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O filme sul-coreano ‘Parasita’ fez muito mais que vencer o Oscar de melhor filme, na premiação que se encerrou na madrugada desta segunda-feira (10). ‘Parasita’ também fez história. E não apenas porque desbancou favoritos. Mas porque tornou-se o primeiro filme estrangeiro a levar o Oscar para casa. Não é sempre que um filme faz história. Mas ‘Parasita’ é um sinal dos tempos da Academia de Artes e Ciências cinematográficas, que parece cada vez mais aberta para o mundo.

Desde a primeira cerimônia do Oscar, em 1929, que terminou com a vitória de ‘Asas’ (produzido em 1928), sempre era um filme americano quem levava o prêmio máximo. No máximo, inglês ou australiano. Mas sempre produzido no idioma inglês – ainda que fosse mudo. Jamais um estrangeiro. Alguns chegaram perto, como o italiano ‘A Vida é Bela’ (1998), de Roberto Benigni. Ou o chinês ‘O Tigre e o Dragão’ (2000), do taiwanês Ang Lee. Ou o mexicano ‘Roma’ (2018), de Alfonso Cuarón. Todos perderam – para ‘Shakespeare Apaixonado’, ‘Gladiador’ e Green Book: O Guia’, respectivamente. Esses vencedores são filmes mais acadêmicos, mais ao gosto do público norte-americano, ou mais fortes na hora do lobby junto ao eleitorado.

Contudo, a academia tem sinalizado mudanças nos últimos 15 anos. Mudanças atentas com diversidade, representatividade e globalização.

Um marco é ‘O Segredo Brokeback Mountain’, de Ang Lee, com temática abertamente gay. Na época, 2005, chocou. Gerou piadas e preconceito. E não venceu – quem levou foi ‘Crash: no Limite’, de Paul Haggis. Ang Lee, contudo, faturou o prêmio de melhor diretor ao mostrar sem clichês o amor entre dois homens no meio-oeste americano. Hoje, personagens abertamente gays estão mais comuns no cinema.

Outro exemplo veio em 2009, com ‘Guerra ao Terror’, dirigido por uma mulher, Kathryn Bigelow. Era azarão contra o superfavorito ‘Avatar’, de James Cameron, mas venceu mesmo assim. E Kathryn ainda faturou o Oscar de melhor diretora, sendo a primeira mulher a conquistar tal feito na história – curiosamente, Cameron era seu ex-marido. O prêmio abriu espaço para mulheres no comando.

Em 2013, ‘Doze Anos de Escravidão’, filme do inglês Steve McQueen, teve a coragem de expor as agruras de ser um negro livre numa América ainda escravagista e racista. McQueen não levou o Oscar de melhor diretor, mas o filme ganhou o prêmio máximo. E o cinema dirigido por negros e com negros como protagonistas se fortaleceu. Abriram-se portas para ‘Moonlight’, de 2016, vencedor do Oscar, e ‘Pantera Negra’, um marco da Marvel.

Já a abertura aos estrangeiros parecia se encaminhando há alguns anos. Desde 2013, entre os sete vencedores de Oscar de melhor diretor, os mexicanos somam cinco: Alfonso Cuarón (‘Gravidade’, 2013, e ‘Roma’, 2018), Alexandro Gonzalez Iñarritu (‘Birdman’, 2014, e ‘O Regresso’, 2015) e Guillermo del Toro (‘A Forma da Água’, 2017). Ainda houve Damien Chazelle (‘La La Land’, 2016). E, obviamente, Bong Joon-Ho, de ‘Parasita’.

Bong Joon-Ho ainda conseguiu outro feito histórico. Produtor, diretor e roteirista do filme, ele levou quatro Oscars para casa – o quarto é o de melhor filme estrangeiro, a grande barbada da noite. Jamais alguém havia ganho tantas estatuetas em uma única noite. “Me desculpa por levar muitos desses”, falou, humildemente.

Pode-se dizer que o processo pelo qual passa a Academia é gradual. Provavelmente ainda sofre resistências internas. Mas em alguns aspectos a sociedade parece estar em regressão; abrem-se portas para males que deveriam ter ficado no passado, como mentiras, preconceito e desrespeito aos diferentes. Nesse contexto, a Academia mostra que é possível caminhar para a progressão. O sul-coreano ‘Parasita’ vencer o Oscar é mais uma prova disso. E por isso faz história.

Todos os vencedores do Oscar 2020

Melhor Filme: ‘Parasita’
Melhor Direção: Bong Joon-Ho – ‘Parasita’
Melhor Atriz: Renée Zellweger – ‘Judy’
Melhor Ator: Joaquin Phoenix – ‘Coringa’
Atriz Coadjuvante: Laura Dern – ‘História De Um Casamento’
Ator Coadjuvante: Brad Pitt – ‘Era Uma Vez Em Hollywood’
Roteiro Adaptado: Taika Waititi – ‘Jojo Rabbit’
Roteiro Original: Bong Joon Ho e Han Jin Won – ‘Parasita’
Trilha Sonora: Hildur Guðnadóttir – ‘Coringa’
Canção Original: (I’m Gonna) Love Me Again – ‘Rocketman’
Fotografia: ‘1917’
Figurino: ‘Adoráveis Mulheres’
Edição: ‘Ford vs Ferrari’
Maquiagem e Cabelo: ‘O Escândalo’
Design de Produção: ‘Era Uma Vez Em Hollywood’
Edição de Som: ‘Ford vs. Ferrari’
Mixagem de Som: ‘1917’
Efeitos Visuais: ‘1917’
Melhor Animação: ‘Toy Story 4’
Documentário: ‘American Factory’
Filme Estrangeiro: ‘Parasita’ (Coreia do Sul)
Curta Animado: ‘Hair Love’
Curta Documentário: ‘Learning to Skateboard in a Warzone’
Curta de animação: ‘The Neighbors’ Window’

Vencedores do Oscar que estão em cartaz em Curitiba
‘1917’ (fotografia, mixagem de som, efeitos visuais)
‘Adoráveis Mulheres’ (figurino)
‘Coringa’ (ator, para Joaquin Phienix, e trilha sonora)
‘Era Uma Vez… em Hollywood’ (ator coadjuvante, para Brad Pitt, e design de produção)
‘Ford vs Ferrari’ (edição, edição de som)
‘Jojo Rabbit’ (roteiro adaptado)
‘Judy’ (atriz, para René Zellweger)
‘O Escândalo’ (maquiagem e cabelo)
‘Parasita’ (filme, diretor, roteiro original e filme estrangeiro)