Educar uma criança não pode ser confundido apenas com reparar seus possíveis erros, mas sim identificar e permitir o desenvolvimento de seus talentos, pontos fortes, qualidades e aspectos positivos de seu temperamento.

É importante utilizar um pouco de psicologia no dia-a-dia não exclusivamente para identificar patologias e fraquezas, mas também força e virtude; temos reconhecido as características psíquicas das pessoas infelizes, porém pouco ou quase nada sobre aquelas que são felizes. Queremos, cheios de boas intenções, diminuir o mal-estar de todos, no entanto parecemos pouco preocupados em aumentar o bem-estar delas. Só muito recentemente os estados afetivos positivos, como felicidade, otimismo, resiliência, gratidão, solidariedade estão despertando atenção.

Viver bem parece ter relação com o fortalecimento das relações comunitárias e solidárias, os espaços comuns e as mais diversas formas de viver coletivamente, respeitando a diversidade humana e a natureza, variedade biológica e equilíbrio de todos os sistemas vivos.

É evidente que o nível de acesso a bens e serviços não está relacionado apenas com rendimentos financeiros, mas também com acesso à educação, saúde, segurança, lazer, cultura, esporte, e aos direitos básicos que garantem bem-estar.

Memórias, acontecimentos vividos pessoalmente ou pelo grupo, coletividade à qual a pessoa se sente pertencer, são parte integrante do que chamamos felicidade. Acontecimentos dos quais as pessoas muitas vezes nem participaram, mas que emocionalmente tem tamanho relevo que se torna quase impossível conseguir saber se houve ou não participação direta, um fenômeno de projeção ou de identificação tão forte que constitui quase uma memória herdada, são importantes neste sentimento, e o mesmo acontece em relação aos lugares, tão particularmente ligados a uma lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo cronológico.

Acontecimentos vividos por pessoas com quem convivemos, contados e recontados muitas vezes, parecem fazer parte de nossas próprias lembranças, tão vívidas que muitas vezes é quase impossível separá-los daqueles realmente experienciados, e quanto mais avançados no passado, mais complicado se torna apartá-los de nós.

Lugares de infância, de comemoração, monumentos, ou então aqueles longínquos, fora do espaço e do tempo próprio da vida de uma única pessoa, vestígios coletivos de datas privadas e públicas que trazem felicidade ou profundas tristezas.

A Depressão é uma doença mental, talvez a de maior incidência atualmente, definida, diagnosticada e tratada por profissionais, uma de suas vertentes e em parte provável causadora é o pessimismo, que convive com seu oposto, o otimismo.

Numa simplificação: pessimistas esperam o pior, em quaisquer circunstancias estarão preparados para que tudo dê errado, ou pelo menos que tudo não dê tão certo, e quando, numa situação perfeitamente normal, algo falha sentem-se confortados pelo acerto de suas previsões. Otimistas esperam o melhor, mesmo contra a lógica e as probabilidades, acreditam que dará tudo certo.

Dentro do princípio não escrito das profecias autorrealizadas, há uma tendencia real de que pessimistas tenham menor sucesso do que otimistas.

Essas características de personalidade, a menos de casos realmente patológicos, provavelmente decorrem de uma forma seletiva de memória: todos têm sucessos e fracassos de vários tipos e intensidades, todos passam por situações embaraçosas, todos brilham eventualmente em alguma aula ou reunião. A diferença está na interpretação, o otimista lembrará preferencialmente seus sucessos e usará estas lembranças a seu favor como uma garantia de repetição, o pessimista estará trancado no fracasso passado que o condena ao fracasso futuro. Num universo estatístico amplo a constatação provável seria de que o número de situações positivas e negativas se iguala, variando sua lembrança e interpretação.

Acumular recordações negativas impede a alegria, as positivas a atraem. Felicidade depende em grande parte dessas boas reminiscências, e a convivência escolar costumam multiplica-las.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.