O Rotary está ligado de maneira imprescindível à formação de embaixadores pela paz. Seja pela  capacitação de associados, ações nas comunidades ou investimentos em programas de intercâmbio, a instituição se dedica a treinar líderes preparados para mediar conflitos e apoiar atividades voltadas para a paz e resolução de conflitos. E isso em diversas regiões e comunidades espalhadas pelo mundo. Mas como o Rotary consegue promover essas iniciativas?

 

Em 2002, foram criados os Centros Rotary pela Paz, responsáveis por promover a oferta de bolsas e treinamentos em Universidades espalhadas pelo globo. O intuito era capacitar líderes para que possam trabalhar nas comunidades que possuem problemáticas tendentes à eclosão de guerras, conflitos e embates, por diversas questões: falta de recursos, fome, tensões culturais e étnicas, pobreza, discriminação, desigualdade social, nenhum ou pouco acesso à educação e inclusão digital.

 

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Os bolsistas passam por uma seleção rigorosa, visando a escolha daquele que realmente, além das qualidades curriculares e técnicas, tenha compromisso em se tornar um Embaixador da Paz pelo Rotary. A ideia é que este embaixador traga ao seu local de origem todo o conhecimento adquirido e proporcionado, compartilhando com aqueles que não puderam ou não tiveram a oportunidade deste estudo e aprofundamento, possam também atuar dentro de suas comunidades.

 

Quando pensamos, assim, em prevenção de conflitos, somos transportados por nossas vivências e experiências a imaginar alguém com uma bandeira branca, como a Cruz Vermelha ou a Organização das Nações Unidas, em meio a uma guerra civil em um país do Oriente Médio ou em uma guerrilha de tribos “rivais” em Uganda.

 

Todavia, deixando de lado o imaginário desta que vos escreve e talvez de muitos, a promoção da paz não precisa ser romantizada como em um filme hollywoodiano. A atuação do Embaixador pode ser inclusive erroneamente minimizada quando se pensa em uma pequena comunidade em que a desigualdade e pobreza imperam e o que resta aos que nela moram é não seguir qualquer código de conduta e fazer o que estiver ao seu alcance pela sobrevivência.

 

Só que o que está ao seu alcance pode desencadear em um conflito com os demais membros dessa comunidade e é aí que o papel do rotariano capacitado pode ser visto.

 

Não que não existam Embaixadores da Paz em áreas que demandem gravíssimos conflitos e guerras, mas é importante frisar que podemos ver a promoção da paz em nossas próprias comunidades através de pequeninas ações, mas não menos essenciais.

 

Exemplo disso é a criação pelo Rotary Club do Rio de Janeiro-Mercado São Sebastião do projeto Força Jovem Judô que proporciona a jovens moradores da Comunidade da Mangueira, no Rio de Janeiro, treinar judô, fornecendo ainda cestas básicas aos membros da equipe, inscrição para competições e para realização do sonho olímpico dos atletas, fornecendo uniformes e proporcionando o condicionamento físico permitindo que pratiquem, além das aulas, musculação no local.

 

Outro projeto que merece nossa atenção e admiração é o criado e desenvolvido por Margee Ensign, reitora da American University of Nigeria e associada do Rotary Club Yola-AUN, do estado de Adamawa, cujo objetivo primordial era o de motivar líderes universitários a se envolver na comunidade, mas que acabou servindo de refúgio para milhares de crianças e jovens na Nigéria.

 

Aterrorizados pelas crises e guerrilhas internas promovidas pelo grupo terrorista Boko Haram, as crianças e jovens conseguiram ver uma alternativa ao destino cruel de se tornar um terrorista ou ser escravizado, através dos projetos pela paz e resolução de conflitos desenvolvidos pela Universidade e pelo Rotary.

 

Além de prestar todo o auxílio a essas pessoas em estado de vulnerabilidade, o grupo criou a Iniciativa de Paz de Adamawa (API), visando identificar e auxiliar, na cidade de Yola (Nigéria), crianças e jovens (cerca de 42 mil na ocasião) e prover educação, alimentação e integração destes (muitos deles de etnias e religiões diferentes).

 

A partir deste programa, muitos outros foram criados por esta parceria: Peace through Sports (organização das crianças locais de diferentes religiões e grupos étnicos em times mistos, com jogos e refeições juntas); Whiz Kids (aulas gratuitas aos jovens de ciências, tecnologia, engenharia e matemática); Feed and Read (oferece às crianças refeições e aulas de inglês e matemática) e muitos outros.

 

As áreas de enfoque do Rotary buscam abarcar diversas celeumas enfrentadas pelas comunidades em todos os distritos espalhados pelo globo. Desse modo, a instituição se debruça sobre cada uma, dentro do seu clube, compreende o bem que pode ser extraído e verifica de que modo você pode ajudar, possibilitando o crescimento, o engajamento e o sucesso da organização.

 

Isso porque, somente através da união e tendo como objetivo a luta pelo bem comum é que poderemos encontrar a tão almejada paz e propiciar uma mudança efetiva seja em nossas comunidades, seja em comunidades de outros Distritos que necessitem do nosso auxílio.

 

Por mais que nossa realidade local não coadune com as realidades enfrentadas pelos países que vivenciam o conflito diário, podemos encontrar um modo de nos fazermos e sermos úteis. O resultado do nosso engajamento pode ser surpreendente.

 

* Bruna Patricia dos Santos Stremel é formada em direito e atua como servidora pública no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, rotariana e associada ao Rotary Club Satélite de Curitiba Norte Inspiração.