financeira: Às vezes, por questões biológicas, não dá tempo de esperar a vida financeira estar em perfeita ordem para encarar o projeto maternidade. Claro que um bebê precisa de um mínimo de estrutura e segurança, mas nos primeiros seis meses de vida, ele vai precisar basicamente de leite – de preferência, o materno, que é de graça – e de fraldas. Chás de bebês são uma forma festiva e bem animada de fazer um bom estoque.
O que eu quero dizer com tudo isso é simples: existe vida, e bem animada, depois da maternidade. Ela apenas ganha outros contornos, outros ritmos e umas cores bem mais alegres e vibrantes. Em pleno século XXI, ter filhos não é mais uma imposição social, apesar da cobrança que ainda paira no ar. Deve ser uma opção pra quem está com o coração aberto a encarar novos desafios e a abrir mão da tranqüilidade das manhãs de domingo. A quem me pergunta se vale à pena, eu só digo uma coisa: “SE JOGUE!”.