Acontece com alguma frequência que estudantes ou prestadores de concursos públicos ao realizarem provas não obtenham o resultado esperado, em muitos casos haviam se preparado bem, estudado com afinco e tinham o conhecimento necessário para um bom desempenho. No entanto “deu branco”, as informações ou práticas foram esquecidas momentaneamente, e no pior momento. Isso é tão mais comum quanto mais importante para a pessoa for o evento.
Uma explicação para esses fatos é a condição emocional dos “amnésicos” temporários. A expectativa pelo sucesso, que significaria aprovação em provas acadêmicas ou acesso a empregos desejados, é tão grande que oblitera a capacidade de realização.
Os amigos, familiares e professores sempre recomendam tranquilidade aos prestadores desses exames, o que é um bom conselho mas nem sempre exequível, o estresse parece se sobrepor à vontade.
No mundo corporativo fala-se em “inteligência emocional”, algo que seria mais importante do que o próprio conhecimento sobre as atividades dos negócios e do que a inteligência racional, na verdade aquela forma de inteligência é complementar a esta e não dispensa de forma alguma o conhecimento. É a qualidade de exercer a gestão com calma, lucidez e criatividade não importando o nível de exigência de cada situação.
Cabendo o início do poema “Se” de Rudyard Kipling:
“Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando…”
Essa autoconfiança é decorrência de muitos fatores vindos desde a primeira infância, se a criança foi amada e ouvida por pais, professores e colegas; educação das emoções tem imensa importância no processo de formação de qualquer ser humano, e professores sabem que muitos dos problemas que denominamos educacionais, principalmente quando envolvem atitudes agressivas e crueldades, na verdade podem ser explicados por desamor, ou amores insuficientes, principalmente no ambiente familiar. Desconfiança, hipocrisia, violências, são todos desagregadores da personalidade, e impedem um processo de desenvolvimento pessoal de boa qualidade.
Feridas e cicatrizes levadas pela vida afora atrapalham todas as formas de ensino-aprendizagem, mesmo quando o foco é a perspectiva cognitiva, e quando se trata de ensinar atitudes, sem sintonizar o universo afetivo do aluno será simplesmente impossível.
É possível incorporar um pouco de conhecimento técnico sem refletir sobre ele, mas somos incapazes de adquirir valores, ter bons comportamentos e adquirir habilidades sem reflexão, sem momentos de alegria e apreciação de virtudes.
São dois componentes igualmente importantes e complementares no processo educativo, a construção do conhecimento, a pesquisa, os conteúdos pedagógicos, e a valorização e desenvolvimento do ser humano em suas particularidades pessoais e emocionais. Se virmos a realidade de grande parte de nossas escolas isso parece utópico: turmas grandes demais e professores atarefados demais, muitas vezes precisando lecionar em vários lugares diferentes por sobrevivência, mas o simples interesse pelas pessoas que são seus alunos, a simples atitude de disponibilidade a eles e suas demandas, isso tudo leva à consciência de que são importantes, são vistos, existem. E por vezes é toda a diferença necessária; ninguém ensina sem atenção ao outro, aprendizagem necessita atenção e cuidados.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.