Josianne Ritz

Eu tinha na memória momentos maravilhosos no Museu Nacional do Rio de Janeiro da minha infância, quando passava férias na casa da minha avó. Lembrava dos jardins majestosos, das exposições de fauna, flora, móveis imponentes, varandinhas bucólicas, escadas encantandoras, dinossauros. O tempo passou, cresci, tive filhos e todas as vezes que retornava ao Rio, agora como turista ocasional, acabava deixando a visita ao Museu para depois, pela distância, o tempo curto. Em janeiro deste ano, no entanto, como fiquei mais tempo na cidade com as crianças, resolvi levá-los para aquele lugar mágico da minha infãncia.

Nem sempre (ou quase nunca) o que era bom na nossa infância é bom na visão dos nossos pequenos. Isso aconteceu com o Toblerone, com alguns filmes, desenhos, livros, programas de TV. Mas como mãe teimosa, eu sempre insisto. No Museu Nacional do Rio de Janeiro, a surpresa foi que a mágica permaneceu exatamente a mesma para eles. Os meus três filhos, então com 17, 12 e 5 anos, ficaram maravilhados com o lugar e todos os seus detalhes. Foi um dia memorável.

O pequeno Théo ficou sem ar diante dos dinossauros tão grandes, daquela coleção de animais tão incríveis, besouros, fósseis. Ficou com medo da múmia, não queria olhar,  mas até hoje fala da múmia de gato e lembra que os egípcios amavam tanto seus gatos que queriam levar eles junto quando morriam. Betina e Maitê vibraram ao se deparar com Luzia,  mais antigo fóssil humano já encontrado no país, que já conheciam de tantos livros da escola. "É ela, mãe, é ela", falavam alto, enquanto eu pedia silêncio. 

 Ah, e a coleção de conchas, corais e borboletas, o polvo rosa pendurado no teto? Ficamos quase uma hora na sala delas, todos os quatro, maravilhados com tal beleza. 

Maitê também arregalou os olhos para a coleção de arte e artefatos greco-romanos da Imperatriz Teresa Cristina. Théo comentando como eram dourados os móveis em exposição, quase passando do cordão de proteção. Betina curiosa com os meteoritos, lendo cada detalhe da história deles, tirando fotos para mostrar para a professora. 

Foi uma visita de gritos e perguntas: "Mãaaaaeeee, olha o teto, que lindo, é todo pintado. Como eles subiam lá para pintar?", "Mãaaaeeeee, olha que escada linda, eu queria uma escada dessa lá em casa, porque parece de palácio de princesa",  "Mãaaeeeeeee, olha que medo daquela barata gigante (no caso um besouro)", "Mãaaaeeeeeee, olha esse meteorito, que imenso, e foi achado há tanto tempo. Pode cair um desse na nossa cabeça?", "Mãaaaeeeee, olha que lindo o jardim visto desta varandinha". 

Tantos objetos preciosos e eu com meus filhos mais uma vez  aprendendo o valor da história. Tantos funcionários gentis, tantas exposições organizadas com perfeição que confesso que não prestei tanta atenção nos sinais da degradação, de paredes descascadas, algumas ligações elétricas precárias. Eu vi esses sinais, mas ficavam pequenos diante da grandiosidade do lugar. 

Na saída, vimos uma caixa pedindo doações para melhorias no local. Contribuímos com alegria. Maitê, que agora já é uma universitária de História, disse pra mim: "Mãe, porque você não nos trouxe aqui antes? Agora, o Museu Nacional entrou na lista de lugares obrigatórios em todas as nossas visitas ao Rio". Claro que concordei. Fomos embora felizes demais sem nem imaginar que seria a primeira e a última vez deles naquele lugar incrível. 

Ontem, quando contei ao Théo que o lugar que ele tanto amou tinha pegado fogo, ele me perguntou, chorando: "Mas por quê, mãe? E a escada linda? E a Luzia? E o gato múmia, o polvo rosa, o dinossauro, as pedras gigantes?" Aos cinco anos, ele sofreu com o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, porque aprendeu o que os nossos governantes não entenderam sobre a importância da nossa história, da educação e do conhecimento.