Os adolescentes entre 10 a 19 anos representam cerca de 18% da população mundial, com quase 90% deles vivendo em países de baixa e média renda, e nesta fase as mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais são intensas.

Nesta época da vida temos o crescimento da autonomia, da independência em relação à família e, para o bem ou para o mal a experimentação de novos comportamentos e vivências, alguns representando  fatores de risco para a saúde, como consumo de álcool, alimentação baseada em fast food, uso de tabaco e sedentarismo, ou mesmo algumas drogas, normalmente estimulada pelo grupo ao qual pertence, embora nem todos desenvolvam um vício ou dependência séria.

No entanto, expor-se prematuramente a estes fatores poderá, mais tarde na vida adulta, predispor às doenças respiratórias, cardiovasculares, câncer ou diabetes, e uma série de outras doenças consideradas não transmissíveis, mas nem por isso menos perigosas.

Em termos de saúde pública, evidências tem apontado que estabelecer medidas de promoção à saúde antecipadamente, na infância ou adolescência, impacta positivamente a qualidade de vida, além de prolongar sua duração, trazendo benefícios inclusive econômicos para a vida pessoal e mesmo comunitária.

Muitos estudos confirmam que a morte prematura em adultos é de forma geral causada por comportamentos iniciados na adolescência, e quando mais de um fator estiver associado o risco será potencializado.

Por isso monitorar a saúde dos adolescentes tem sido recomendado globalmente nesta etapa, devido aos riscos presentes e futuros, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem recomendado fortemente este cuidado. Em países de profunda desigualdade social este cuidado deve ser maior, pois as variáveis raça/cor da pele é um importante preditor do estado de saúde da população, por constituir-se em marcador de desigualdades sociais, tendo impacto nas ocorrências epidemiológicas das doenças infecto-parasitárias ou epidemiologia nutricional.

Nos adultos, as taxas de analfabetismo, falta de assistência em saúde e piores condições de trabalho, homicídios e violências são também problemas de saúde pública, pois intercorrências devido a fatores socioeconômicos, afetam as pessoas desde a infância e agravam-se com o tempo.

Embora as escolas tenham, de forma geral, a preocupação de oferecer oportunidades iguais, identificar as necessidades dos estudantes que apresentam diferentes condições e necessidades, distintas condições de saúde e emocionais, não é um trabalho simples que poderia desenvolver sozinha, muitas outras entidades deveriam estar associadas nesta meta.

Crianças ou jovens com alguma doença crônica possivelmente terão dificuldades acadêmicas, sociais e emocionais, assegurar educação de qualidade para todos implica em compreender as situações muitas vezes de grande complexidade em que o estudante está imerso, e apenas isso permitiria programar e planejar atividades didáticas que assegurassem resultados semelhantes aos dos demais estudantes.

Se alguma doença dura por um período de tempo considerável, apresenta sequela ou necessita de período de hospitalização, o trabalho docente fica prejudicado. Um aluno apático ou com número excessivo de faltas necessitariam que professores fossem melhor informados de suas reais situações, e não apenas de suas doenças, mas também de prognósticos e tratamentos, possibilidades de emergências médicas e características de comportamentos e problemas psicológicos advindos do uso de medicamentos.

Isso não acontece na esmagadora maioria das instituições escolares, em qualquer nível. A estrutura de contato entre família e escola, salvo raríssimas exceções, é muito incerta no país, e quanto mais precária as condições sociais e econômicas da região, pior é o relacionamento.

Quando a família participa da educação dos filhos, um melhor rendimento na escola é observado, pois este é um importante recurso para a melhoria na aprendizagem e principalmente nas situações de fragilidades como as doenças, esta interação seria a garantia da sobrevivência e da proteção integral do processo educativo, enquanto a família propicia os aportes afetivos e materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar do estudante, a escola pode prover os conteúdos e valores culturais indispensáveis a uma boa formação, mesmo nos momentos difíceis.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.