‘Oppenheimer’: além de abordar o que seria a origem da bomba atômica, filme viaja por nomes conhecidos da história (divulgação / Universal)

O marketing de ‘Oppenheimer’, filme que estreia nesta quinta-feira (20) em Curitiba, continha a promessa de mostrar a explosão de uma bomba atômica de verdade. Sem usar CGI (imagens geradas por computador), que seria a solução lógica para casos como esse. Até por isso, chamar o filme ‘Oppenheimer’ de “bombástico” é um lugar-comum irresistível. Mas aplicável.

A começar por quem assina o filme: Christopher Nolan. É dele a direção e o roteiro, baseado no livro ‘Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer’, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin. De Nolan sempre se esperam obras cinematográficas de qualidade, grandiosas, relevantes, bombásticas, não necessariamente com narrativa linear. Isso pelo menos desde 2000, com ‘Amnésia’. Basta citar a trilogia ‘Cavaleiro das Trevas’ (2005, 2008 e 2012), do Batman, e a ‘A Origem’ (2010). Essa grandiosidade muitas vezes acaba criando expectativas altas demais, como em ‘Interestelar’ (2014) ou ‘Dunkirk’ (2017), que nem sempre se cumprem. Em ‘Oppenheimer’, ela se cumpre, com um apuro estético impecável, grandioso, bombástico. O próprio Nolan recomendou que o filme fosse visto em iMax, para enriquecer a experiência do espectador.

Nolan também conseguiu reunir um elenco bombástico. Cillian Murphy finalmente ganha um personagem protagonista em filmes do diretor, após 18 anos de parceria como coadjuvante em obras dele. É ele quem interpreta o cientista Julius Robert Oppenheimer, casado com Kitty (Emily Blunt), mas amante de Jean (Florence Pugh). Robert Downey Jr encarna o senador Lewis Strauss, líder do Comitê de Energia Atômica dos Estados Unidos. E há espaço para atores conhecidos em papéis menores, porém significativos, como Matt Damon, Rami Malek, Casey Affleck, Gary Oldman, Josh Hartnett, Tony Goldwyn e Kenneth Branagh.

‘Oppenheimer’ conta duas histórias em paralelo. Uma, a criação do Projeto Manhattan, encabeçada por Oppenheimer. O projeto foi concebido nos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Na época, os Estados Unidos ainda não tinham certeza se os grandes inimigos eram realmente os nazistas ou os soviéticos comunistas. Mas sabiam que os cientistas alemães estavam avançados em pesquisa nuclear e que a partir dali poderiam vir armas extremamente poderosas em meio à guerra. O que os norte-americanos poderiam fazer é tentar uma ultrapassagem nessa corrida. Mas para isso precisavam das melhores mentes científicas – e tudo de forma secreta, claro; vai que tem espiões no caminho… A outra história é a do xadrez político em torno do projeto. Já se disse que os Estados Unidos ainda não tinham certeza se os grandes inimigos eram realmente os nazistas ou os soviéticos comunistas? Então…

Além de abordar o que seria a origem da bomba atômica, o filme viaja por nomes conhecidos da história, como os presidentes norte-americanos Franklin Roosevelt, Harry Truman e Dwight Eisenhower, o todo-poderoso do FBI J. Edgar Hoover, o senador Joseph McCarthy – que se notabilizou pela perseguição incessante a qualquer um que tivesse qualquer suspeita de ligação com o comunismo – e cientistas como o alemão Albert Einstein (autor da Teoria da Relatividade e da equação E=mc2, fundamental no cálculo de energia de uma bomba atômica), e o dinamarquês Niels Bohr (autor do modelo atômico com núcleo e elétrons em órbita).

Ah, sim, a bomba de verdade do filme… Em 16 de julho de 1945, semanas antes de lançar duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, os Estados Unidos fizeram um teste de campo de uma explosão nuclear no estado norte-americano do Novo México. O teste foi batizado de Trinity. Nolan declarou ele e sua equipe de efeitos visuais recriaram esse primeiro teste de bomba atômica, sem uso de computador, mas que isso é diferente de detonar uma bomba real em um set de filmagens. “Por um lado, é muito bom saber que as pessoas acham que eu seria capaz de algo tão extremo por um filme. Mas, convenhamos, também é um pouquinho assustador”, disse ele, ao ‘The Hollywood Reporter’. Assustador é pensar que, como ‘Oppenheimer’ mostra, os cientistas constroem coisas assim e são os políticos que mandar jogar. Bombástico mesmo.

Quem foi Oppenheimer

Cillian Murphy à esquerda) e o verdadeiro Oppenheimer (à direita)

Julius Robert Oppenheimer nasceu em Nova York em 22 de abril de 1904. Filho de um imigrante alemão, graduou-se na Universidade Harvard em 1925. Mudou-se para o Reino Unido e estudou física na Universidade de Cambridge. Foi convidado pelo matemático alemão Max Born para ingressar na Universidade de Göttingen (Alemanha), onde obteve um doutorado em 1927. E conheceu outros físicos eminentes, como Niels Bohr. Depois de uma curta passagem pelas universidades de Leiden (Holanda) e Zurique (Suíça), regressou aos Estados Unidos para lecionar física na Universidade de Berkeley (Califórnia) e no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi recrutado para trabalhar no Projeto Manhattan e em 1943 foi nomeado diretor do Laboratório de Los Alamos, no Novo México, encarregado de desenvolver as armas. Ele estava entre os que observaram o teste Trinity em 16 de julho de 1945, onde a primeira bomba atômica foi detonada com sucesso. Em agosto de 1945, as bombas foram usadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki – até hoje, é o único uso de armas nucleares em uma guerra. Após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se diretor do Instituto de Estudos Avançados em Princeton (Nova Jersey). Fumante compulsivo, morreu de câncer de garganta em 18 de fevereiro de 1967, aos 62 anos.