O presente artigo trata da experiência do trabalho realizado a partir do projeto “Professor Inspiração”. Foram quatro encontros em que foram abordados os seguintes temas: Relações Comportamentais e Empatia, Educação 5.0 e baseada em projetos, Educação e Metodologias Ativas e Criatividade e empreendedorismo.

Durante o projeto, muitos relatos foram feitos, a respeito dos trabalhos desenvolvidos e em vários momentos e dinâmicas propiciaram a reflexão da prática pedagógica dos docentes envolvidos.

A cada encontro era lançado um desafio aos educadores, para colocarem em prática no ambiente de trabalho. Os desafios são muitos e os resultados não são imediatos, mas a partir dos treinamentos abriu -se um leque de ideias e tentativas de melhorias no dia a dia da escola.

Professores durante participação os workshops do programa Professor Inspiração

A educação é um processo dinâmico, por isso, os envolvidos devem estar em constante formação. Como já dizia Paulo Freire “Só desperta paixão em aprender quem tem paixão em ensinar”. Por acreditar e me emocionar com as questões que presencio todos os dias, aceitei participar do projeto Professor Inspiração.

Trabalho em uma escola da periferia de Curitiba, com crianças muito carentes, com famílias envolvidas em tráfico, violência doméstica, fome, negligência e muitos outros problemas. Busquei no projeto caminhos para melhorar minha prática diante das frustrações de muitas vezes não chegar aos resultados almejados. Conclui que posso fazer o que está ao meu alcance, ensinando de maneira mais prazerosa, fazendo com que as crianças sintam-se bem e felizes pelo menos durante o tempo em que estão na escola. Dessa forma, procurei trabalhar com a arte, de forma que coloquem suas emoções, medos tristezas para fora e sintam – se mais leves. Com as brincadeiras em que brincando aprendem e sentem prazer ao mesmo tempo. A meditação e o relaxamento que acalma e propicia o autoconhecimento, o sentir, imaginar, perceber -se como indivíduos perfeitos e capazes.

Professora Luzineide em sala de aula

Durante os treinamentos do projeto, reflexões e práticas eram repensadas. Procurando aliar os conteúdos às práticas, resolvi trabalhar com o brincar, a expressão artística e as emoções.

As atividades foram realizadas em uma turma de segundo ano do Ensino Fundamental, com trinta crianças, durante as aulas de fevereiro à julho de 2022. As atividades foram bem aceitas pelas crianças, pois partiam de atividades que eles gostam de realizar: desenho, pintura, confecção de brinquedo, jogos e brincadeiras. A turma é bastante participativa, mas agitada. Manter o foco no trabalho é desafiador, embora sejam bastante participativos.

Dentro do conteúdo de História, temos a temática: “Modos de brincar”. Cada estudante pesquisou com sua família como brincavam quando criança e durante as aulas de história 3 pessoas eram sorteadas para ensinar uma brincadeira para a turma. Tenho um aluno Venezuelano, que se mostrava muito retraído, com medo e dificuldade de se expressar. Depois desse projeto, ele ensinou uma brincadeira venezuelana e ficou super feliz em ver que as crianças entenderam o que ele propôs e interagiram na brincadeira. Depois disso, percebi esse aluno mais feliz, com mais entusiasmo e sem medo de se expressar com os colegas e a professora. Ele foi o protagonista da aula naquele dia, enquanto a professora filmava.

De acordo com Vygotsky ( 1984), o brincar deve fazer parte do cotidiano das crianças, pois auxilia no desenvolvimento e construção do pensamento na infância. Brincando, a criança desenvolve suas relações afetivas, aprende a interagir e respeitar regras.

Educadores durante as formações proporcionadas pelo Rotary

Segundo Dallabona & Mendes (2004), durante a brincadeira a criança aprende também a ser mais solidária e desenvolve a autonomia, resolve problemas. Na Alfabetização são comuns as brincadeiras com palavras: trava – línguas, rimas, mímicas, rodas de conversa, as músicas acompanhadas de gestos e contação de histórias. Todas essas atividades propiciam o desenvolvimento da linguagem oral, a memória fonológica, necessária para que a criança seja alfabetizada. Brincar com palavras é fazer das palavras brinquedos, passíveis de se manusear. E, fazer da sala de aula espaço de direito da linguagem da infância requer aproximar – se da oralidade, do inventado e do espontâneo., ao mesmo tempo exige escuta efetiva e pesquisa por parte dos responsáveis por organizar a atividade, de modo a desencadear interação significativa. (NICOLA, 2014).

Emília Ferreiro citada por GIROTO (2014), diz que a criança pensa sobre a escrita, desde bem pequena, quando faz hipótese de leitura, folheando livros, riscando um papel, ela imita as ações de ler e escrever. Ou seja, ela está brincando de imitar o que observa os adultos fazendo.

As dramatizações brincadeiras de mímica, que fazem parte da linguagem gestual, também são muito importantes para o desenvolvimento e organização do pensamento infantil. Além disso não podemos esquecer que brincar é um direito da criança, garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 16, que estabelece o direito a “brincar, praticar esportes e divertir-se”.

De acordo com RUSSO ( 2012 – p, 20), os alunos devem manusear diversos materiais, ter contato com diversas formas de escrita e auxiliar o professor na confecção de materiais, propiciando assim, a reflexão sobre suas hipóteses.

Em uma das aulas, devido à dificuldade da turma em respeitar regras, foi proposto a confecção do jogo “Achi” de origem africana, já aproveitando para trabalhar a história e cultura de outros povos. Foi explicado a origem, depois cada estudante confeccionou seu tabuleiro e jogou com um colega. Durante a aula, percebi um aluno muito tímido, falando e sorrindo com o colega, cada vez que conseguia ganhar. Esse aluno apresenta ótimo raciocínio lógico mas ainda não reconhece letras. Percebi como essa interação levantou sua autoestima e propiciou uma melhor comunicação oral. Também foi trabalhada a questão de saber perder. Por ser um jogo de estratégia também estimula a observação e o raciocínio. Percebe – se também uma maior valorização e cuidado da criança com o material produzido por ela e uma empolgação e orgulho em poder leva – lo para casa e mostrar aos pais o que produziu e sua utilidade.

As crianças também confeccionaram um Balangandã, (brinquedo de origem africana), reaproveitando rolinho de papel higiênico e utilizando fitas de papel crepom. Em seguida foram brincar no pátio com o brinquedo confeccionado por eles. se divertiram muito. Nessa aula, trabalhamos o texto instrucional (lista de materiais e como fazer o brinquedo), depois falamos sobre a origem. Utilizamos o rolinho de papel higiênico como forma de reaproveitamento de materiais (conteúdo de Ciências).

Em ambas as situações estão presentes as metodologias ativas, onde as crianças interagem, se ajudam, confeccionam materiais e ao mesmo tempo aprendem.

De acordo com DINIZ (2012), as metodologias ativas são uma nova maneira de pensar o ensino, promovendo o aluno como protagonista de seu processo de ensino-aprendizagem.

O trabalho com a arte na educação também é um ponto a ser considerado, pois várias habilidades são desenvolvidas. Segundo Brasil (1998) nos PCNs de Artes são elas:

o Interagir com material, instrumentos e procedimentos variados em Artes; o Construir uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal, respeitando a própria criação e a dos colegas; o Compreender e saber identificar a Arte como fato histórico, contextualizando-a nas diversas culturas. o Observar as relações entre o homem e a realidade com interesse e curiosidade, indagando, discutindo, argumentando e apreciando a Arte de modo sensível; o Identificar e compreender a função e os resultados do trabalho artístico, reconhecendo na própria experiência de aprendiz aspectos do processo percorrido pelo artista; o Buscar e organizar informações sobre a Arte em contato com artistas, documentos e acervos, reconhecendo e compreendendo a variedade de produtos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias.

A arte tem quatro eixos como articuladores do processo ensino aprendizagem. Artes visuais, música, teatro e dança. Dentro das Artes Visuais podemos destacar algumas formas de expressão plástica; desenho, pintura, recorte, alinhavo, tapeçaria, colagem, modelagem, construção, dobradura e montagem.

Sabemos que antes da escrita, a criança se expressa através do desenho. Nas rotinas da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, a música, a dança, a dramatização, os gestos, a dobradura, a pintura, o recorte e a colagem, estão sempre presentes. Todos esses recursos metodológicos, são recursos artístico que auxiliam tanto no desenvolvimento cognitivo, como no desenvolvimento emocional da criança.

De acordo com Lois (2022) , a Arte consegue se comunicar com todo tipo de pensamento e sentimento, de expressão e introspecção, de relações e de isolamento. Sendo assim, poderia ser a melhor disciplina que responde a natureza exploratória e inventiva do aprendizado infantil. Para que isso aconteça, segundo Slade ( 1978), citado por Lois ( 2022), deve – se ter cautela ao utilizar a palavra teatro, o jogo seria a melhor definição para as experimentações cênicas das crianças. Através do jogo a criança experimenta, cria e absorve.

A meditação também é uma prática milenar que tem se destacado nas aulas com crianças. Acredita – se que através dela se trabalha o corpo e a mente das crianças, acalmando, auxiliando no controle emocional e melhorando seu desenvolvimento cognitivo Rocha (2014).

As crianças foram bem receptivas às atividades propostas. Por se tratar de atividades prazerosas para elas, não encontrei dificuldades. Todos realizaram e se ajudaram.

O projeto trouxe muitos aprendizados, sobretudo que o professor deve estar em constante aprendizado e inovar suas metodologias sempre que necessário. Como disse a professora Isabella Moletta, precisamos sair da caixinha. Inovar, ousar, improvisar, adaptar, flexibilizar, são palavras que devem fazer parte do vocabulário e da vida de um professor da geração Z.

O projeto foi muito importante para minha vida profissional e espero que continuem inspirando outros professores pelo Brasil afora.

Luzineide Pedrosa é formada em Pedagogia pela UFPR, atua como professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental desde 1998. Atualmente leciona nas redes municipais dos municípios de Araucária e Curitiba.

Para conhecer mais sobre o programa acompanhe o Rotary Club Satélite de Curitiba Norte Inspiração nas redes sociais @rotarycwbinspiracao