Robinho (Crédito: Divulgação/CBF/Rafael Ribeiro)

por Danielle Blaskievicz

Virou moda celebrar a ideia de ultrapassar os limites, alcançar novos patamares e ousar constantemente. Mas há uma enorme diferença entre vencer limites – pessoais, é bom frisar – e infringir os limites do outro. E quando há alguma relação de poder, de vantagem social ou econômica, aí sim muita gente esquece de vez que existem limites que jamais devem ser ultrapassados.

Essa semana meu filho mais velho, Rafael, chegou da escola revoltado. Algum “coleguinha” – não identificado – encontrou o celular de uma das zeladoras recarregando no banheiro, desconectou e jogou o aparelho no vaso sanitário. A “brincadeira” culminou em um prejuízo significativo pra uma pessoa que dependia daquele equipamento pra manter a comunicação com os quatro filhos pequenos – isso sem falar em todos os outros serviços que hoje são feitos quase que exclusivamente por smartphone.

No mesmo dia, o jornal local anunciava a história do rapaz que estava limpando a fachada de um prédio de Curitiba e acabou vítima dos desatinos de um morador do edifício, que resolveu cortar as cordas que garantiam a segurança do profissional. Ouvindo aquela história, Rafael questionou o que leva uma pessoa a fazer aquilo.

Sem pensar muito, respondi que provavelmente deveria ser o mesmo perfil de pessoa que, quando mais jovem, descartava o celular de alguém no vaso sanitário. Ou seja, pessoas que julgam estar em condições superiores e que, por isso, acham que não existem limites para suas ações. Acreditam poder tudo. Mesmo que isso comprometa a vida ou a dignidade de outras pessoas.

Exemplos não faltam e, infelizmente, envergonham, causam espanto, ódio e uma série de outros sentimentos nada nobres. Ver o desfecho da prisão de Daniel Alves na Espanha, após ter sido condenado por estupro, chega a dar nojo ao perceber que a liberdade tem um preço alto, por mais hediondo que seja o crime.

Há quem diga que Robinho – outro jogador que, como Daniel Alves, também vestiu a camisa da Seleção Brasileira – não teve a mesma sorte. Apesar de ter apostado com os colegas de que o crime “não daria em nada”, Robinho foi condenado na Itália por participar de um estupro coletivo e agora está cumprindo a pena no Brasil.

Em comum, todos os casos mostram personagens que se julgavam acima de todos os limites. Ousados, irreverentes e abusados, subjugaram a vontade e a vida alheia, certos de que estavam acima da lei.

Só que respeitar o limite imposto pelo outro, pela sociedade ou pela lei vai muito além do mero bom senso. É prova de caráter, oportunidade para desenvolver a resiliência e sinal de evolução da espécie.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e acha que alguns crimes não deveriam ter fiança