A presidente Dilma Rousseff saiu vencedora nas eleições de 2014, mas o resultado final já antecipava que durante o seu mandato ela teria que conviver com um percentual significativo de eleitores descontentes com o seu primeiro mandato e temerosos com a sua reeleição. O seu governo ficou marcado pelo envolvimento no maior escândalo de corrupção no pós-redemocratização. É fato também que a crise política que vivemos decorre do declínio da confiança do cidadão brasileiro frente à classe política e partidária que não se mostram eficientes e éticos na defesa dos interesses dos brasileiros. Isso é detectado por estudos que mostram o esquecimento do eleitor sobre em qual candidato votou nas ultimas eleições, o desconhecimento do eleitor brasileiro sobre o partido ao qual pertence seu candidato e também pela alta taxa de desconfiança e de descrença do brasileiro frente à capacidade de representação e de prestação de contas dos políticos e dos partidos políticos brasileiros.
Na segunda metade do século passado, o cientista político Robert Dahl, aponta que, em uma democracia, os cidadãos devem participar em diversos níveis e não restringir a participação política ao mecanismo puramente eleitoral, o que é característico dos pleitos eleitorais que servem para autorizar os mandatos representativos dos políticos e dos partidos políticos. Hoje a diversificação desses níveis de participação e de inclusão política está cada vez mais visível e de fácil acesso para o cidadão brasileiro. É o caso dos grupos de interesse, associações representativas da sociedade civil, movimentos sociais, organizações não governamentais, organismos internacionais e, inclusive, as manifestações e mobilizações populares, sejam de rua ou via redes sociais.
As manifestações populares representam um instrumento importante a serviço da democracia, ao tornarem visível os interesses populares, sobretudo aqueles que não são tratados pelos governantes com a devida atenção que merecem. As manifestações de rua e via redes sociais servem como um meio para que o cidadão brasileiro torne visível a sua aprovação ou a sua censura frente às ações dos seus governantes. A partir das manifestações de junho de 2013 ficou clara a força popular nas ruas. Evidente que as mobilizações populares, para serem de natureza democrática, em detrimento a simples atos de fanatismo, devem estar como advertia Norberto Bobbio, sob o respaldo dos ideais da não violência e da tolerância frente à divergência de opiniões.
Portanto, as mobilizações populares que tivemos até o momento se mostraram de natureza democrática e também como um espaço de reivindicação à margem da via eleitoral, possibilitando para o cidadão brasileiro uma maior participação politica, maior controle e uma maior inclusão dele nos rumos dos processos decisórios que tratam sobre o destino de nosso país.

Doacir Gonçalves de Quadros é professor de Ciência Política e do Programa de Pós-graduação em Direito – Mestrado Acadêmico do Centro Universitário Internacional – Uninter