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A prática de “malhar Judas” tem origem histórica e cultural incerta. Uma delas chegou ao Brasil com os portugueses, onde pela tradição da Idade Média, a figura do Judas era associada ao diabo e considerada um símbolo do mal. Acredita-se que, nessa época, a prática consistia em queimar um boneco simbolizando Judas, como uma forma de expurgar o mal.

Em geral, a prática de “malhar Judas” se espalhou por vários países de tradição católica e tornou-se uma parte da cultura popular, especialmente durante a Semana Santa. Isso acontece porque, na Bíblia, Judas Iscariotes é apontado como sendo o discípulo que traiu Jesus Cristo, entregando-o às autoridades judaicas e romanas que o condenaram à morte por crucificação. Na noite em que Jesus foi preso no Horto das Oliveiras, Judas identificou-o aos soldados romanos com um beijo, sinalizando que aquele era o homem que deveria ser preso.

Malhar Judas é errado, afinal?

Não há uma resposta única e definitiva para essa pergunta, pois depende de diversos fatores, incluindo o contexto cultural, religioso e histórico em que a prática ocorre. Contudo, para nós que estamos inseridos no século XXI, podemos compreender que esta prática de “malhar Judas” já não deveria mais ser aplicada aos dias de hoje.

Afinal de contas, o Evangelho é muito claro ao falar que Judas se arrependeu e tentou devolver o dinheiro que recebeu, mas os sumo sacerdotes judeus se recusaram a aceitá-lo. Segundo a tradição, Judas teria se enforcado em seguida, em um ato de desespero e remorso pelo que havia feito.

Podemos então, compreender que Judas pode representar cada um de nós que, mesmo tendo a proximidade com a mensagem de Jesus, podemos cometer equívocos ao longo da vida – seja no campo da fé, seja também na esfera humana e social.

As razões exatas pelas quais Judas traiu Jesus são incertas e têm sido objeto de debate e especulação há séculos. No entanto, de acordo com os evangelhos canônicos da Bíblia, Judas traiu Jesus por dinheiro. Assim como Judas, nós também podemos ao longo da vida ter momentos de dúvida, de vaidade, de ganância, de desejos, vindo a trair aos outros e a nossos próprios propósitos quando estamos desconectados de nossos valores e objetivos de vida que pareciam mais sólidos.

Ana Beatriz Dias Pinto comenta sobre a humanidade de Judas Iscariotes e a importância de não se malhar Judas, personagem que traiu Jesus, mas se arrependeu.
O ato de “malhar Judas” desrespeita a figura do traidor de Jesus, pois ele certamente encontrou misericórdia em seu gesto derradeiro de arrependimento. (Imagem: Pixabay)


Judas Iscariotes foi perdoado por Jesus?

Ainda que a traição de Judas possa ser considerada um dos eventos mais dramáticos e importantes da história do cristianismo que levam ao contexto da Paixão, é importante lembrar que, após a prisão de Jesus, Judas teria se arrependido.

Ele tentou devolver o dinheiro que recebeu, mas os sacerdotes judeus se recusaram a aceitá-lo. Segundo a tradição, Judas teria se enforcado em seguida, em um ato de desespero e remorso pelo que havia feito. Por essa razão, o ato de “malhar Judas” desrespeita sua figura, pois ele certamente encontrou a misericórdia de Deus em seu gesto derradeiro de arrependimento.

Ainda que Judas tenha sido fraco na fé e atentado contra a própria vida, ele é um personagem que pode ser compreendido como um reflexo de nós mesmos. Em primeiro lugar, pela dificuldade dos seres humanos em compreenderem a centralidade da mensagem de Cristo. Em segundo, porque todos nós podemos errar de alguma maneira – seja com Deus, seja com os outros. Por essas razões, é totalmente possível que Judas tenha sido perdoado, pois o Amor e o Perdão são mensagens centrais do Evangelho de Jesus Cristo.

Jesus coloca o amor e o perdão como virtudes essenciais para a vida cristã. Mesmo quando cometemos pequenos atos de traição, como roubar, enganar ou magoar outras pessoas, podemos encontrar redenção através do arrependimento e da busca pelo perdão. É importante lembrar que Deus sempre está disposto a nos perdoar, desde que estejamos verdadeiramente arrependidos e dispostos a mudar.


Atos de violência x fé verdadeira

A fé verdadeira não comunga com atos de violência. Por esse motivo, criar bonecos de Judas e, mais ainda, colocar cartazes neles com nome de políticos, jogadores de futebol ou pessoas que de alguma maneira sejam “canceladas” pela opinião pública, tira o Evangelho de seu contexto de amor, perdão, reconciliação.

A Semana Santa é um momento de reflexão sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, e pode ser uma oportunidade para buscar o perdão e recomeçar. É importante lembrar que Deus sempre está disposto a nos perdoar, desde que estejamos verdadeiramente arrependidos e dispostos a mudar. É um ato muito mais interior do que exterior.

É por esse motivo que “exteriorizar a fé” por meio de pancadas em um boneco, não demonstra uma fé centralizada na mensagem cristã. Pelo contrário, incita à violência de modo despropositado, demonstrando falta de empatia e compreensão do ato desesperado de uma figura histórica que hoje é um pouco mais compreendida à luz da psicologia da religião e outros modos de enxergar o ato de Judas.

Portanto, não importa a dimensão da traição de Judas a Jesus Cristo! Olhe para dentro e reflita se você sempre foi fiel ao seu relacionamento com Ele. Lembre-se de que o perdão está disponível para todos aqueles que o buscam sinceramente.

Aproveite esta Semana Santa para refletir sobre sua vida e seus atos, e busque o perdão para passar esta Páscoa com o coração renovado.