Franklin de Freitas

A candidata do Avante à prefeitura de Curitiba, psicóloga Marisa Lobo, ficou conhecida nacionalmente depois de ser acusada por movimentos LGBT de supostamente promover a chamada “cura gay”, ou tratamento da homossexualidade. Ela chegou a ter o registro cassado pelo Conselho Regional de Psicologia – depois revertido na Justiça. Mas garante que tudo não passou de uma “fake news”. Apesar disso, a candidata diz que a polêmica acabou lhe credenciado para representar o eleitorado conservador que segue os passos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). 

Em entrevista ao Bem Paraná, Marisa Lobo afirma que apesar de outros candidatos a prefeito da Capital alardearem a proximidade com Bolsonaro, ela é a única que milita ao lado do presidente desde 2011 quando ele ainda era deputado. Sobre a pandemia do Covid-19, ela diz que a maneira como a gestão Rafael Greca (DEM) lidou com o problema foi “desastrosa”, por não adotar os protocolos defendidos por Bolsonaro de tratamento precoce com a cloroquina – medicamento sem eficácia científica comprovada para a doença.

Bem Paraná – Se hoje fosse 1º de janeiro de 2021, e a senhora tivesse sido eleita prefeita, qual sua primeira medida?
Marisa Lobo – A primeira medida seria voltar a gestão ao desenvolvimento e à geração de empregos e renda. Até mesmo por causa do Covid. Nós sabemos que muitos empresários perderam seus empregos, muitas lojas fecharam, os pequenos comércios, escolas faliram. Nós temos que começar a pensar na recuperação desses empregos. Sempre pensando em uma gestão participativa, transparente, e com combate à corrupção.

BP – Como avalia a forma com que a gestão Greca lidou com a pandemia?
Marisa Lobo – Não só o Greca como muitos prefeitos no Brasil todo trataram a pandemia de forma meio irresponsável. Foi uma administração desastrosa do Covid. Essas inconstâncias das bandeiras amarela, laranja. Esses pronunciamentos da secretária da Saúde (Márcia Huçulak) culpando as pessoas, outros segmentos, até as igrejas, as empresas, as escolas. Sempre culpava alguém, mas não assumia a sua responsabilidade. Eu sei que é uma pandemia, que pouco se conhecia do Covid-19. Mas também sei que tínhamos exemplos fora do Brasil onde a pandemia já passou para saber o que deu certo e o que deu errado. Então o mínimo o que devíamos fazer é usar essa inteligência para descobrir o que deu certo e o que deu errado. Sentar com todos os atores e segmentos e decidirmos juntos o protocolo. Porque cada segmento, empresa deveria ser parceiro da gestão na elaboração dos protocolos para saber até que ponto é prejudicial ou não.

BP – Qual foi o maior erro na sua opinião?
Marisa Lobo – Eu achei que esses protocolos que não adotaram o atendimento precoce foi o pior de tudo. Qualquer doença que você tenha é ensinado nos primeiros sintomas a correr e fazer uma profilaxia, iniciar o tratamento. Não esperar que se adoeça para daí iniciar o tratamento. Foi um erro gravíssimo ensinar as pessoas a ficarem em casa e aí quando tivessem sintomas de falta de ar, por exemplo, procurar um médico. Quando a doença se instalou nos pulmões, aí as pessoas buscavam o médico e os medicamentos não funcionavam mais. Infelizmente nós tínhamos um vírus e não nos foi dado esse alerta preventivo. Simplesmente fiquem em casa. E a doença chegou na casa. ‘Não vá para os parques’. Outro erro gravíssimo. Sou psicóloga, quando o paciente está com stress, depressão, a gente recomenda passear no parque, curtir a natureza. E o lockdown simplesmente fechou tudo. Foi um lockdown burro. Deveria ser ‘fique em casa, mas’. Os primeiros quinze dias porque não conhecia a doença, vamos equipar os aparelhos públicos. Mas daí a informação do ‘fique em casa’ total. A pessoa não pode andar na rua, não podia ir nos parques. Sendo que se sabe que o vírus não é um vírus que você fala e ele fica voando pelo espaço. É um vírus pesado que não atinge em um espirro mais de dois metros, por isso o distanciamento social. Adotar o uso de máscara, distanciamento e álcool gel seria suficiente. E a abertura dos comércios respeitando os 30% de ocupação seria suficiente. E não colocar a população nesse jugo, opressão. E nesse terror midiático. Cada vez que a secretária da Saúde dava um boletim, era um boletim de terror. O maior erro foi a politização do Covid. Ao invés de reconhecer o que estava errado, não estava dando certo, não. Eles simplesmente passaram um documento na Secretaria de Saúde não recomendando o uso da cloroquina. Isso também foi grave.

CONSERVADORES
‘Muitos traíram Bolsonaro por interesse pessoal’

Bem Paraná – A senhora se coloca como representante do eleitorado conservador que segue o presidente Jair Bolsonaro. Mas nas eleições deste ano em Curitiba, temos outros candidatos que são aliados de Bolsonaro, como o deputado Francischini (PSL). O próprio Democratas, do prefeito Rafael Greca, apoia o governo Bolsonaro. O que diferencia sua candidatura em relação a eles?
Marisa Lobo – Todo mundo se diz apoiador do Bolsonaro. E de fato, em 2018, muitas dessas pessoas apoiaram o Bolsonaro. Mas isso não quer dizer que eles estão nessa luta conservadora há anos, como eu, comprovadamente. Qualquer pessoa que for na internet e colocar ‘Marisa Lobo’ vai encontrar no twitter referências de audiências públicas que eu participo com o Bolsonaro, ele como deputado, há muito tempo. A gente tem um projeto juntos. A diferença é que eu tenho um projeto conservador e nós construímos isso desde 2011, e esses que você citou não estavam lá. Eu estava lá. E a diferença é de que ganhando a eleição do Bolsonaro, nós continuamos apoiando o Bolsonaro independente se ganhamos a eleição ou não. Se temos cargo ou não. Isso não foi importante.

BP – Mas em termos de ideias, onde está a diferença?
Marisa Lobo – A diferença é que eu sou próxima nas pautas conservadoras. A diferença é que eu fui curtida pelo presidente Bolsonaro três vezes esse ano e nenhum desses foi. A diferença é que eu nunca traí o presidente Bolsonaro, nunca pressionou pedindo cargos, nunca fiz vídeo xingando de palavrão. E nunca tratei o presidente Bolsonaro da forma como o atual prefeito trata. Tudo o que ele fala, por exemplo, do Covid, e fazendo tudo ao contrário. Ou usando o ex-ministro deposto Mandetta como consultor da sua Secretaria da Saúde, negando os protocolos que o governo estava indicando para os municípios. A única coisa que eles fizeram foi pegar o dinheiro que o Bolsonaro deu. Esses prefeitos que confrontaram que preferiram ouvir o ex-ministro a ouvir os decretos do presidente, não podem dizer que são afinados com o Bolsonaro. O presidente disse que não vai apoiar ninguém no primeiro turno. Vai apoiar no segundo turno. Quem disser que vai apoiar no primeiro turno está mentindo. Eu tenho um recado que o Bolsonaro me mandou através de um amigo: ‘foca na gestão e prepara o couro para apanhar’. Muitas pessoas estão com Bolsonaro. Outras, por interesse pessoal, traíram o Bolsonaro. É só entrar na internet e procurar a lista de traidores.

BP – Uma das pautas conservadores é o chamado projeto ‘escola sem partido’. Algumas leis já foram considerados inconstitucionais pelo Supremo. A senhora pretende adotar esse projeto?
Marisa Lobo – Na verdade tem muita coisa no ‘escola sem partido’ que eu era a favor, mas também que eu era contra. Sou contra a erotização infantil através de imagens, apostilas, e a ideologia político-partidária. O que não vou querer e vou lutar junto com os professores é essa questão de doutrinação político-ideológica. É a mesma coisa. Hoje é o Bolsonaro presidente e eu vou ideologicamente colocar o Bolsonaro em todo canto. Não posso. Porque aí eu vou impor uma ideologia, um partido político. O que eu quero para a educação, tenho até dois livros falam de ideologia de gênero na educação. O que a gente não quer que ideologias sejam implantadas que vão contra o que a família quer para os seus filhos. É nesse sentido. Agora nós vamos voltar com o plano de carreiras que é um direito dos professores. Eu quero que a escola seja um lugar para debater ideias, mas sem imposição de lados. Nesse sentido que eu lutava pelo escola sem partido. Não vou colocar o escola sem partido, mas vou lutar contra essa ideologia político-partidária com certeza.

POLÊMICA
‘Eu denunciei o kit gay’

Bem Paraná – A senhora teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Psicologia por supostamente defender o tratamento da homossexualidade. Isso foi revertido na Justiça. O que realmente aconteceu?
Marisa Lobo – Na verdade foi o maior fake news da história foi essa questão da “cura gay”. Foi uma mentira que inventaram. Eu estudava a ideologia de gênero na educação. O que eu era contra era doutrinar crianças com uma teoria que diz que menino não nasce menino e menina não nasce menina. Então falei que isso não podia ser ensinado na escola. Aí houve um tal de um ‘kit gay’, que era o kit anti-homofobia. E esse kit gay tinha cenas erotizantes. Que na minha opinião como mãe e também como psicóloga, achei que aquelas cenas eram erotizantes para as crianças. Ensinar orientação sexual para crianças pequenas, no ensino fundamental. Você não pode falar de ideologia, diversidade, com crianças pequenas porque aí é invadir o poder dos pais. Cabe aos pais a educação moral e religiosa dos seus filhos. Então você antecipa fases do desenvolvimento e pode erotizar uma criança com apenas uma imagem. Muitas crianças que eu atendi são viciadas, têm compulsão sexual com seis anos, porque viram imagens pornográficas no computador ou na televisão. Nós temos que entender que a infância tem que ser protegida. Eu denunciei o ‘kit gay’. Escrevi uma carta para vários deputados, entre eles o Bolsonaro na época, e eles começaram a ler a minha carta na tribuna. Quando eles leram, o movimento ativista LGBT radical da época começou a me perseguir. E eles fizeram 140 denúncias que eu curava gay. Não sei de onde apareceu esse negócio de cura gay. E naquele desespero de me defender, porque eu tinha pacientes homossexuais, sempre tive, tenho 27 anos de profissão e nunca tentei curá-los nem induzir convicções religiosas, nem de orientação sexual, fiquei desesperada por eles, por respeito a meus pacientes. Aí eu comecei a me defender. Como sou cristã evangélica coloquei um post no meu twitter: ‘Deus cura, sara e liberta’. Mas eu estava falando com uma menina que tem depressão. Não estava falando como psicóloga. Estava falando como uma cristã. Essa frase se tornou um mantra dos opositores dizendo que eu estava falando de gay. Eu não estava falando isso, estava falando de uma amiga em depressão. Eles começaram a me xingar, humilhar.

BP – E como esse processo acabou?
Marisa Lobo – Os deputados fizeram três audiências públicas para discutir o meu caso. A OAB do Paraná fez um relatório dizendo claramente que o meu caso era de perseguição religiosa. Eles acabaram com a minha profissão mentindo que eu curava gay e eu só fiz me defender. E nessa de defesa eu realmente disse que eu não curava gay. Mas que o ser humano tem direito de ser o que ele quiser. Se ele quiser ser gay ele é gay, e se ele quiser deixar a condição de homossexual, ele tem direito de buscar essa ajuda. Se isso vai acontecer, não sei. E isso virou um caos. Resumindo 140 denúncias chegou no meu processo apenas quatro. Das 4, na primeira audiência já foram embora e ficou só uma militante sem advogado. E essa militante cassou o meu registro. Aí eu entrei na Justiça, fiquei um mês em depressão porque não sabia o que tinha acontecido. Não curo gay, nunca ofereci cura para gay entendo que a homossexualidade não é uma doença. Acho que eles quiseram manipular não para afetar a Marisa, mas os religiosos, quem pensava diferente, porque eles estavam tentando espaço no governo conseguir dinheiro para as lutas LGBT. Me pegaram para cristo na verdade. Eu tive que desmentir a vida inteira. Passei por cinco, seis processos para me defender. Até que em 2018 venci em terceira instância o Conselho de Psicologia. Eles tentaram no Conselho Federal, chegou lá o processo não tinha consistência o processo. Como eles descobriram que eu não curava gay: porque três homossexuais que eram meus pacientes me defenderam. Os próprios homossexuais acabaram me defendendo dizendo: ‘ela nunca ofereceu nada, nunca induziu convicções religiosas ou sexuais’. Eles me deram uma censura porque eu sou psicóloga e digo que sou cristã. Aí eu fiquei com a fama de psicóloga cristã. Eu disse que não ia me retratar. Eu aceitei o rótulo e hoje sou conhecida como ‘psicóloga cristã’. Graças a isso escrevi dez livros pela editora do Silas Malafaia. Eu assumi esse rótulo de psicóloga cristã porque eu respeito a fé das pessoas. Eu nunca falei de religião no consultório. Nessas audiências públicas o primeiro deputado que foi me defender foi o deputado Bolsonaro. E aí eu virei a Marisa Lobo, a conservadora, porque lutava por essas pautas. Não existe essa história de cura gay, isso é invenção, fake news. Mas foi essa perseguição que me fizeram nessa época que me trouxe até aqui. E com essa perseguição me deram visibilidade, e deram visibilidade para a causa conservadora.

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