
E se o desapego for apenas o ato de entender o que é válido no momento presente, um implante de memória ou algo que realmente já cumpriu seu ciclo, o que viria depois de todo esse processo?
No texto anterior, acompanhamos a pequena jornada de Mariá, Luiz e Rejane, cada qual com sua relação ao desapego e entramos em outra saída do labirinto emocional: depois de encerrar esse vínculo, ter a possibilidade de encontrar o amor.
Foi o que aconteceu com Nina. Depois de anos vivendo uma paixão unilateral, ao que ela mesmo reporta, cansou-se do amor em fatias ou só atendido quando o par lhe sinalizava a necessidade de atenção. Nos altos e baixos da relação, com muitos bons momentos, sim! Nina chegou ao limite, depois de requerer dessa união em periodicidade incerta, a reciprocidade do seu afeto. Não atendida, ela sofreu, se entregou aos sentimentos e mesmo assim, diante da dor, prestou atenção em quem lhe dava.
Sem pretensão e expectativa alguma, aprendeu uma nova forma de amor, a de criar e receber o carinho, construindo com o par um jeito de se amarem em co-autoria, sem os velhos recalques. Isso trouxe a Nina, renovação ao olhar a vida com prazeres mais palpáveis no dia a dia. Uma aposta de corrida com o filho na quadra de casa, a foto do seu amado nos favoritos, os malabares preguiçosos dos gatos, uma receita de torta ainda não experimentada e até as saudades de pessoas da família distantes pela pandemia, ser um tom de amorosidade.
Preenchendo os espaços vazios – Lidar com os espaços vazios de um novo ser que estamos nos tornando, às vezes é incômodo pelo fato de anteriormente estarmos entulhados de emoções, experiências e sentidos que só significam volume. Lia adotou uma forma de desapego mais prática. Ela se considera paciente com pessoas relevantes em seus relacionamentos, contudo, ao extrapolar os limites do que pode manter ou não, simplesmente se desliga. “Um corte de precisão cirúrgica”, define.
Curiosamente depois do desapego, Lia se viu transformada e não preenchida. “O que falta para ser a nova mulher?”, pensa alto a pessoa que prefere a calma em si, do que o conflito interpessoal. Lia está no processo e, ao meu ver, não precisa ansiar para dar forma, volume e estrutura no que considera ser espaço vazio. Talvez esse “vácuo” seja sua nova textura, mais leve e macia.
Sendo assim, o vazio nem sempre se trata de um espaço não ocupado. E como dito na metáfora de Heidegger, “o vazio como tal é algo em torno do que eu também posso construir alguma coisa”.
Ainda continuamos com a dúvida de Rô, se o que amamos é a outra pessoa, ou o sentimento que ela nos provoca. Ou ainda, se gostamos mesmo é de nós sentindo algo por alguém e vice-versa. Você pode ajudar nesse dilema?
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*Ronise Vilela é criativa de conteúdos de Comunicação Afetiva e Psicanalista Integrativa. Contatos via WhatsApp AQUI
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Essa coluna tem o apoio da Consonare – maior plataforma de Terapias Integrativas da América Latina.