Depois de ler todas as mensagens e postagens sobre Ano Novo, Feliz 2020, balanço e retrospectiva, fiquei na gangorra dos sentimentos humanos: um misto de deboche, alegria, afeto, risos e indiferença. Gosto da ideia de ciclos, não curto a ideia de impor os ciclos e datas sociais são particularmente algo irritante para mim. Sabe a frase materna universal “você não é todo mundo”, eu vesti e revesti minha vida com isso.

Noto que a medida que o auto desenvolvimento acontece, muitas pessoas começam a se distanciar das regras coletivas. Não por revolta ou simplesmente ser diferente, mas porque não cabem mais na automatização dos sentimentos.

Você já parou para pensar que mesmo a vida sendo cíclica, de acordo com o pensamento mais oriental do que o ocidental (que acredita na linearidade da existência), cada ciclo é muito particular? Como se envolver numa onda festerê se não é esse o seu momento?

Outro dado revelador nas redes sociais, foi a quantidade de pessoas que mostram seu ano novo solo, uma delas até fez uma enquete “como era a experiência de passar o ano novo sozinho”. Isso porque se impôs uma obrigatoriedade de se festejar, estar junto aos seus (ui!) no sentido obrigatório. Percebem, obrigação! Afeto, carinho, festa e energia coletiva não é obrigação, é calendário!

Já em 2020 – Sozinhos ou acompanhados todos podem fazer o rito de passagem conforme sua vontade. Essa parte do texto deixei de propósito para escrever no ano seguinte, depois do dito cujo Ano Novo. Particularmente eu passei sozinha, gasp! Com minha cachorra e minha agradável companhia. Eu sou expert em festas solo, mas porque para mim é um prazer e pode não ser o seu. Mas eu já experimentei a solidão em grupos e a solidão a dois (como bem cantou Cazuza; “faz calor depois faz frio”) e o meu estado é solitude!!! Eu fiz uma ceia, arrumei a mesa, me arrumei, a melhor trilha sonora e espumante italiano dos bons. Fiz pela primeira vez um pudim de leite condensado liso (de chef!), fiz meu ritual do fogo com o papel da gratidão e dormi meia-noite com a cachorrinha levemente assustada com os fogos. Acho fogos de artifício uma barbaridade, uma besteirada sem limites.

No entanto, eu também curto quando estou a fim, e isso deveria ser prerrogativa de todos, festa coletiva, mas seletiva, saca a diferença?

Também há festas solo sem que isso seja uma opção, mas uma contingência, algo não previsto no script da vida. Ninguém quer ser vítima de uma acidente, de uma morte de alguém que ama, de perder o ônibus, o avião, de sofrer algum tipo de violência, mas não é só nessa data é em qualquer dia. Então, hoje, amanhã, depois, o dia eleito por você, pela sua vibração, pelo seu querer, até quando isso seja possível, faça sua vida ser o que você é. Ou você já se tornou um robô e preciso ativar o Captcha? (Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart – Teste de Turing público completamente automatizado para distinguir entre computadores e pessoas).

*Ronise Vilela é jornalista, escritora, poeta, criadora do @dimondicomunicacaoafetiva e praticante de ferramentas de processos energéticos