Depois de aproximadamente 20 anos voltei ao térreo daquele apartamento no Tarumã. Na parede fotos de filhos, netos, sobrinhos, avós, bisavós, tudo o que uma família de uma matriarca na casa dos 70, mas com a cabeça a mil, Marlene Meira apresenta a quem entra no seu lar. Sim, um lar onde fez sua família. Seis filhos. Fui a primeira a casar, a estudar fora, a divorciar e a dar o primeiro neto. Sou a mudança do sutiã, dispara Marlene, formada em Educação Física pela Universidade Estadual do Paraná, com uma ampla jornada como professora e hoje membro do Conselho Universitário da UFPR. Cantora por natureza nos melhores palcos de Curitiba. Avó de 10 e bisavô de Pedro de um ano e oito meses, Marlene encabeça sua visão de maternidade, seguida da filha de 46, Daniela Augusta Meira, a Guga, com sua filha de 23, Petra, mãe do Pedro. Com vocês, a maternidade da família Meira em três atos.

Primeiro ato — Marlene é mulher que não terceiriza a responsabilidade. Fiz minhas escolhas, resume a matriarca. Mesmo reconhecendo que fez parte de uma geração onde as mulheres eram educadas para casar, Marlene seguiu a receita social, teve seus filhos, mas em razão das circunstâncias, decidiu pela separação. Nunca dei importância aos comentários sobre ser separada. Dava aulas e cantava na noite, mas era eu, sentencia.
Direta e sem rodeios, Marlene acha que não vale a pena listar arrependimentos no quesito maternidade, porém, reforça que se pudesse reverter algo pelos seus filhos, teria apostado em estudos ou viagens para eles fora do país. Existia uma cultura de fazê-los estudar o ensino regular, certinho, de certa forma mantê-los no ninho. Acho que poderia ter proporcionado melhor oportunidade de desenvolvimento intelectual para meus filhos, conclui.
E o que essa matriarca espera para o dia das mães? Quando a gente cresce e amadurece, as esperanças se tornam universais. Desejo coisas melhores para o futuro da Humanidade, mas que a comemoração possa ser feita com todos da família, juntos.

Segundo ato — Guga, 46 anos passa por um momento delicado, a separação. Mas esse não é o assunto. Ela se diz infantil, que nunca se sentiu mãe de verdade, mas uma irmã mais velha de Petra. Então penso como não ela não se sentiu mãe se abdicou de carreira, relacionamentos e liberdade para se dedicar a cuidar da filha?
Eu só me senti mãe quando me tornei avó (do Pedro). Sempre tive o respaldo da minha mãe. Não sei se fui suficientemente presente na infância da minha filha, criada sem o pai. Eu me casei quando ela tinha 10 anos, e meu ex-marido a tratou como filha até descobrir sua gravidez, relata Guga, que agora em seu curso na área de Educação, consegue perceber as nuances de fases de uma criança. Sou uma avó coruja, se autodenomina a mulher risonha, mas com lágrimas nos olhos ao ver Petra concentrada no seu relato e Pedro mexendo nos seus bolsos para ver se encontra doces.
Agora as duas moram juntas e Guga espera se tornar mãe dupla. Petra e Pedro terão uma mãezona!
Ela é cantora profissional, entretanto está ausente dos palcos há anos. Guga acha que precisa de uma vida mais linear.

Terceiro ato — Petra ouve, fica atenta aos movimentos de Pedro que brinca na sala, mas foge da câmera fotográfica. Ser mãe é difícil, bem difícil, define a jovem. Amante da liberdade sem limites, Petra assumiu a gravidez sozinha. Acho que na época da minha mãe foi mais complicado. Tenho apoio da minha avó, da minha mãe e posso continuar no meu trabalho. Só pretendo um dia poder ter condições de retornar aos meus estudos, sonha Petra que começou a faculdade de Direito, mas teve que trancar o curso.
De poucas palavras, ela é determinada, objetiva e não parece distorcer sua realidade. Eu me sentia totalmente livre, mas depois da maternidade me tornei uma pessoa mais caseira e família, encerra Petra, aliás, ainda acrescenta seu desejo para o dia das mães: meu crescimento junto com a família.
E depois desse espetáculo da maternidade como ela é, essas três mulheres arrumaram a linda mesa com chá inglês e bolinho de fubá. Aplausos!

 

Ronise Vilela é jornalista por opção e mãe por natureza. Sugestões podem ser enviadas pelo e-mail [email protected]