Coping religioso pode ser alternativa para o enfrentamento da dor (Imagem: Pixabay)

Nós temos conceitos muito resumidos sobre muitas coisas, se assemelhando à uma criança; se você perguntar à uma criança sobre profissões, ela vai responder de forma bem resumida e sucinta: o bombeiro apaga o fogo, a professora ensina, e o médico e enfermeiro cuidam “da gente”.

O verbo cuidar remete à “responsabilidade”, e lembra o do latim “cura” a palavra que no português é cuidar e tratar (BOFF. 2013, p.28); se formos aplicar essas palavras em uma frase, saberemos que a responsabilidade do cuidar e tratar é a promessa feita por todos os profissionais de saúde, além de podermos ver a Ética para com o cuidado com a vida, também conhecida como a Ética das Virtudes de Aristóteles.

Essa vertente pensa muito nos meiostermos, ou melhor dizendo, nos equilíbrios; sem mais nem menos, o necessário. A ética Aristotélica na saúde diz muito sobre o que fazer, e o que fazer; o quanto lutar, e quando deixar ir. Tratar sobre um assunto como este é extremamente complicado e requer uma certa intimidade com o paciente, e para que o médico responsável possa ter liberdade para pensar sobre este assunto que gera discussões ao redor do globo, a morte e os cuidados nos momentos finais, é importante a existência de uma certa proximidade com o paciente em questão.

Fabrício Donizete da Costa (2009), faz uma citação a Suchman logo no início da introdução de seu artigo Empatia, Relação Médico e paciente e formação em medicina: Um olhar qualitativo; nesta citação ele enfatiza a importância de um vínculo empático no tratamento dos enfermos, destacando o impacto que uma boa Relação Médico Paciente tem ao longo do processo dos cuidados requisitados.

Se assim dito por Costa, juntamente ao longo de uma vasta gama de artigos com o mesmo teor, por que existe a desumanização do paciente no processo de morte? A desumanização é tirar características da humanidade de um indivíduo, sejam esta sua personalidade, criatividade, compaixão e amor, podemos ter noção do que seria o processo de desumanização no tratamento de um paciente.

Passar a agir com impessoalidade no tratamento de um caso terminal, pode ser encarado como um processo de isolamento, um mecanismo descrito por Freud (1894) como a separação de um evento incômodo de seu afeto, ou seja, para que o médico sofra menos com o processo de luto, ele cria um processo não proposital de “objetificação” do paciente.

Puchalski (2004), no seu artigo sob o título Spirituality, Religion and Healing in Palliative Care coloca a questão do fenômeno do Isolamento em pauta:

“Quando alguém está morrendo, o sistema de saúde não está equipado adequadamente para lidar com aquela pessoa, porque não há cura ou conserto. Isso talvez ocorra, em parte, por causa do fato de que cuidar dos moribundos desafie cuidadores a examinar questões sobre sua própria mortalidade. As questões que surgem podem ser dolorosas e assustadoras: – por que eu? – Por que meu amado ou meu paciente?”

A agonia do acaso, retratada nas perguntas imersivas, pode ser causa da busca da religião no ambiente do tratamento de enfermos, principalmente os terminais. É possível que para encontrar estas respostas, estes profissionais busquem a explicação do acaso na religiosidade. A agonia do acaso, retratada nas perguntas imersivas, pode ser causa da busca da religião no ambiente do tratamento de enfermos, principalmente os terminais.

Foi cientificamente comprovada a importância da Religiosidade e Espiritualidade no paciente, se tornando pauta de diversas discussões e pesquisas no cenário atual da ciência sobre o homem.

Nestas pesquisas também é ressaltada a importância da religiosidade no profissional, sabendo que respeitar e cultivar crenças religiosas e espirituais no paciente, traz uma melhor relação de confiança entre o profissional e o enfermo. Uma vez a relação de confiança estabelecida, é destacável a importância da Espiritualidade como terapia complementar aos cuidados com o paciente, principalmente nos cuidados paliativos.

Tal comportamento é estudado com diversas controvérsias; alguns profissionais da saúde julgam a religião como um tópico perigoso e nocivo para a saúde mental, uma vez que é causa de delírios, preconceitos com sexualidade e episódios de sentimento de culpa, assim como existem profissionais que admitem a importância em uma crença no tratamento de pacientes que possuam uma crença religiosa ou espiritual. (KAMBUY, Karine, 2006.)

O posicionamento que considera a religião como um tópico nocivo à saúde mental é uma minoria nas estatísticas quando se trata de artigos sobre o tema. No livro Bioética e cuidados Paliativos, é discutido no último capítulo, Espiritualidade em cuidados Paliativos: contribuição do coping religioso/espiritual, justamente a questão da espiritualidade e sua importância nos cuidados paliativos.

Esperandio (2016) começa o capítulo da seguinte forma: O debate sobre a integração da espiritualidade nas práticas de cuidado em saúde nasceu no contexto dos cuidados paliativos, de onde surge também a noção de “cuidado espiritual”. Os cuidados espirituais assumem importância especial no fim da vida. Tendo consciência da importância dos cuidados paliativos e do contato espiritual não só no leito de morte, mas também durante todo o processo de hospitalização, desde a preparação do paciente e familiar ao adeus (PUCHALSKI, 2009, p. 900-901), é perceptível a facilidade da criação de um vínculo com o paciente quando se tem uma conexão religiosa.

Em diversos artigos e sites, tanto sobre tanatologia quanto religiosidade, é evidenciado a importância da religiosidade do paciente nestes momentos finais, assim como é importante a fé do profissional, seja na sua religião ou na religião do paciente, com isso eu digo que um profissional que apoia a crença deste paciente nos últimos momentos tende a deixar o paciente mais confortável, podendo chegar a sanar algumas dores tanto da cabeça quanto do corpo; Dr. Frush, um médico pediatra, se declarava cristão e acreditava que sua crença contribuía para um melhor tratamento.

Ao se debater sobre Cuidados Paliativos, é essencial citar a pioneira Cicely Saunders, enfermeira que se especializou no cuidado de pacientes terminais. Saunders torna a tradição de cuidado de casas de repouso inglesas em um processo de cuidados, denominados hospice. O processo consiste na sistematização do foco de tratamento da dor, atenção a necessidades sociais, emocionais e espirituais dos pacientes terminais, além da formação de outros profissionais para este tipo de cuidado (CLARK, 2011, p.15).

Isto mostra o contraste entre a medicina tradicional, que nestas horas é dito “não há mais o que fazer”, e os Cuidados Paliativos, cujo conceito pode ser descrito por uma frase de Saunders: “Você importa porque você é você, e você importará até o fim de sua vida. Nós faremos tudo que pudermos não para que você possa morrer em paz, mas também viver até que morra.”

* Gabriel Haru é freelancer de Ilustração e Design e artista de Histórias em Quadrinhos. Estudante de Design na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e, em 2020, cursou a disciplina de Cultura Religiosa, do Eixo Humanístico da Escola de Educação e Humanidades da PUCPR.