
Quem nunca recebeu de pessoas mais velhas as famosas correntes repassadas por aplicativos de mensagens, ou figurinhas fofas dos avós? Mas para Eva de Oliveira Salvalaggio, 71 anos, mãe de três e avó de sete, o uso dos aplicativos vai bem além disso. Proporciona a realização de cursos e o encontro com amigos e familiares, ainda que digital, sem sair de casa.
“Quando eu quero falar com familiares, um a um ou em grupo, uso as chamadas de vídeo, porque fica bem ‘real’ o contato. Meus filhos têm nos carros o comando de voz, eu não uso, mas certamente me adaptaria, caso fosse necessário. Eu tenho me esforçado para me adequar a tudo que está ao meu alcance”, disse Eva, segura de si.
A idosa também detalha como foi superar o isolamento necessário pela pandemia de Covid-19, com o auxílio da tecnologia.
“Foram dois anos reclusos, passando por todas as datas festivas, só eu e meu marido aqui em casa. Quantos aniversários, páscoa, natal, nós passamos dessa forma? Mas acho que foi uma grande conquista, pois mesmo com as restrições mais leves, muitas pessoas continuaram a trabalhar e arcar com os compromissos de foram virtual”, conta Eva que também frequenta as aulas da Universidade Aberta da Maturidade, da UFPR.
A exemplo de Eva, a tecnologia tem impactado na qualidade de vida dos idosos em seus lares, é o que revela o estudo da doutoranda em design pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Maria Lilian de Araújo Barbosa, que trabalhou por duas décadas com design de interiores. O levantamento integra a pesquisa de doutorado que aborda como envelhecer melhor em casa, desde as políticas públicas, com os acessos à residência, até em como o ambiente residencial impacta diretamente na saúde física e mental da pessoa idosa. Para a primeira etapa do estudo, a pesquisadora entrevistou, por plataforma digital, 50 idosos, 25 mulheres e 25 homens.
“Com a pandemia, mais de dois bilhões de pessoas ficaram isoladas. Aqui no Brasil, segundo a última Pnad, são 37,7 milhões de pessoas têm 60 anos ou mais, 2,1 milhões delas no Paraná. Nós identificamos três necessidades dessa população na primeira etapa da pesquisa: a questão dos equipamentos e infraestrutura, em que eles reclamam na qualidade da Internet; o letramento digital, em que os idosos relataram não ser difícil de aprender, mas de encontrar pessoas capacitadas para ensiná-los; e o chama do ageísmo digital, que é a exclusão pelo mais jovens, em ambientes digitais”, disse Maria Lilian, que busca analisar a conexão entre o ambiente físico e o digital.
Soluções e exemplos
Segundo a doutoranda em design pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Maria Lilian de Araújo Barbosa, o estudo tem o objetivo de trazer soluções para esses três aspectos que os idosos relataram como necessidade. A pesquisa será apresentada em julho, em evento científico sediado na Suécia, mas com apresentações virtuais.
“Temos pesquisas excelentes no Brasil, mas os nossos legisladores não estão usando essas pesquisas”, lamentou a pesquisadora, que também ressaltou medidas simples que vêm sendo implementadas e ajudam a melhorar a qualidade de vida dos idosos em seus lares.
“A automatização também ajuda, como as assistentes digitais alexia, siri e outras, que podem ser bastante aplicadas na questão de ajuda, aconteceu com uma amiga que caiu e não conseguia nem ligar, ela pediu ajuda pela assistente digital por comando de voz. O acesso por voz foi uma revolução no tocante à assistência a idosos. Ter esse acesso monetário/social é fundamental”, disse.
Do analógico ao digital
A orientadora da pesquisa, professora doutora Maria Lúcia Leite Okimoto, da UFPR, alerta também para a responsabilidade da família dos idosos. “Para não se colocar em situações de risco é preciso respeitar que não há mais a habilidade e a família também tem que estar atenta a essas mudanças. Em relação a oferecer esses meios tecnológicos, há bastante coisa ‘analógica’ já disponível que melhora a qualidade de vida do idoso, pois mantém a autonomia dele, sem desmotivar pela perda natural da habilidade, visão, coordenação motora etc., como agulhas especiais, canecas com dispositivos para auxiliar a segurar, assim como talheres”, contou a professora, e adiantou que pretende promover, com apoio do governo do estado, uma exposição que aborde como promover a qualidade de vida, com segurança e tecnologia, dentro das residências de idosos.
“Tudo que assiste e garante melhor funcionalidade são tecnologias assistivas que podem analógicas ou digitais, elas garantem o acesso a uma funcionalidade ou habilidade perdida, prejudicada”, finalizou.
MAIS
Conectados
Uma pesquisa da Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL), em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), realizada no ano passado com 414 pessoas acima dos 60 anos, de todas as capitais brasileiras, mostrou o crescimento de uso da internet pelos idosos no país. De acordo com o levantamento, 68% deles acessavam a rede mundial dos computadores em 2018 e, três anos depois, eram 97%.
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