Em períodos de retorno às atividades escolares, é lamentável saber que nem todos os estudantes irão voltar, pois a evasão escolar é uma triste realidade brasileira.

Dizemos sempre que a educação é a chave para o sucesso no cenário da economia global nesta sociedade do conhecimento, das relações estruturadas por meio da ciência e tecnologia, em especial pela crescente importância dos meios de informação e comunicação; e o impacto do acesso à internet na educação no Brasil ainda não foi perfeitamente pesquisado, em que pesem estudos sistemáticos realizados para conhecimento dessa realidade e a necessidade de novas políticas públicas, para aumentar a possibilidade do Estado no fornecimento das respostas às demandas sociais por educação de qualidade.

Diminuímos as taxas de analfabetismo, que ainda continua alta, com milhões de jovens entre 15 e 17 anos fora das salas de aula, e no ensino superior, embora tenhamos ampliado o acesso da população em idade universitária, tal providência ainda é insuficiente para garantir um real desenvolvimento econômico de um país de dimensões continentais.

No ensino médio, a falta de professores qualificados ou com possibilidade de qualificação em médio prazo, é um problema crônico, acrescido dos problemas de infraestrutura, segurança nas escolas e muitos outros que afetam a capacidade de um ensino-aprendizagem que promova o crescimento intelectual e cultural dos alunos.

Existe sim uma evolução positiva no cenário da educação nacional, embora ela ainda represente  um desafio longe de ser superado, e para aqueles que se envolvem de forma ativa no processo educacional, falta ainda toda a sociedade unida no compromisso permanente pela educação.

A evasão é considerada um dos maiores e mais preocupantes desafios do sistema educacional, fator de desequilíbrio e desajustes dos objetivos pretendidos. Por um lado, garantimos maior acesso – por outro, contraditoriamente a evasão é consequência do ingresso das classes com menor poder aquisitivo ao ensino superior, pois não temos conseguido manter esse aluno de baixa renda na universidade.

O fator financeiro representa um dos motivos para que a cada ano um maior número de alunos abandone a graduação, além de currículos pouco adequados para o enfrentamento do mundo do trabalho.

Estudos sobre evasão mostram que a classe socioeconômica, a escola de origem e o local de residência do estudante, grades curriculares antiquadas e a dificuldade do aluno para apresentar bom desempenho escolar impedem que permaneça até o final. E isso é particularmente sensível nas áreas de Exatas, com a maior concentração de evasão em profissões fundamentais para que o país se torne competitivo, e quando um aluno desiste de um curso, em instituições públicas ou privadas, o prejuízo não é só do estudante e da escola, porém do país como um todo.

Embora sejam relevantes os aspectos sociais considerados como determinantes da evasão escolar, como a desestruturação familiar, desemprego, desnutrição, a escola e o próprio jovem, este não é um problema restrito apenas a poucas escolas, e sim uma questão nacional que vem ocupando importante papel nas discussões e pesquisas educacionais que incluem a não valorização dos profissionais da educação expressas tanto na baixa remuneração quanto nas precárias condições de trabalho.

Outro agravante é o processo de inclusão do aluno quando associado a pessoas com necessidades especiais, como deficientes auditivos, paraplégicos, autistas e outros, enfatizando a dificuldade tanto por parte dos professores não especializados para lidar com a diversidade em sala de aula, quanto a falta de infraestrutura e ausência de um plano efetivo e contínuo de qualificação docente.

Continuamos discutindo exclusão versus inclusão e diferença versus igualdade, enquanto assistimos ao não retorno de muitos estudantes em todos os níveis de ensino. Todos perderemos.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.