Uma das áreas de enfoque do Rotary Internacional é Educação Básica e Alfabetização, que tem como objetivo fortalecer a capacidade das comunidades de apoiarem educação básica e alfabetização, reduzir a disparidade de gêneros na área educacional e aumentar a alfabetização de adultos.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o analfabetismo ainda é a realidade de mais de 775 milhões de pessoas com mais de 15 anos, o que representa 17% da população adulta do mundo. No Brasil, cerca de 11,3 milhões de jovens e adultos eram analfabetos em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A alfabetização de adultos foi o que deu visibilidade ao trabalho de Paulo Freire (1921-1997), educador pernambucano, Patrono da Educação Brasileira, que no dia 19 de setembro faria 99 anos. Freire é o mais reconhecido educador brasileiro, homenageado com pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades brasileiras e estrangeiras.

Vencedor do Prêmio Educação para a Paz, concedido pela Unesco, Freire é o terceiro autor mais citado do mundo na área de ciências sociais, de acordo com pesquisa da London School of Economics, sendo que seu livro, “Pedagogia do Oprimido”, está entre os 100 mais pedidos pelas universidades de língua inglesa, segundo o projeto Open Syllabus, que reúne dados do mundo acadêmico, sendo o único brasileiro nesta lista.

ROTARY INVESTE  EM PROJETOS EDUCACIONAIS PARA REDUZIR DESIGUALDADES AGRAVADAS PELA PANDEMIA

Mas por que as ideias de Paulo Freire são tão relevantes? Porque sua abordagem procurava a formação integral do indivíduo, não dissociando o conhecimento teórico dos saberes da vida cotidiana dos alunos. Freire buscava uma aproximação com a realidade dos alunos, utilizando termos de seu cotidiano como “palavras geradoras” para alfabetizar e teve resultados impressionantes.

Em 1963 na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, 300 adultos foram alfabetizados em apenas 40 horas de aula, experiência registrada no documentário “As quarenta horas de Angicos”. O sucesso obtido mudou a realidade do município e foi documentado na produção “40 horas na memória”, sendo que os dois documentários estão disponíveis na plataforma YouTube.

Os livros de Paulo Freire colocam a educação como uma grande ferramenta de transformação social e a desigualdade social como resultado de um sistema educacional que a perpetua. Segundo Freire, a função do educador não é apenas transferir conhecimento, mas criar condições e fornecer os elementos necessários à sua construção, conduzindo ao pensamento crítico.

De fato, é evidente que a exclusão educacional agrava as desigualdades sociais. A baixa escolaridade acontece entre as pessoas mais pobres e é mais frequente entre os negros e pardos, cujo analfabetismo no Brasil atinge 11%, configurando-se em mais que o dobro da população branca, segundo o IBGE.

Outra questão que afeta a qualidade da educação no Brasil é que a profissão de professor não é valorizada social e economicamente. O salário médio de professores, pedagogos e licenciados é mais baixo do que o de outras profissões que exigem igualmente formação de nível superior. Além disso, as condições de trabalho são muitas vezes degradantes, com grande número de alunos por turma e falta de estrutura. As situações de desrespeito e violência enfrentadas em algumas escolas são um desafio para quem escolheu o magistério como profissão. Tal realidade muitas vezes leva às salas de aula profissionais desmotivados.

Além do investimento em estrutura e tecnologia há necessidade de formação continuada para que estes profissionais acompanhem as inovações tecnológicas e possam garantir melhor preparo dos alunos para um mundo em constante mudança. Essa não é uma realidade exclusivamente brasileira, mas de muitos países em desenvolvimento.

Pensando nisso, o Rotary desenvolve diversas iniciativas pelo mundo para melhorar a educação básica, seja fornecendo recursos físicos e tecnológicos para as escolas ou investindo no treinamento de professores.

Na Nigéria, por exemplo, o Rotary, em parceria com uma universidade, educa e alimenta crianças e adolescentes refugiados; no Afeganistão, rotarianos abriram uma escola para meninas a fim de interromper o ciclo de pobreza e a desigualdade social e, no Líbano, com mais de cem milhões de dólares em subsídios, os rotarianos estão fornecendo água limpa a todas as escolas para que os estudantes possam ter mais saúde e, consequentemente, melhor desempenho.

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A atuação eficiente do Rotary pode ser comprovada pelo Treinamento de Inovação para Professores do Nepal (NTTI), que incentiva o aprendizado infantil por meio da capacitação de professores.

Da mesma forma, no Projeto de Alfabetização da Guatemala, no qual mais de 600 clubes e 80 distritos têm trabalhado juntos desde 1997 para melhorar a educação de alunos carentes no país que sofrem com a pobreza extrema e onde um terço da população nativa é analfabeta. Este projeto envolve um programa de incentivo à leitura nas séries iniciais, com fornecimento de livros e computadores, além de um treinamento de dois anos para os professores a fim de aprimorar a forma como alfabetizam, substituindo exercícios de memorização e repetição por atividades que despertam o senso crítico dos estudantes.

Desde o início do projeto, mais de 225 mil alunos já foram favorecidos e obtiveram resultados 49% melhores do que a média nacional em compreensão de leitura. Com habilidades de leitura adequadas, esses jovens se tornam capazes de compreender um extrato bancário, uma cédula de votação ou uma bula de remédio, sendo que sem esta capacidade continuariam sendo alvos de exploração e injustiça e o ciclo da pobreza continuaria para eles e suas famílias.

Outro projeto que merece ser destacado é o Linha de Leitura do Distrito 4730, já aplicado a 6 mil alunos em cinco cidades do Paraná. Com um método holandês, cujo objetivo é criar o hábito de leitura nas crianças do ensino fundamental, que são avaliadas e agrupadas por seu nível de leitura, são entregues livros adequados ao nível das crianças, para que leiam em duplas diariamente por 15 minutos. Também há capacitação para os professores, que devem compreender o método para auxiliar as crianças. Este projeto superou as expectativas com a melhora dos resultados destes alunos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

A alfabetização é libertadora, a educação é o caminho para uma sociedade mais justa e o Rotary trabalha para a levar aos lugares onde é mais necessário.

É possível apoiar as iniciativas do Rotary associando-se a um clube, apoiando seus projetos ou fazendo doações, mas se desejar apenas saber mais sobre o impacto da educação nas transformações sociais, ler Paulo Freire é um passo.

* Marcele Minozzo é arte-educadora, mestre em Design pela UFPR, doutoranda, mãe do Bernardo e da Stella e rotariana.

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