Assim como leões, lobos e outros animais somos uma espécie gregária; a necessidade de proteção e as inegáveis vantagens para caçadas, coleta e agricultura conduziram nosso processo evolutivo para a formação de “tribos”. A princípio constituídos por núcleos familiares expandidos, esses clãs não tardaram a se tornar organizações sociais mais amplas.

A ideia de pertencimento a grupos ou comunidades é tão forte que permeia praticamente toda a nossa História, com as exceções notáveis de praxe temos muito poucas notícias de ações relevantes praticadas por indivíduos: Aníbal Barca, Júlio Cesar, Cleópatra, Sócrates, Platão, Alexandre, Pitágoras; e outros que são justamente qualificados em enciclopédias como “gigantes” ou “titãs”, mas que na maioria devem parte de suas realizações a outros que não são citados.

Bertolt Brecht em seu poema “Perguntas de um operário letrado” ilumina a questão: “Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros vem o nome dos reis, mas foram os reis que transportaram as pedras?” […] “O jovem Alexandre conquistou as Índias, sozinho? / César venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? / Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha chorou. E ninguém mais?”

Foi apenas após o século XV com o Renascimento que o “homem comum” passou a existir como entidade social, não mais apenas nobres, filósofos e políticos ocuparam o espaço. A individualização generalizada conduziu ao individualismo generalizado.

Diferenças culturais costumam explicar a variabilidade do comportamento social, e por isso existe um grande interesse de pesquisadores e acadêmicos brasileiros num intenso programa de pesquisas voltado para o aprofundamento dos aspectos conceituais e metodológicos implicados nestes temas.

Toda cultura subjetiva, ou seja, percepções compartilhadas do ambiente social, se manifesta em princípios e formas de viver, nos valores assumidos pela comunidade e também naquilo que esta entende como correto ou indesejado; o que estabelece as normas a serem seguidas por todos e até a hierarquia desta sociedade. Os padrões de crenças, atitudes, comportamentos e valores, podem ser considerados como síndromes culturais, e individualismo e coletivismo terminam sendo parte delas.

O individualismo é característico de culturas em que a experiência social se organiza em torno do indivíduo, já o coletivismo é caracterizado pelos laços associativos entre grupos e ao mesmo tempo pelas características das relações com aqueles que não pertençam a ele.

Esperamos comportamentos mais coletivos entre familiares, entre religiosos de uma mesma matriz filosófica, entre tribos (de jovens, de esportistas, etc…).

Nos últimos cem anos as populações migraram do campo, que já não supria suas necessidades, às cidades, que prometiam supri-las, tendo como resultado a proletarização da vida, o estabelecimento de comunidades precárias nas franjas da sociedade. Isso, somado à explosão populacional em larga escala, reduziu o sentimento de pertencimento a comunidades e causou a procura por identidades em novos “clãs”, por motivos semelhantes aos de nossos ancestrais remotos: proteção mútua e auxílio na busca de alimentos e bens de consumo.

Os grupos sociais que obtém maior sucesso são os que têm arraigada uma cultura coletivista, o esforço de todos voltado à elevação dos que considerem melhores, e que elevarão os demais na medida em que ocuparem posições destacadas, políticas, acadêmicas, comerciais. Isso foi praticamente norma entre imigrantes vindos do extremo oriente, e em menos de três gerações produziu grandes engenheiros, médicos, advogados, políticos, a partir de antepassados que sequer falavam nosso idioma.

Escolas formam grupos fortemente identificados, e quando nos orgulhamos delas isso desenvolve e aprimora toda uma sociedade.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.