Work Sound Pollution Composition
Barulho (Crédito: Divulgação/Freepik/@macrovector)

por Danielle Blaskievicz

O cachorro que late. A mensagem que grita no celular. O “tuch tuch” que virou trilha sonora da academia. A campainha que avisa que tem gente querendo entrar. A buzina do motorista apressado. A mãe que chama o nome da criança. A ambulância que precisa da preferência pra salvar uma vida. O pseudo-influencer que quer ditar as regras. São diversos sons, milhares de ruídos, muitos decibéis, uma cacofonia infinita, ininterrupta.

Quanto maior o barulho exterior, mais eu penso na Elis cantando “Casa no Campo”. Sim, “eu quero uma casa no campo, onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros e nada mais”! E completo: ouvir o barulho dos grilos nas noites estreladas ou perceber a força da chuva molhando a terra.

Hoje se fala muito da precariedade da saúde mental, mas ninguém mais para pra se ouvir. Ouvir o outro, então, é artigo de luxo. Muitos falam, poucos realmente se comunicam. Há um cansaço coletivo.

Há tanta informação disponível que não há tempo pra silenciar e perceber o que – e quem! – é realmente importante.

Qualquer barulho ritmado por instrumentos é classificado como “música”. A arte morre aos pouquinhos com tanta dissonância.

Nietzsche, que viveu no século XIX – quando a palavra tecnologia ainda não era parte do vocabulário cotidiano e nem era uma ameaça às mentes pensantes –, dizia que o silêncio era a mais complexa profilaxia da alma. Ou seja, tem poderes curativos. Concordo com o filósofo alemão.

Parece que hoje é necessário ter opinião formada sobre tudo e, pior, é preciso berrar aos quatro cantos do mundo qual é essa opinião.

Pouco me importa o que os outros acham da combinação do azul com o verde limão, da necessidade de seguir as tendências da moda ou da obrigação de frequentar os endereços descolados.

Menos barulho, mais olho no olho, por favor!

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e tem medo de um surto coletivo.