Não existe registro de livros infantis antes do século XVII, e isso se deve ao tipo de conceito que se tinha sobre a criança até este período. Na Idade Média entendia-se a criança como um pequeno adulto, que não seria um ser singular, com psicologia própria, e bem mais tarde a criança passou a ser vista como um serzinho gracioso e ingênuo, quase um objeto de distração dos adultos nas classes mais altas, e de trabalho nas menos favorecidas; livros voltados a eles deveriam sedimentar valores morais e utilitários, com contos de fadas moralizantes e muitas vezes cruéis.

O que chamamos hoje de literatura infantil ocidental surgiu em meados de 1600 na França, com oito contos publicados por Charles Perrault, escritor e poeta francês considerado atualmente o pai da Literatura Infantil, e os contos eram: Contos da Mãe Gansa, A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.

Mas na verdade Perrault estava interessado em mostrar a equivalência entre valores dos antigos greco-latinos e franceses, e na realidade intelectual e sentimental feminina, assim sendo realizou uma coleta de narrativas populares para divertir as crianças, e em especial as meninas, para influenciar a formação moral das futuras mães de família.

A criação de uma literatura voltada aos pequenos foi fundamental para o surgimento das histórias em quadrinhos, embora narrativas através de desenhos tenha acompanhado a humanidade desde a pré-história, tanto nas pinturas rupestres, que mostravam rituais relacionados à caça, quanto nas paredes das grandes pirâmides do Egito e no livro dos Mortos, feitos mitológicos na cerâmica da Grécia e várias outras manifestações. Um bom exemplo de história completa foi a tapeçaria de Bayeux, final do século XI, com quase setenta metros de comprimento, contando em detalhes a conquista da Inglaterra pelos Normandos.

Mas como a entendemos hoje, histórias em quadrinhos surgem na metade do século XIX, acompanhando os avanços dos jornais impressos. Sua proliferação se deu com o surgimento dos jornais humorísticos ilustrados já no século XIX, e expandiu-se muito até porque boa parte da população era analfabeta, e evidentemente preferia ilustrações e notícias contadas através do desenho.

No Brasil, as Aventuras de Nhô Quim foram publicadas à partir 1869, contando a vida de um homem simples do nosso interior com forte sentido abolicionista e republicano, e em 1905 foi lançada a revista Tico-Tico específica para o público infantil.

Maurício de Souza, o autor de quadrinhos que até hoje fazem sucesso, inicia em 1959 com os personagens Bidu e Franjinha, que foram seguidos por Cebolinha, Cascão, Horácio, Chico e outros,  tendo Mônica surgido em 1965, e algumas características desses personagens e muitos outros tem explicado a fascinação deste gênero, pois tudo que aparenta ser filhote, da raça humana ou outros animais, provocam em nós afeto e cuidado.

Da mesma época, cerca de 1960, Ziraldo Alves Pinto, recentemente falecido, lançou a revista “Pererê”, a primeira revista em quadrinhos de autoria de um único artista, com características supostamente infantis agradava também o público adulto pela ironia política que a permeava.  

Entender um enredo por meio de desenhos é algo perfeitamente adaptado ao pensamento infantil, e além de informar e entreter, tem papel pedagógico.

Crianças e jovens adoram desenhar e ilustrar pequenos contos e passagens interessantes de suas vidas, daí o sucesso dos mangás entre eles. Estas historietas com origem japonesa, com personagens de grandes olhos e muita movimentação são excelentes para apreender a atenção, e professores utilizam para tópicos de suas disciplinas mantendo assim o interesse na aprendizagem.

Histórias que contam com personagens feminino, negros e indígenas orientam sobre os estereótipos de sexo, classe e raça, e auxiliam o conhecimento da vida social, mostrando situações e valores culturais, são material valioso para escolas, e hoje plenamente aceitas. O sistema educacional não se limita ao ensino de Ciências, inclui Artes, e até Humor.  

Bem utilizados, os recursos visuais complementam e diversificam as aulas, tornando as atividades curriculares divertidas e facilmente compreendidas. Aprender sem sofrimento é o ideal de alunos e docentes.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.