Rodolpho Zanardo – “Enquanto você aponta um dedo para algo ou alguém

Existe um ditado que diz: “enquanto você aponta um dedo para algo ou alguém, três estão voltados para si”. Onde você está apontando seu dedo para as atitudes alheias nessa pandemia?

As dores e perdas causadas pela ação direta ou indireta do Novo Coronavírus são incomensuráveis. A vida virou um marcador, mas isso já somos faz tempos, quando determinam nossa existência por um número protocolar. Somos estatísticas das instituições, de uma projeção econômica, do credo, do ranking da existência.

O que trago aqui pelo ponto de vista psicanalítico e comportamental é sobre nós mesmos. Sobre a nossa postura diante de medidas governamentais, nossas convicções e especialmente da nossa responsabilidade nesse momento.

Particularmente vejo a pandemia como uma lente de aumento sobre nós mesmos no mundo. Algo superdimensionado da nossa personalidade e consequentemente da poeira guardada sob o nosso tapete. Agora com restrições severas e atuações incisivas sobre nosso cotidiano, o piloto automático foi desativado. E o tapete não serve mais de esconderijo.

Porém, outro dilema emerge: como vou ser eu nesse caos? Aí que surge o dedo a apontar no outro, a causa de todos os males.

Estratégias de defesa – Por que em vez de entender nossas ações e emoções, buscamos atacar aquilo que nos ofende? São estratégias de defesa, de tirar o corpo fora, como se diz mais comumente.

Para não ser atacado, se ataca antes e a questão do julgamento aqui traz à tona a seguinte reflexão: seu questionamento é baseado na sua dor? na legítima dor de seu grupo ou é mais uma canto da sereia para fazer coro com a horda?

O dedo apontado cada vez que há uma mudança, muitas vezes revela nossa incapacidade de provocar uma mudança ou uma avaliação real. Vamos pelo andar da carruagem ou daquilo que a psicanalista Maria Homem chamou de “estrutura subjetiva humana”, quando classificamos bem e mal, pela alienação ou culpa do outro, além do vitimismo social “do sistema”.

Nessa pandemia, quando deixamos a bandeira ou a crença em segundo plano e resolvemos com o ego adulto, há uma percepção, mesmo que breve, de que as atitudes tomadas por uns, afetam os outros, assim como se comporta o vírus. O que é serviço essencial? Posso mandar filhos para escola? Fico isolada sem ver ninguém? Essas e outras dezenas de ações influenciam o todo. O que não se percebe na maioria das vezes, é que a atitude que meu dedo aponta como “errada” no meu vizinho, julga as condições dele para tal.

Vivemos dias não apenas de falta de bom senso, mas essencialmente de consenso. Se meu dedo aponta ao outro que não se isola, os meus outros dedos lembram que me isolo na minha bolha, que também se diz isolada e formamos nichos de isolamento, ou seja, não há isolamento.

Há quem esteja entregue ao mais alto grau de dor física e mental, isolado do seu viver e assim retira a dor com a própria vida. E ainda aqueles que sem qualquer condição humana, isolados nas marquises da vida na rua, cutucados apenas quando precisam sair de cena, a fim de não “estragar” a paisagem urbana.

Para onde seu dedo aponta? Ou agora é a hora de abrir a mão para efetivamente ajudar quem precisa, mesmo que seja a si mesmo.

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Outra leitura da coluna sobre lockdown AQUI

*Ronise Vilela é criativa de conteúdos de Comunicação Afetiva e Psicanalista Integrativa.

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**Essa coluna tem o apoio da CONSONARE, maior plataforma de Terapias Integrativa da América Latina