Dentre as terríveis consequências dos recentes eventos de inundações e secas extremas, não podem ser esquecidos os constantes fechamentos de escolas, provocando perdas muitas vezes irrecuperáveis de conteúdos essenciais para a formação de nossas crianças e jovens, além da falta de continuidade do processo educativo em si, interrompido por dias e algumas vezes meses. Como, infelizmente, as mudanças climáticas são um fato concreto e que tende a se intensificar, é imperativo a adoção de medidas para poupar no possível as gerações futuras de seus piores efeitos.

Cerca de três quartos da população do planeta vive em áreas afetadas por desastres, sejam eles naturais ou provocadas pela ação humana, agravados pelo fato de que a maior parte delas vivem em países de média a baixa renda, nos quais estes eventos atingem proporções mais visíveis e de mais difícil reparo. Mudanças climáticas representam uma ameaça crítica para o futuro, dado que promovem aumento na frequência e gravidade de eventos que por si já seriam catastróficos como ondas de calor, inundações, furacões, incêndios; e pela perspectiva de mudanças mais duradouras como o aumento do nível do mar, desertificações, alterações no cultivo de alimentos. Além do efeito direto de qualquer desastre natural, é preciso levar em conta as inúmeras consequências indiretas que podem advir.

Pesquisadores levantam dados alarmantes, como o de que aproximadamente um quarto dos adolescentes no mundo já foram envolvidos em um desastre natural em suas vidas e proporção significativa deles esteve exposta a ferimentos de alguma ou muita gravidade, o que aumenta a vulnerabilidade de crianças e adolescentes para a piora de seus estados de saúde mental.

Isso na verdade é um dos impactos menos conhecidos das alterações climáticas, a perturbação à saúde mental dos afetados, todos parecem pensar que, passado o pior, recuperados os prejuízos materiais tudo volta ao absolutamente normal para todos, faltando atenção ao estado emocional como condição ampla do bem-estar, como se saúde mental equivalesse apenas à ausência de uma doença específica, desprezado depressões e desadaptações diversas.

Sempre foi dito que o Brasil seria um lugar privilegiado pela natureza, em que além da evidente beleza natural houvesse uma espécie de sursis às catástrofes que acometem outro países como terremotos, furacões e vulcões, porém até pelas dimensões continentais, diversidade de clima e relevo, estamos sujeitos a outros tipos de desastres, como chuvas muito fortes, granizo, geadas, secas e muitos outros que fazem parte da natureza do planeta e são imprevisíveis, mesmo com o avanço da tecnologia.  

No entanto alguns desastres são provocados, direta ou indiretamente, pelo próprio ser humano como ações terroristas, incêndios urbanos, explosões, desastres industriais, armazenamentos de produtos perigosos, rompimento de barragens, causados pela ação ou omissão, e tem sido cada vez mais frequentes. O Ministério da Saúde brasileiro em 2018 estimou que aproximadamente 226 milhões de pessoas são afetadas por desastres naturais e 102 milhões de pessoas são afetados por enchentes a cada ano no mundo, com grande intensidade de seus impactos nas condições sociais e econômicas dos países atingidos.

Populações ribeirinhas no campo, e mesmo centros urbanos com parte de seus moradores próximos aos cursos de água são acometidos por uma série de mazelas, principalmente devido à  contaminação por lixo, ou por longos períodos de secas costumam ser os primeiros a sofrer o fechamento de suas instituições escolares, constituindo isso em dupla injustiça: além de perder seus bens, habitações e mesmo suas vidas, têm dificultado um dos caminhos mais legítimos de melhoria de vida.

Escolas de qualidade, em funcionamento normal com bons professores e infraestrutura adequada são insubstituíveis para a recuperação econômica de um país e a saúde mental da juventude.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.