Artigo escrito pela professora Marilia Pereira Rosa foi um dos destaques do programa Professor Inspiração desenvolvido pelo Rotary para a valorização da prática docente

Este artigo tem como foco a formação continuada de professores que atuam nos anos iniciais da Educação Básica. A motivação para a participação no projeto ofertado pelo grupo Rotary, “Professor Inspiração” advém da experiência docente, nas vivências pedagógicas que, ao longo do percurso, suscitam questões que geram inquietude, apresentar caminhos que realmente proporcionem uma aprendizagem significativa mesmo tendo uma formação considerada “tradicional” e tecnicista, pois é da prática e de reflexões sobre ela que emergem situações que necessitam de compreensão.

Nesse sentido a formação continuada de professores e como seu trabalho pedagógico vem sendo realizado no contexto atual, sobretudo como se dá a relação entre ensino e aprendizagem com as novas exigências do mundo contemporâneo, buscando refletir sobre uma educação significativa passa a ser fundamental. Segundo Pimenta (1999) a formação inicial desenvolve um currículo formal com conteúdos e atividades distanciadas da realidade das escolas desenvolvendo contradições à prática docente.

É preciso capacitar o docente para suprir algumas demandas sociais rompendo paradigmas vividos no seu processo de escolarização e formação profissional, sendo assim, desafiado a todo momento a atualizar-se, em relação às práticas docentes, bem como a novos contextos de educação.

Nesse sentido, os programas de formação docente podem ser considerados espaços de relevância, pois, segundo Andrade (2007, p.3), os programas de formação continuada possibilitam o desenvolvimento profissional e atualização de conhecimentos docentes, assim como a análise e reflexão sobre a prática propiciam uma atuação profissional mais alinhada aos novos tempos.

Dessa forma, a inscrição para a participação da formação continuada aqui já citada, ofereceu momentos de reflexão e trocas de experiências entre todos os envolvidos cujos temas tratados foram de grande relevância para todo o trabalho realizado no ambiente escolar. Os temas apresentados foram divididos em quatro módulos: neurociência, relações comportamentais e empatia; educação 5.0 e educação baseada em projetos; gamificação e metodologias ativas e criatividade e empreendedorismo. Tais temas contribuíram para reflexões sobre a teoria e a prática, oportunizando a apropriação de metodologias que proporcionem o aprofundamento e a ampliação para um ensino e aprendizagem mais significativos. Esses aspectos foram potencializados favorecendo ações pedagógicas que integrem os diferentes saberes.

A realidade atual de um mundo globalizado e culturalmente diversificado torna-se um desafio imposto para a sociedade, na qual constantes transformações levam os sujeitos a se adaptarem a novas situações diretamente ligadas as tradições culturais. Esse processo de desenvolvimento social e cultural, na maioria das vezes, é carente de uma reflexão mais crítica, uma vez que o atual sistema capitalista torna as pessoas pensarem que a cultura se restringe a homogeneidade. É preciso romper tal paradigma refletindo sobre o momento histórico em que estamos vivendo, não sendo possível pensarmos em questões de forma isolada e sim em considerarmos a complexidade cultural da sociedade. Assim para CANDAU (2017,p.9):

“a centralidade da cultura na sociedade de hoje não significa reduzir toda e qualquer atividade à cultura. Toda prática social tem relação com o significado, o que implica que toda prática social tem uma dimensão cultural. Práticas políticas e práticas econômicas distinguem-se claramente da cultura, mas todas dependem do modo como o indivíduo as entendem e definem.”


Por este motivo, é de suma importância discussões e reflexões das práticas educacionais para que tal diversidade cultural seja amplamente atendida em uma perspectiva intercultural. Desta forma, a escola, necessita de um planejamento e reestruturação curricular, onde os conteúdos estejam adequados a realidade vivida pelos alunos e os objetivos de formação atendam as necessidades de se formar sujeitos capazes de entender e viver numa sociedade culturalmente diversificada e complexa. Portanto, é essencial considerarmos como princípio, para tal mudança, a formação inicial e continuada dos professores, saindo da limitação de práticas tradicionais, descontextualizadas, sem sentido e significado para uma formação crítica, reflexiva e efetiva. De acordo com SAVIANI (2008, p. 141):


[…] “é justamente a teoria que está empenhada em articular a teoria e a prática, unificando-as na práxis. É um movimento prioritariamente prático, mas que se fundamenta teoricamente, alimenta-se da teoria para esclarecer o sentido, para dar direção à prática. […] A prática, para desenvolver-se e produzir suas consequências, necessita da teoria e precisa ser iluminada.”


E nesse momento de crise educacional, social, econômica e política é de suma importância que a formação dos professores enfoque a práxis educativa, ou seja, a ação, reflexão e ação em torno das vivências cotidianas, objetivando aproximar e interagir teoria e prática pedagógica. Para THADEI (2018 p. 91):


“Fatores como ausência de relação entre teoria e a prática durante a formação, influência de modelos tradicionais de ensino, experimentados anteriormente ou durante a graduação de docência, e a não desconstrução desses modelos na formação do professor podem justificar o descompasso entre o discurso e a prática.”


Pensando nesse contexto educacional, será apresentado as principais reflexões obtidas nos encontros e tratadas em cada um dos módulos realizados.


O módulo 1: Neurociência, relações comportamentais e empatia, mediada pelo professor Júlio César Luchmann, tratou da importância de conhecermos o sistema emocional como um dos condutores determinantes no processo de ensino e aprendizagem. Assim, criar vínculo com os estudantes é de suma importância para que ocorra uma aprendizagem efetiva. Tal relação entre professor e aluno evita problemas comportamentais e emocionais de modo que os 4Rs (Reconhecer, Regular, Resolver e Reparar) façam-se presentes em tal processo. Ou seja, é impossível melhoramos um ponto de vista emocional sem reconhecermos as emoções.

Portanto as relações comportamentais e a empatia devem estar presentes no processo de ensino e aprendizagem, oportunizando sempre a fala dos estudantes e a exposição de seus sentimentos. Com isso, é nítido a mudança no comportamento deles, uma vez que ao se depararem com algum problema ou conflito sempre procuram resolver da melhor maneira possível sem agressões físicas ou verbais. E caso não consigam, são orientados a sempre procurarem um funcionário da escola para que os auxiliem na resolução. Tal formação contribui consideravelmente ressaltando importância em ouvir mais o que os estudantes estão sentindo e o que querem falar para que haja realmente uma formação completa, voltada para a criticidade e cidadania.

Educadores no primeiro módulo da capacitação com o professor Júlio Luchmann


Já o módulo 2: Educação 5.0 e educação baseada em projetos, apresentado pelo professor Hélio Vieira dos Santos, abordou um importante tema referente a atual educação que trata de uma Educação Inovadora e de Metodologias Ativas, uma educação a qual os professores da atualidade nunca vivenciaram em sua formação escolar. A maioria não tinha experiência com esse mundo tecnológico antes da pandemia. Surgiu então, uma nova modalidade de educação, aulas remotas e o uso constante de tecnologias que levaram muitos docentes romper com desafios a fim de suprir tais necessidades e defasagens em relação ao mundo tecnológico.

Todo esse cenário proporcionou uma reflexão em relação à aprendizagem dos estudantes, dando mais sentido a tal prática. Mas tal sentido, não se reduz apenas aos aparelhos eletrônicos e acesso à internet. Mas sim, práticas que sejam relevantes no processo de ensino e aprendizagem, no qual o professor passa a ser mediador e não protagonista. Aulas que levem os estudantes a pensarem criticamente, resolvendo problemas, oportunizando as relações e as trocas de conhecimentos, com assuntos que sejam relevantes para eles e que façam parte do cotidiano e contexto aos quais estão inseridos.

Para BACICH e MORAN (2018, p. 3), “ensinar e aprender tornam-se fascinantes quando se convertem em processos de pesquisas constantes, de questionamentos, de criação, de experimentação, de reflexão e de compartilhamentos”.

Nesse sentido, é importante ressaltar que não é apenas o aluno e nem apenas o professor que se beneficiam com a busca de uma educação significativa, mas a sociedade também no sentido de formar sujeitos capazes de pensar, questionar, criar e ousar proporcionando um ambiente de aprendizagem rico de saberes, competência e habilidades que possibilitem uma a resolução de problemas do cotidiano que extrapolem a sala de aula. De acordo com FREIRE (2005, p.116):


“A investigação temática, que se dá no domínio do humano e não das coisas, não pode reduzir-se a um ato mecânico. Sendo processo de busca, de conhecimento, por isto tudo, de criação, exige de seus sujeitos que vão descobrindo, no encadeamento de temas significativos, a interpretação dos problemas”.


É nessa concepção, que o planejamento das ações deve estar pautado, capaz de tirar o estudante da inércia e colocá-lo em movimento perante o desenvolvimento do raciocínio e da resolução de problemas cotidianos, valorizando os conceitos e as bagagens existentes. Colaborar no desenvolvimento da aprendizagem por meio de propostas e concepções que possam ajudar na formação mostrando a importância de uma aprendizagem mais significativa. Os interesses devem ultrapassar a mera reprodução e transmissão de conteúdos, cujo resultado é uma atividade interativa da sala de aula, onde sujeitos sociais atuam uns sobre os outros.


Desse modo, o trabalho desenvolvido a partir de projetos ganha ênfase, podendo este ser um aliado no processo de ensino aprendizagem, estimulando a participação de toda a comunidade escolar, a pesquisa e a ação de todos os envolvidos. Além de evidenciar o estudante como protagonista da aprendizagem engajando-o pela busca do conhecimento de diferentes formas e em fontes diversas observando o professor como um mediador desse processo. Para BACICH e MORAN (2018, p. 16):


“É uma metodologia de aprendizagem em que os alunos se envolvem com tarefas e desafios para resolver um problema ou desenvolver um projeto que tenha ligação com a sua vida fora da sala de aula. No processo, eles lidam com questões interdisciplinares, tomam decisões e agem sozinhos e em equipe. Por meio dos projetos, são trabalhadas também suas habilidades de pensamento crítico e criativo e a percepção de que existem várias maneiras de se realizar uma tarefa, competências tidas como necessárias para o século XXI.”


Assim, é um desafio diário pensar e planejar aulas que sejam realmente significativas e efetivas para os estudantes. Pensar e inserir uma Educação Inovadora e Metodologias ativas não é uma tarefa nada fácil, porém é necessário tal reflexão e mudança. A formação presenciada fortaleceu ainda mais essa mudança na minha prática docente onde busco realizar e oportunizar trabalhos em grupos, jogos com intencionalidade, resolução de problemas e como a inserção e a disponibilização das tecnologias aos estudantes com o intuito de sistematizar o conhecimento.

Professor Helio Vieira facilitando o workshop de Educação 5.0


No módulo 3: gamificação e metodologias ativas, ministrado pela professora Isabelle Moletta, oportunizou uma conexão com a realidade, ou seja, dando sentido ao processo de aprendizagem dos estudantes. Essa metodologia proporciona uma nova forma de ensinar e aprender de modo que os estudantes encarem a realidade e alcancem seus objetivos de um jeito divertido e protagonistas em suas aprendizagens.

Assim, utilizando elementos comuns de jogos é possível tornar conteúdos complexos em algo acessível e simples de compreender. A gamificação é um dos formatos das metodologias ativas, não necessariamente focada nos recursos tecnológicos, porém é interessante que o professor diversifique ferramentas em sua prática docente.

Esse formato de metodologia praticado nas aulas, desenvolve além da ludicidade, a interação entre os pares, a cooperação, a objetividade em seguir regras e conquistar desafios e metas, como também, a reflexão na resolução de problemas. E para o professor, a efetivação em considerar e abranger os diferentes níveis de aprendizagens permeados na sala de aula, proporcionando a motivação de todos os envolvidos em aprender. De acordo com BACICH e MORAN (2018, p. 4):


“As metodologias ativas dão ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, experimentando, desenhando, criando, com orientação do professor; a aprendizagem híbrida destaca a flexibilidade, a mistura e compartilhamento de espaços, tempos, atividades, materiais, técnicas e tecnologias que compõem esse processo ativo.
Porém, é necessário planejar e ter bem claro quais objetivos quer alcançar. Não fazer apenas o jogo pelo jogo sem propósito algum. É necessário ter uma finalidade, como o que será gamificado, o tempo de duração, as fases que os estudantes deverão passar, a pontuação, a cooperação, a trilha e a avaliação. A avaliação é um processo contínuo e processual devendo ser levado em consideração todo o processo de trabalho realizado pelo estudante.”

A partir dessa formação, ficou claro que o caminho para uma aprendizagem significativa também deve ser baseado na gamificação, procurando oportunizar jogos e diferentes ferramentas no processo de ensino-aprendizagem. Esse formato tem trazido motivação para que os alunos possam aprender e compreender conteúdos complexos da base curricular. Além de serem protagonistas e agentes ativos na aprendizagem e se sentirem pertencentes a tal processo. O objetivo principal e um grande desafio da prática docente é atingir os diferentes níveis de aprendizagem ainda mais frequentes nesse período pós pandemia.

Professora Isabelle Moletta com os rotarianos após a facilitação sobre gamificação.

E para concluir, o módulo 4: criatividade e empreendedorismo, formação ministrada pelo professor Thiago Freire, nos levou a refletir sobre a importância de ampliar o repertório, mudar o nosso olhar pensando na empatia como alicerce, mas muito mais do que se colocar no lugar do outro, é pensar de um modo global no outro. Para inspirar, a criatividade é uma habilidade que pode ser treinada, arte combinatória, num simples trajeto percorrido ou numa receita inovada. Para desenvolver a criatividade é necessário ter consistência, estar se desafiando a todo momento, ampliar a capacidade de pensar e exercitar algo novo. A importância de ampliar o repertório e ativar seu repertório através do processo criativo aumentando as ferramentas e assim as possibilidades de soluções. Portanto, empreender é a disposição de idealizar e realizar. Professor empreendedor é um canal de mudanças, é aquele trabalha em redes e equipes, que entende que a educação vai além da sala de aula e faz parte de um sistema cuja complexidade precisa ser explorada.

Professor Thiago Freire finaliza os encontros com os educadores na oficina de criatividade e empreendedorismo

A partir da participação presenciada nos quatro módulos ofertados pelo projeto “Professor Inspiração”, os resultados obtidos foram perceptíveis nas turmas do 3º e 4º ano, no qual os estudantes demonstraram uma ótima aceitação das propostas mediadas. Se sentiram pertencentes no processo de ensino e aprendizagem, protagonistas.

Durante as aulas foram disponibilizadas diferentes metodologias nas quais os estudantes realmente colocaram a “Mão na Massa”, construindo jogos, registrando a partir de uma escrita significativa as ações por eles realizadas, sistematizando assim o conteúdo aprendido, utilizando diferentes ferramentas sendo elas ligadas à mídia ou simplesmente com materiais diversificados, registrando as ações realizadas por meio de mídias e compartilhando com as famílias e até mesmo com a comunidade escolar.

Dessa forma, os estudantes se demonstraram mais motivados e engajados nas diferentes propostas, resultando assim, na alfabetização e letramento tanto da Língua Portuguesa quanto da Matemática, na formação crítica colocando claramente suas opiniões e posicionamentos sobre determinados assuntos. A aprendizagem passou a se tornar significativa, pois os protagonistas de tal processo passou a ser os alunos.

Pode-se assim concluir, que o projeto “Professor Inspiração” proporcionou muitos aprendizados à prática docente oportunizando momentos de reflexão sobre ela durante os encontros se estendendo ao ambiente escolar, a sala de aula.

Com toda essa reflexão e ação ficou evidente que alunos mais interessados em aprender estão muito mais próximos de alcançarem, com prazer, a apropriação dos saberes e a compreensão da sociedade, além de participarem e intervirem nela produzindo o exercício da cidadania. O trabalho com o uso de metodologias ativas, a escuta atenta aos envolvidos, o olhar ao estudante como protagonista e o professor como mediador evidencia uma aprendizagem significativa, levando a repensar o atual modelo de educação que muitas vezes se coloca de forma fragmentada, recriando a escola em um espaço de aprendizagem significativa e motivadora para todos que fazem parte do processo.

Formações como esta, vivenciada no projeto, são necessárias, uma vez que a oferta de tais formações levam o professor a ser um profissional que tem a capacidade de identificar os problemas que surgem na sua atividade, procurando construir soluções” (PONTE, 2002, p. 4), principalmente quando o momento exige reflexão e muita lucidez sobre a importância de um docente altamente qualificado, que ensine não só os conteúdos curriculares, mas ensine para a vida.

Após a participação nessa formação fica claro que é necessária uma concepção por parte dos professores capazes de tirar o estudante da inércia e colocá-lo em movimento perante o desenvolvimento do raciocínio e da resolução de problemas, que valorizam os conceitos e as bagagens existentes. Colaborar no desenvolvimento da educação por meio de propostas e concepções que possam ajudar na formação docente mostrando a importância de uma prática significativa. Os interesses dos docentes devem ultrapassar a mera reprodução e transmissão de conteúdos, cujo resultado é uma atividade interativa da sala de aula, onde sujeitos sociais atuam uns sobre os outros, sobretudo quando o professor também se vê em constante formação.

Marilia Pereira Rosa é professora da rede pública e atualmente leciona no CEI Expedicionário no bairro Novo Mundo.

Para conhecer mais sobre o programa acompanhe o Rotary Club Satélite de Curitiba Norte Inspiração nas redes sociais @rotarycwbinspiracao