Geralmente após feriados e finais de semana constatamos a ocorrência de vandalismo aparentemente gratuito em equipamentos urbanos, na vegetação e até contra animais.

São atos estúpidos de agressão que não se explicam por algum tipo de retorno ou vantagem para quem os comete; apenas representam a tentativa de obter protagonismo pela ação: na impossibilidade de criar ou construir alguma coisa, essas pessoas destroem o que conseguem tocar e, dessa forma julgam-se admiradas e respeitadas pelos demais.

Em muitos casos a explicação está em algum tipo de deformidade educacional, como se os vândalos padecessem do que se convencionou chamar de “má educação”, ausência de certos limites civilizatórios. Em outros, trata-se de algo muito triste: o sentimento de não cidadania, os bancos de praça, árvores e outros bens que seriam de todos não são “deles”, apenas são utilizados temporariamente por uma concessão da sociedade que aparentemente não os quer incluir; e o ato de destruí-los simula uma apropriação, como crianças pequenas que desmontam seus brinquedos.   

O lugar e o sentimento de pertencer a algo tem inúmeras definições na esfera comunitária, e podemos dizer que este sentimento implica em olhar para si mesmo e reconhecer-se como integrante de uma sociedade repleta de símbolos, valores éticos e morais, mas principalmente de características culturais nas quais nos sentimos completos e à vontade.

Esta sensibilidade nos círculos sociais em que vivemos carrega as singularidades da nossa formação emocional, o tipo de vida social que desejamos, a coletividade que julgamos representar, mas também os medos, as alegrias e aspirações que nos constituem.

A própria formação cultural dos habitantes da cidade onde vivemos consolida a intimidade ou estranheza das transformações dos espaços e dos discursos carregados com ideias modernizadoras ou preservacionistas. Tais transformações criam e apagam memórias, destroem a possibilidade de experiências, ou formam novos ambientes, redes relacionais, a importância ou percepções de minorias que nos afetam, paisagens permeadas pelas pessoas que atuam nela, os contraditórios daquilo que nela vivemos.

A flexibilização do trabalho, facilitada por técnicas impensáveis algum tempo atrás, também têm levado à precarização dos inter-relacionamentos, pois do ponto de vista do trabalhador as novas relações e condições de exercê-lo tornaram-se mais instáveis; e sobrepondo-se a isso, o deslocamento e perda de postos de trabalho vem agravando as situações de desemprego e subemprego, aumentando as situações de exclusão e tensão social.

O acesso aos conteúdos das redes sociais, aos serviços diversificados pelos meios eletrônicos, ao mesmo tempo que diminuem as fronteiras entre os espaços da casa e do trabalho, podem diminuir e não aumentar o tempo do lazer, trazendo cansaço e ansiedades, além de um certo senso de distanciamento.

A tecnologia, que por um lado aumenta a inclusão, por outro pode representar um dos maiores empecilhos à inclusão de todos, o acesso pleno à tecnologia de comunicação vai muito além do fornecimento de máquinas e conexões, está agregada a um complexo conjunto de fatores, que envolvem além dos recursos físicos também os humanos e sociais.

O acesso pleno às novas tecnologias exige domínio de conteúdo, letramento, educação cultural e bom conhecimento das estruturas institucionais, o que é bastante distante de boa parte da população brasileira.

Sem acesso, todos os benefícios parecem “coisas dos outros”, algo a que não se pode aspirar porque pertencem a uma classe de privilegiados, aqueles que usufruem as maravilhas do mundo que precisamos destruir para compensar a insatisfação de não serem de pertencimento realmente de todos.

Por isso o espaço escolar deve, para transformar-se em local favorável à aprendizagem, ser um ambiente agradável de estar, onde nos sintamos integrados e pertencentes, desencadeando a aproximação afetiva e emocional, despertando significados, sentidos e valores e desenvolvendo identidades. Cidadania implica em pertencimento.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.