Um escriba do primeiro século lançou a pergunta: “Quem é o meu próximo?” E eu aqui tento respondê-la ao me ver cercada por pais e mães cuidando dos filhos no parquinho. Quem são essas pessoas ao meu redor, onde trabalham, como limpam a casa, do que se alimentam? Talvez após duas horas de small talk chegássemos às respostas, mas o costumeiro é que não se passe do inventário inicial, composto dos seguintes esclarecimentos: 1) Quanto tempo ele tem? 2) Qual o nominho? 3) Já vai à escola? 4) Pegou essa última virose que está rodando por aí?

 

Pronto. Difícil ir adiante, porque os pequenos certamente irão reclamar antes de banheiro, lanche, sono, briga ou tédio.

 

No best-seller “Crianças francesas não fazem manha”, indicado por 10 entre 10 pais que resolvem me dar conselhos, seja no elevador ou no trânsito mesmo, Pamela Druckerman compara uma mãe americana a uma mãe francesa em várias situações. A roupa que colocam ao levantar da cama, a comida que põem no prato, se são elas mesmas que a põem ali ou se é um outro, e, entre outras inumeráveis opções em que a francesa sempre bate a americana de goleada, Pamela analisa o comportamento de ambas no parquinho.

 

Resumindo, a francesa ganha mesmo nas situações lúdicas porque sabe deixar a criança brincar, enquanto conversa com os outros pais. Quem sabe até passe do inventário inicial e chegue a discutir Rimbaud ou o último Houllebecq. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a americana sua a camiseta cuidando, ensinando e propondo que a criança aproveite a descida do escorregador para contar até 10 em mandarim.

 

Agora pensando bem, talvez assim eu me empolgasse. Com uma meta dessas. O fato é que sinto um tédio terrível ao cuidar deles no parquinho. Agora já passaram da fase em que ficam presos no carrinho, mas ainda não alcançaram aquela sonhada etapa em que estarão fora do risco de quedas. O pé que escapa do degrau, a verminose da areia, e essas malditas calças de uniforme que escorregam rápido demais e obliquamente.

 

Queria um dia de folga de mim mesma, quem sabe na mente de uma mãe francesa.