Nova Arena, melhor CT, UFC, Copa do Mundo, Marbella Cup, grama sintética, superávit, mil parcerias: nada fez o atleticano mais feliz nos últimos anos que a vitória por 3 a 0 sobre o Coritiba. Parece estranho dizer isso, mas o Atlético há muito não era um clube de futebol. A fase era tão ruim que nem mesmo o torcedor coxa-branca deixou de se sensibilizar. Primeiro, o susto de ver o time de melhor campanha ser sacolejado na Arena; depois, a angústia pelo título virtualmente perdido e, por fim, um reconhecimento natural de quem foi pior em 90 minutos, mas vinha há tempos mangando do rival em confrontos diretos.

Sim, o Furacão foi a Libertadores e a uma final de Copa do Brasil recentemente – bem como o Coxa chegou a duas finais. As campanhas rubro-negras no Brasileirão foram melhores, mas no âmbito interno, uma freguesia pra lá de incômoda se instalou na Baixada. Negue quem quiser, mas na véspera da decisão a sensação de conquista alviverde era unânime, quase que questão de tempo. O Coxa vinha sendo soberano nas decisões até quando perdia, como em 2008; quando ganhava, sobrava. Da diretoria atleticana, vinham as justificativas enumeradas na primeira linha desse texto. Uma soberania estrutural que não se via em campo. Precisou do simples, um domingo com gols para o atleticano sorrir.

Afinal, futebol é isso. Mais do que pensar sempre em dinheiro, – houve até sugestão de majorar os ingressos na semana da final… – futebol é o improvável, o imprevisível. O romance por trás das impossibilidades. O abraço do pai no filho, a sensação de superação, os heróis que se alternam semana a semana. O colega de trabalho na zoação, a camisa do time na escola das crianças. A bandeira na sacada, a sensação de pertencimento. O futebol não é apenas a melhor estrutura, superávit, salários em dia. Isso dá suporte, mas é preciso alma. E alma é doação, entrega, simbiose entre torcida e time. Business is good, mas frio, não leva a nada.

O apito final do Atletiba de 1o de maio deixou esse recado nas mãos do presidente do conselho atleticano Mario Petraglia. Não faço ideia de como ele recebeu a mensagem. Talvez com uma certa empáfia de quem pode dizer que tem dedo nos 3 a 0, uma resposta aos críticos. Seria bom imaginar que com menos soberba e mais alma, agora lavada. Entender que por trás do negócio existe uma necessidade de manter a chama da paixão é fundamental para transformar ideias em sucesso.

A Igreja impossível do Coritiba

Acabou? Eu não diria com tanta firmeza. A indigesta tarefa coxa-branca de evitar um segundo vice-campeonato seguido em casa é improvável, mas não impossível. Ninguém ganha de véspera, mesmo com tamanha vantagem. Mas não é o que mais importa ao coxa-branca.

Claro, ninguém quer perder um título para o rival em casa e uma remontada dessas seria histórica, mas o que vai valer para o Coxa é o espírito de luta. Desde a convocação para as Ruas de Fogo, uma atuação com galhardia, quem sabe com vitória, tudo isso já será um alento. E pode, mansamente, tentar o improvável.

O que vale para o Atlético, vale para o Coxa. A mesma sensação do abraço no gol, da honra pela camisa, do brio ao olhar para o torcedor rival na segunda-feira seguinte e conseguir vender caro a taça, mesmo sem transformar água em vinho, pau em pedra, cuspe em mel, como o Pastor João de Raul Seixas.

Retorno
Foi a primeira, outras virão. Graças ao apoio e incentivo dos grandes Silvio, Lycio, Rachel e Josianne. Nos encontramos semana que vem.

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão