Sou um atleta das palavras, das grelhas e dos espetos. Quis um dia ser um esportista de verdade e além do clássico sonho de jogar futebol pensava em jogar qualquer coisa. Na escola gostava muito de jogar handebol, me arriscava no basquete e tentava imitar o Tande e suas jornadas nas estrelas (as do Bernard são coisas de velho. Minha geração é Barcelona 92, irmão).

Contudo o sonho de ser esportista morreu na mesma velocidade que me tornei sedentário e troquei as bolas, redes e demais apetrechos pelo chocolate e pela picanha. Fazer o que? Somos responsáveis por nossas escolhas.

Ao ingressar no jornalismo, automaticamente cai na área esportiva. Flertei com outras editorias, mas foi no esporte que me reencontrei. Enquanto meus amigos sonhavam em fazer (ou jogar) uma Copa do Mundo, eu queria mesmo era cobrir uma Olimpíada. Não consegui (ainda), mas continuo adorando ver as disputas de todos os esportes, especialmente aquelas pouco divulgadas pela mesma mídia da qual fiz parte.

Lembro-me como se fosse hoje das palavras do grande jornalista esportivo paranaense Firmino Dias Lopes no baile de minha formatura em jornalismo, no começo de 2004. Pai de outros dois jornalistas esportivos, Lanova e Marcelo, seo Dias disse assim: Sei que você gosta de futebol, piá. Mas nunca se esqueça dos outros esportes. Nele existem pessoas apaixonadas, abnegados por suas modalidades que sofrem os diabos, alcançam conquistas incríveis, mas que não recebem nem 1% da atenção de jornalistas como você será a partir de agora.

Na verdade as palavras dele nem foram essas, mas foi assim que as interpretei. Por vezes tentei investir em coberturas diferenciadas, de esportes menos populares, mas esbarrei na falta de interesse do meu próprio público nessas modalidades. É um círculo vicioso, pois ao não se divulgar o esporte em questão, não se cria interesse do público comum por ele. E fiquei frustrado várias vezes depois de produzir reportagens diferentes, bem construídas e com personagens ímpares, mas que em termos de audiência a repercussão foi quase nula, especialmente se comparada ao novo corte de cabelo do fulaninho do momento.

Hoje começam os Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro. Depois da euforia causada pelos Jogos Olímpicos, era de se esperar num mundo perfeito que esta competição desse continuidade no chamado espírito olímpico e suprisse a carência que surgiu após a cerimônia de encerramento. Pena que a realidade não é tão bela assim.

Nas redes sociais vemos nessa época discursos inflamados dos bons moços de ocasião defendendo uma melhor atenção da mídia aos paratletas. Assim como o fazem com o futebol feminino da Marta e da Formiga, o vôlei do Serginho ou o judô do Baby. Mas na prática, vemos traços de audiência e interesse efêmero. Tanto do púbico, quanto do poder público.

Os atletas das paralimpíadas têm em sua maioria histórias de vida fantásticas, iguais em sua essência a muitos dos jogadores de futebol, por exemplo. Entretanto o efeito superação, aquele que os faz ultrapassar limitações físicas, os tornam superatletas e dignos não só de nossa admiração e respeito, mas de nosso compromisso em fazer algo efetivo para mudar essa cruel realidade que os distancia dos atletas comuns.

Nos jogos paraolímpicos o objetivo dos atletas PNE é o mesmo dos demais: a medalha. Uma medalha que lhes garanta mais do que mais respeito, mas também a continuidade das bolsas auxílios que os ajudem a também serem normais.

Quem convive com portadores de necessidades especiais sabe que diariamente eles vencem desafios, superam barreiras aparentemente intransponíveis que lhes dá o gosto delicioso da vitória.

Uma medalha para esses atletas tem o poder de lhes deixar um pouco mais próximos de uma utópica condição de igualdade numa sociedade preconceituosa que lhes tira frequentemente o direito de se sentirem assim.

A população ainda os vê como coitados, mas a culpa não é dessas pessoas. A culpa mesmo é de quem não lhes deu educação, seja em casa ou na escola, mostrando que todos são iguais. Apenas uns tem mais dificuldades que os outros. Só assim tudo seria diferente e finalmente seríamos todos iguais, Henry Xavier, radialista deficiente visual.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.