Antes de começarmos essa conversa é preciso que a gente defina o que é empoderamento, afinal o termo foi tão distorcido nos últimos tempos que se faz necessário alinhar esse significado antes de mais nada. 

 

De acordo com o dicionário Aurélio, empoderamento significa:

“Ação de se tornar poderoso, de passar a possuir poder, autoridade, domínio sobre; exemplo: processo de empoderamento das classes desfavorecidas.” O dicionário vai além, oferecendo uma extensão deste conceito, caracterizando-o como gíria: passar a ter domínio sobre a sua própria vida; ser capaz de tomar decisões sobre o que lhe diz respeito, exemplo: empoderamento das mulheres.”

 

Note que a palavra empoderamento pode ser empregada para todos aqueles que buscam conquistar ou proteger direitos que, de alguma forma, foram negados ou negligenciados ao longo dos anos. Dito isso, podemos retomar nossa conversa sobre o empoderamento feminino, afinal estamos falando única e exclusivamente sobre equidade de gênero na sociedade em que vivemos e isso todos podem ser capazes de apoiar, não é mesmo? E por que isso se faz tão necessário?

 

A resposta para essa pergunta é longa, rende livros e inúmeras pesquisas, mas vou me ater aos dados atuais sobre as mulheres em nosso país:

  • As mulheres são a maioria da população brasileira, totalizando 51,8% de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual (Pnad Contínua), do IBGE, de 2019.

  • Apesar disso, no Congresso brasileiro elas são apenas 15%  das congressistas. Entre os vereadores, são 13,5% e entre os prefeitos apenas 12%, o que nos coloca nas últimas posições nos rankings da participação política feminina: de 190 países estamos na posição 152. 

  • E não é só na área pública que a representatividade não acontece. Nas empresas privadas de médio porte, as mulheres em cargos de liderança atingem 34%.

  • Nós também somos a maioria entre os que têm ensino superior. Das mulheres com mais de 25 anos, 23,5% concluíram a graduação, esse percentual entre os homens da mesma idade é de 20,7%. Os dados são do IBGE.

  • De maneira geral, as mulheres também têm, em média, mais tempo de estudo do que os homens. São 8,4 anos em média, enquanto os homens, 8,01 anos.

  • Ainda sim as mulheres ganham 77,5% do salário dos homens executando uma mesma função. Ainda que ela venha caindo nos últimos anos, os dados do IBGE mostram que os homens ganharam em média R$ 2.574 por mês no 1º trimestre de 2020, enquanto as mulheres receberam apenas R$ 1.995.

  • Os afazeres domésticos ainda recaem sobre as mulheres que gastam quase o dobro (21,4 horas semanais) do tempo que os homens (11 horas semanais) nesse quesito.

  • 1 em cada 4 mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, durante a pandemia de covid-19. Isso significa dizer que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. Aqui o agravante é que essa violência acontece, na grande maioria das vezes, por homens da convivência da mulher, 72,8% dos autores das violências sofridas são conhecidos das vítimas.

  • 4,3 milhões de mulheres foram agredidas fisicamente com tapas, socos ou chutes. Isso significa dizer que a cada minuto, 8 mulheres apanharam no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. 

  • 1.338 feminicídios foram registrados no Brasil em 2020. 

 

Quando falamos em empoderamento feminino falamos justamente em quebrar esse círculo de desigualdade e violência e oportunizar às mulheres condições reais de tomarem as rédeas da sua vida. Para isso, além do trabalho com as mulheres, é preciso trabalhar essas questões ainda na infância e adolescência, que não passa ilesa dos dados que não gostaríamos de ver, observe:

 

  • Em números absolutos, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking internacional de casos de casamento infantil.

  • O Brasil registra 6 abortos por dia em meninas entre 10 e 14 anos estupradas.

  • A cada hora, quatro meninas de até 13 anos são estupradas no país.

  •  1 a cada 4 mulheres faltou a aula por não poder comprar absorvente.

  • As meninas são mais do que o dobro de meninos entre jovens fora da escola e sem atividade remunerada.

  • Para meninas, ter um filho pode ser considerado um fator decisivo na hora de evadir do ensino médio. Das adolescentes fora do ambiente escolar, 29,6% são mães.

 

Podemos notar que os direitos e oportunidades das mulheres vão se esvaindo desde cedo. Constatamos também que falar de empoderamento feminino das meninas obrigatoriamente passa por um processo educativo dos meninos. E só um caminho é capaz de mudar esse cenário: a educação, sempre ela porque uma situação leva a outra, veja:

 

  • Meninas, especialmente em situação de vulnerabilidade, acabam em relacionamentos abusivos ainda antes dos 18 anos, o que leva a uma gravidez precoce e ao abandono da escola. É a escola que geralmente identifica os abusos e violências sofridas pelas crianças, longe da escola elas são um alvo ainda mais fácil.

 

Portanto, diante dessas informações, não é mais possível ignorar a realidade. Ela está aí e gritando na nossa cara. E o como nós faremos? Trabalhar pelo empoderamento das meninas deve ser um compromisso de toda sociedade e isso inclui o Rotary.

Mas como o Rotary pode trabalhar no empoderamento das meninas?

Reverter esse cenário é um trabalho que exige tempo, mas que precisa começar agora. Precisamos garantir a presença das meninas nas escolas, garantir acesso à informação e garantir perspectiva de futuro e garantir a educação dos meninos. Veja alguns exemplos de ações que os rotarianos e rotarianas podem se comprometer:

 

  • Fornecer ou garantir o acesso das meninas a absorventes, por meio da confecção do item pelos próprios rotarianos ou no investimento da compra de máquinas, ou ainda por meio da proposição de uma lei que garanta o acesso das meninas de baixa renda. 

  • Ampliar a conversa sobre o assunto em parceria com as escolas. É possível realizar fóruns, manifestações artísticas, debates, intervenções e uma série de ações continuadas. Outra possibilidade é incluir a produção de uma cartilha educativa para os alunos.

  • Dar acesso a saúde de maneira constante, informações importantes sobre seus corpos, gravidez precoce. Criar uma rede de apoio para escuta e acolhimento.

  • Capacitar as meninas para garantir sua independência financeira e dar a elas uma visão de futuro é fundamental. De cursos de corte a panificação, é possível estabelecer parcerias para possibilitar a formação no contraturno escolar. Mas aqui a recomendação é furar essa bolha mais emergencial, que tal oferecer cursos de robótica, programação e outras habilidades e competências que são cada vez mais essenciais para o mercado de trabalho do século XXI? 

São muitas as ações e projetos que os rotarianos e rotarianas podem encabeçar, o que o Rotary não pode é ignorar o fato de que trabalhar o empoderamento das meninas é uma demanda urgente.

* Raphaella Caçapava é jornalista, especialista em comunicação, marketing e gestão de negócios, rotariana associada ao Rotary Club Satélite de Curitiba Norte Inspiração.

 

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