Observando a reação infantil dos perdedores no recente processo eleitoral, irresponsáveis que aceitam prejudicar o país em ações ilegais como bloqueios de estradas e outras manifestações que se destinam a provocar o que chamam de “ação militar”, percebe-se a falta de um bom sistema educacional no país como um todo.
Felizmente o segmento profissional das forças armadas, em sua maior parte, não permite sua própria utilização como gazua para golpe de estado, é recente a má lembrança da última ditadura militar que sofremos e o desgaste que representou aos seus participantes; exemplos de atitudes maduras são essenciais às futuras gerações para determinar o que esperar na convivência de uma comunidade.
Basta observar a maneira pela qual são educadas as crianças em todos os países do mundo: educação é, na verdade, um esforço contínuo para guiar os ainda imaturos sobre maneiras de ver, de sentir e de agir às quais estes não assumiriam sem a orientação da coletividade.
Desde o início de suas vidas, crianças são orientadas ao que comer, beber, e a dormir em horas regulares, a terem hábitos de higiene, a serem flexíveis; a tentar desenvolver empatia e solidariedade, apesar da tendência natural ao egoísmo e benefício próprio.
Hábitos transformam isso em algo natural, e uma educação racional reprova deixá-los agir em plena liberdade, sob pena de não formar o ser social; a pressão sobre elas é a própria pressão da comunidade em que vivem, sendo pais e professores apenas representantes e intermediários.
Tutores necessitam bom senso para interpretar as correntes de pensamento, entender quais são as majoritárias e a despertar o espírito crítico dos jovens, sem leva-los à agressividade e ao desrespeito às normas apenas pelo espírito de rebeldia. Educar não é simples, implica reflexão e muito diálogo, colocar uma tocha nas mãos de seres ainda em formação pode não levar a um bom resultado.
O sociólogo Emile Durkheim (1897-1982), ao analisar as mudanças na organização social ao longo dos tempos, considerava que embora cada vez mais permissiva e menos coesa, estas ainda submetiam o desejo individual ao coletivo, e isso provoca perda de referências, pois o social constrói o pessoal.
Algumas tecnologias são consideradas revolucionárias na medida em que introduzem profundas alterações tanto no tecido social quanto nas formas de pensar, agir, sentir e ser de seus contemporâneos. A internet é uma dessas tecnologias revolucionárias e, por isso mesmo, vem trazendo consequências de mudanças totais na configuração da sociedade.
Estudiosos afirmam: “No ano de 1500, cinquenta anos depois da invenção da prensa tipográfica, não tínhamos a velha Europa mais a imprensa. Tínhamos uma Europa diferente”. Da mesma forma, a criação da primeira fonte de energia manipulada pela humanidade, independente de animais de carga, o vapor ao final do século XVIII, transformou radicalmente o mundo pela mecanização do trabalho e consequente aumento da capacidade produtiva, que acarretou o surgimento das grandes cidades e suas fábricas. Tudo mudou, e em velocidade vertiginosa.
Novas regras sociais, econômicas, e políticas, afetaram a vida de todos, algo semelhante ao que a internet e seus profundos impactos na vida comunitária, mesmo para pessoas ainda alijadas do uso dos recursos computacionais.
Após a revolução das mídias sociais, cujas consequências mal passamos a compreender, instituir mudanças na escola, adequando-a às exigências da sociedade do conhecimento, constitui hoje um enorme desafio educacional, pois ali estão envolvidos inúmeros fatores além do professor e dos alunos, são muitos os participantes do processo, e a estrutura política de uma sociedade é o modo pelo qual os diferentes segmentos convivem com os demais.
Mesmo as gerações anteriores deixaram um legado de comportamentos, visões de mundo, regras jurídicas e máximas morais que determinam desde maneiras como nos divertimos, costumes profissionais e até a moda; a educação transmite esta herança cultural, impedindo velhos erros, e provê a capacidade de adaptação às mudanças, e isso faltou ao país neste momento.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.