Eu trabalho com tecnologia. Curto tecnologia. Gasto um bocado do meu suado dinheirinho com gadgets e computadores. Era razoável esperar que eu fosse uma daquelas mães que iriam adorar comprar um monte de traquitanas tecnológicas para cuidar do filho, né? Pois bem, até tentei, mas minha versão mãe é muito, muito simples.

Gente, vou confessar. Quando fiquei grávida gastei horas na internet procurando todo tipo de “acessório”. E, sim, comprei muitas coisas. Por exemplo:

–       body que muda de cor quando o bebê tá muito quente: olha que maravilha. Ao invés de passar perrengue para descobrir se o baby está com calor, essa maravilhosa peça de roupa promete acabar com dúvidas na hora. É só olhar a roupa e ver se ela perdeu o tom azul e ficou branca. Excelente, não? Pois é, só que não. Primeiro porque não dá para deixar o bebê o tempo todo vestido com o tal body (e ele é caro demais para compor o guarda-roupa todo só com peças assim). E você vai apelar para outras estratégias mais simples e baratas de descobrir se o bebê está com calor do que trocar a roupa da criança, o que é sempre um desafio quando a criança é pequena (e depois, quando ela fica grande e super agitada, também).

–       aquecedor de lenço umedecido: já falei disso aqui. Comprei porque me disseram que era “essencial” no frio curitibano. Daí o B desenvolveu uma alergia a lenço umedecido e o aquecedor foi parar no fundo do armário. Agora limpamos a bundinha dele com algodão e água morna.

–       “interpretador” de choro: tem o aparelho e tem o app para iPhone/similares. Comprei ambos. Tá, pode rir de mim. Mas, veja bem, existia toda uma explicação pseudo científica sobre como o trambolho funciona. Bebês emitiriam sons com diferentes  frequências dependendo do que os incomodava. O aparelho promete entender essas diferenças e traduzir para você. Não funciona. Ponto.

–       App que ajuda a criança a dormir: esse até funcionou. Ele emite um som que, supostamente, imita o barulho que o bebê costumava ouvir no útero. O B dormiu várias vezes ao som de um sintetizador de aspirador. Mas daí o negócio foi perdendo a eficácia. Agora o B dorme ouvindo música e sendo embalado calmamente.

 

Depois desses fiascos todos passei a ser mais criteriosa. E descobri que, na realidade, o que os gadgets vendem é a falsa impressão de que você pode ter controle sobre a maternidade. E, quer saber, não temos controle nenhum. Às vezes o bebê chora e você não sabe porquê. A fralda está limpa, ele está vestido adequadamente e não está com fome ou com dor. Dá uma sensação enorme de impotência e a única coisa que você pode fazer é ficar com o bebê no colo e esperar que ele se acalme.

 

Ou você precisa fazer o bebê comer e ele simplesmente não quer. E se isso pudesse ser mais simples? E se, quando você precisar ir ao banheiro, tomar um banho, atender o telefone ou simplesmente sentar um pouco você tivesse algo para prender a atenção da criança para que ela não chore?

 

Daí você encontra uma série de produtos que te prometem exatamente isso: tranquilidade, controle, a chance de dar conta de cuidar do bebê. Coisas como:

 

–       máquina de fazer papinha: é cara e cozinha legumes e carnes no vapor. E depois liquifica tudo. Sabe qual o problema? Muitos nutricionistas e médicos recomendam justamente que você não liquidifique a comida do bebê, para ele aprender a sentir texturas e sabores.

–       Tablets: sim, desde muito cedo os bebês aprendem a mexer nesses gadgets. Mas, primeiro, não faz sentido gastar mais de mil reais para dar um aparelho desses para um bebê. Segundo, sabe o que os bebês de mais de seis meses mais gostam de fazer? Jogar coisas no chão. Imagina só aquele iPad novinho e caríssimo com a tela quebrada… Não dá, né? Ah, sim, você pode gastar mais uns 300 reais e comprar a capa especial que evita danos ao aparelho. Ah, tá. Não faz sentido.

–       Galinha Pintadinha: tá, não é um acessório hi tech. Na realidade, é toda uma miríade de produtos e todos eles prometem a mesma coisa: alguns minutos de sossego. E, vou te dizer: funciona. A criança fica lá, abestalhada, olhando a tela. Quer saber: não quero hipnotizar meu filho. As vezes a gente assiste televisão. E ele gosta principalmente de música. Mas sempre estou junto com ele.

 

O que aprendi com tudo isso: menos é mais. Na dúvida, não compre. Bebês precisam de pouca coisa. Roupas, fraldas, leite, um lugar seguro e limpo para dormir e colo, muito colo. Maternidade é uma profissão low tech. E isso é bom.