Esta é uma resposta tardia a uma provocação. Mas também uma reflexão importante para a minha vida. Será que ser mãe me tornou uma pessoa melhor? Será que ter filhos nos faz pessoas melhores? Bom, acho que esse debate tem como pano de fundo a questão do mérito. Se queremos saber se melhoramos ao virarmos pais temos que necessariamente discutir se temos mérito por nos tornar pais.

Quer saber? Ninguém tem mérito em ter um filho, acho eu. Ter filhos implica numa condição biológica. Somos, ou não, capazes de procriar. Em geral isso não tem nada a ver com o que fizemos ou deixamos de fazer. Querer achar mérito na capacidade de engravidar é, ao mesmo tempo, considerar um demérito a impossibilidade de gerar uma vida. Não faz sentido.

Sim, mas daí o bebê chega e muda completamente a sua vida. E nada mais voltará ao normal. Então podemos dizer que isso, sim, nos muda? Certamente. Mas a mudança é para melhor? Tenho dúvidas.

O que um bebê traz para a vida de um pai, uma mãe, é uma oportunidade. Oportunidade de mudar, de se aprimorar. É como outras tantas oportunidades que temos na vida, como ocasiões boas: formaturas, casamentos, viagens. Ou momentos tristes, como a morte de alguém próximo, uma demissão, o fim de um relacionamento. Se você vai aproveitar ou não essa oportunidade para se tornar uma pessoa melhor, isso é com você.

Eu posso dizer que tenho tentado melhorar desde que me tornei mãe. Estou me alimentando de forma mais saudável. Sou mais responsável com meu dinheiro. Tenho sido mais eficiente no meu trabalho. Mas algo disso me faz uma pessoa melhor? Não sei.

É lugar comum dizer que ser mãe nos ensina a ser menos egoístas. Ao começar a nos preocupar com um novo ser deixamos de pensar tanto em nós mesmos. Sim, isso é verdade. Mas é também certo que deslocamos nosso foco de atenção do nosso próprio umbigo para outro lugar não tão distante assim: nossos filhos.

Eu disse que tenho tentado melhorar depois que virei mãe. Mas também vejo que piorei em muitos aspectos. Tenho menos paciência com os outros, especialmente com quem desperdiça meu tempo ou que causa estresse desnecessário na minha vida. (Eu quero é fazer bem o que tenho para fazer para poder ir para casa com a sensação de dever cumprido e livre para me dedicar ao meu filho sem pendências pairando sobre a minha cabeça). Fico triste sempre que alguém próximo não dá a devida atenção ao B. Virei monotemática. E desenvolvi uma obsessão por brinquedos.

Talvez o desafio não seja virar santa (para combinar com o clichê de mãe, né?). Somos humanos, portanto imperfeitos. Mas temos também a capacidade de mudar. Então talvez o mérito esteja em saber reconhecer que estamos sujeitos ao erro, a sermos maus. E agir sempre que esse mau comportamento for destrutivo. O mérito está na vontade de ser melhor, mesmo que, no fim, a gente acabe sendo mesmo as mesmas pessoas imperfeitas de sempre.