A cultura de uma sociedade emerge de um diálogo de saberes, do encontro de pessoas diferentes em culturas distintas, capazes de se apropriar de conhecimentos nas mais diferenciadas racionalidades e identidades étnicas.

Aparentemente, tanto nas comunidades mais complexas ou simples, por não estarem atentas apenas às preocupações abstratas, as mulheres têm se revelado mais práticas e mais solidárias, pois no âmbito feminino o cuidado é cultivado, já que filhos e toda a família estiveram normalmente sempre a seu encargo.

Mulheres estão em maior número na docência de crianças, na enfermagem, na assistência social e muitas outras profissões onde o cuidar é condição de exercício diário, que torna feliz quem o pratica. Para mulheres, e alguns homens, a aproximação estreita entre ideias e as práticas do cotidiano são indispensáveis para a manutenção saudável da nossa própria existência.

Diálogo permanente com as tarefas costuma ser necessário para um colóquio entre saberes potenciais da natureza e dos sentidos da cultura; das identidades coletivas germinam as diversidades culturais baseadas no princípio ético que se transforma em diretriz pedagógica de compreender e colocar-se no lugar do outro, de respeito ao outro e atenção às suas necessidades.

No entanto, falar sobre o diálogo entre os diferentes saberes para produção do conhecimento traz a possibilidade de entender todas as práticas que constroem ciência, tecnologia e inovação, revelam desafios, dado que a pluralidade de necessidades e especificidades, as mudanças demográficas, condições sociais individuais ou coletivas demanda a união de esforços para que não haja apagamento e marginalização de outros saberes que não sejam o hegemônico ocidental, já que cada vez mais enfrentamos a incerteza e complexidade da realidade.

Garantir a vida com qualidade não é trabalho apenas feminino, mas de todos, diálogo não constitui atividade puramente técnica, porém uma filosofia, forma de conversação consigo mesmo ou com o outro, na qual pensamos e debatemos em conjunto, trocando significados e compreensões; uma troca dinâmica de interpretações e reinterpretações, clarificadas e expandidas.

Hoje falamos muito na comunicação não violenta, pois as pessoas estão cada vez mais impacientes e irritadas, as vezes mesmo agressivas, como se qualquer discordância implicasse em inimizade e falta de respeito mútua. A necessidade de reaprendermos a ouvir, a ponderar antes de responder e principalmente não sermos nós a origem das perguntas ou respostas em tom mais alto, raivosas ou de má fé.

Frequentemente esquecemos que diálogo envolve um processo de escutar, ouvir e só depois falar, ouvir é um processo contínuo de tentar entender o que pensamos que a outra pessoa disse e o que pensamos que escutamos; é preciso ser genuinamente curioso, fazer perguntas para aprender mais a respeito do que é dito (não do que achamos que deve ter sido dito) e checar para saber se o que pensamos ter escutado é o que a outra pessoa esperava que tivesse ouvido.

É preciso convidar o outro a falar novamente, só assim podemos ouvir e responder mais uma vez, nos propondo a sermos mais confiáveis, capazes e competentes, e este não tem sido um comportamento comum, pessoas se desentendem em filas de supermercado, em sinais de trânsito, em ambientes escolares.

Num mundo ideal diálogo seria o evento em que uma parte enuncia suas opiniões, ideias, argumentos, propostas, é ouvida pela outra parte que então faz o mesmo, ao final as partes refletem sobre o que ouviram e, não necessariamente há consenso ou concordância, mas acréscimo de conhecimento e respeito mútuo. Infelizmente este mundo é apenas ideal, sonhado… na realidade é cada vez maior a substituição do diálogo pelos monólogos coletivos, em que cada um fala, acredita estar sendo ouvido, não ouve o que outros dizem e mantém-se do mesmo tamanho intelectual ou espiritual, ou menor. 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.