Coluna de Ruy Castro, na Folha de S. Paulo, cita o caso da estudante assassinada por PMs em Porto Amazonas (PR).

Profissão de futuro

RUY CASTRO

Em Porto Amazonas (78 km de Curitiba), há uma semana, uma estudante de 21 anos foi morta pela PM paranaense com um tiro na cabeça, após o seu carro bater acidentalmente no da polícia, enquanto esta perseguia uma quadrilha em outro carro. Um dos policiais supôs que a batida fosse de propósito e já saiu disparando. A ação lembrou aquela acontecida na Tijuca, no Rio, dias antes, em que uma senhora teve o carro fuzilado pela polícia e um filho morto.

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Na quarta-feira passada, em Bonsucesso, também no Rio, outro inocente – desta vez, um funcionário das Organizações Globo – foi seqüestrado em seu carro por um bandido, teve o carro perseguido e morreu baleado pelos PMs. Para a polícia, os dois ocupantes seriam bandidos. Para que não se diga que a PM só mata, dois policiais militares foram mortos a tiros na Fonte da Saudade, ainda no Rio, na manhã de quinta, e outro no Jardim Guanca, zona norte de São Paulo, na madrugada de sexta.
Na mesma sexta, de manhã, oito homens morreram numa favela em Realengo, no Rio, em confronto com a PM. À tarde, um assalto a banco em Jardim Peri-Peri, zona oeste de São Paulo, terminou com um policial civil e dois bandidos mortos a tiros, além de uma menina de sete anos, atropelada pelos criminosos em fuga.
É um perpétuo faroeste. Pela quantidade de fuzis, pistolas, balas e granadas em ação, imagino que a profissão de armeiro seja hoje uma das mais valorizadas do país. Serviço não falta -afinal, alguém tem de cuidar do armamento da polícia, dos bandidos e das milícias, alinhando as miras e azeitando os canos.
Pela intensidade do uso, pode ser até que falte armeiro no mercado. A ponto de, quem sabe, os melhores do ramo serem solicitados a prestar serviços para uma, duas ou mesmo as três partes.