O envelhecimento populacional é um problema que aflige os países mais desenvolvidos há algumas décadas. E o exemplo mais dramático é o do Japão, que sempre limitou a entrada em seu país aos descendentes de japoneses que haviam migrado no início do século vinte, movidos por falta de oportunidade e acesso à alimentação, causa de praticamente todo o dito “abandono” de nacionais em todo mundo; e mesmo esses novos refugiados estavam sendo aceitos em condições que causariam revolta no restante do mundo civilizado: deveriam provar descendência ou união estável com descendente.

Muitos países destinavam aos recém chegados os trabalhos que não interessavam ou repugnavam os donos da casa, então vemos profissionais qualificados trabalhando em limpeza ou chão de fábrica em função totalmente subalterna.

Mesmo sendo verdade que o padrão salarial é muito superior ao que esses novos migrantes teriam na origem e que, quando despachados de volta pois muitos poucos são aceitos, levarão uma quantidade de dinheiro que possibilitará melhoria radical de condição de vida em seus países.

Essa prática é comum, com menos seleção racial, em quase todos os países do “primeiro mundo” ainda que os migrantes, refugiados, asilados, ou por qual nome sejam conhecidos, odiados pelas populações locais que os vêm como concorrentes no mercado de trabalho, mesmo sendo em funções que não querem, ameaça às culturas locais, já degradadas por si mesmas, e risco de aumento de criminalidade aparente.

Na verdade a economia dos países desenvolvidos não sobreviveria sem o concurso de massas humanas dispostas a morar em cortiços, trabalhar em atividades insalubres e consumir produtos de má qualidade que a industrialização rejeita. A força dessas pessoas é a sua capacidade de sobrevivência associada ao elevado índice de natalidade; se um casal alemão intelectualizado terá no máximo um filho, o casal de refugiados que o serve terá cinco. A pressão demográfica será irresistível.

Oriundos normalmente de teocracias, com absoluta falta de educação para o controle populacional, ausência de expectativas mais altas que um simples prato de comida, acostumados a um controle religioso absoluto em todos os aspectos de suas vidas, normalmente precariamente alfabetizados, morando em subúrbios com pouca infraestrutura, criam filhos alijados das benesses do país que os recebeu.

Essa é uma mistura que costuma gerar rebeldias e violências, que aumentam a xenofobia dos cidadãos locais, o que por sua vez traz mais agressividade de parte a parte. Se a isso somarmos inimizades ancestrais entre vizinhos, países à beira da fome pela condições climáticas extremas, ódios inexplicáveis entre comunidades que vistas de fora parecem em tudo idênticas, temos guerras estourando em vários locais do mundo permanentemente, as quais obrigam ao êxodo boa parte de suas populações.

O Brasil em particular, formado por diferentes povos, europeus, indígenas, africanos, teve sempre a interação social entre eles se dando de forma desbalanceada, com brancos de origem europeia recebendo privilégios inacessíveis aos demais povos que compuseram a nação, e esta desigualdade permanece nos dias de hoje.

A única forma de superar esta injustiça, tanto do ponto de vista intelectual, quanto cultural e econômico, está na obtenção de uma educação formal e de qualidade nos diferentes níveis de ensino, o que no entanto tem se mostrado impossível a uma parcela significativa da população.

Sabemos que o número de alunas e alunos negros é ainda ínfimo; uma formação nacional assentada sob os valores da escravidão e do racismo não tem permitido que superemos esta defasagem, até pela incompreensão de nossa classe política para com as vantagens de absorver num processo educativo de qualidade esta camada populacional que migrou absolutamente contra a vontade centenas de anos atrás.

Educação de qualidade em todos os níveis para migrantes ou não migrantes, não é apenas o resgate de uma dívida histórica, é a garantia de futuro melhor para um país que começa a “envelhecer” como muitos dos demais.  

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.