Professores do ensino infantil queixam-se muitas vezes de crianças particularmente difíceis em sala de aula, algumas agressivas, outras indiferentes.

Em relação às mais hostis, a literatura especializada parece atribuir violência infantil ou a uma reação àquela assistida em casa, ou a uma falta de limites provocada pela ausência de seus pais ou tutores, normalmente gerada pelo excesso de trabalho de um deles ou ambos, e até mesmo por dissoluções familiares que colocam os muito jovens em casas de parentes ou desconhecidos.

Evidentemente existem casos de patologias mais sérias, desde autismo até esquizofrenias – menos frequentes no início da vida, algumas delas de difícil detecção, o que torna complexo o processo de ensino e aprendizagem.

Hoje detecta-se bastante a Síndrome de Asperger, análoga ao autismo, que deve seu nome a Hans Asperger, que descreveu esse transtorno em 1944, e tem entre suas características a falta de empatia, dificuldade de fazer amizades, conversação unilateral, foco intenso em alguns assuntos em detrimento de outros, o que faz com que os jovens que a sofrem sejam excelentes alunos em certas disciplinas e altamente desinteressados em outras. Sem diagnóstico, leva a muita confusão nas escolas, já que o mesmo estudante considerado excelente por um ou dois professores é declarado de baixo rendimento para os demais; além disso pode provocar movimentos descoordenados e ocorre preferencialmente em meninos; sem atraso intelectual ou atrasos importantes na aquisição da fala, porém com dificuldades na socialização, em fazer amigos, em acatar regras sociais.

Por não ser uma doença, não pode ser curada, e muitas pessoas neste curioso movimento antivacinas pretendem que possa estar sendo intensificada pelas vacinas, o que não tem a menor evidência científica. O fato é que atualmente os instrumentos que auxiliam diagnósticos estão mais acessíveis, e portanto o número de casos parece ter crescido, quando na verdade apenas mais ocorrências são descobertas.

Vacinação sempre foi meio eficaz para prevenção de doenças e está entre as principais estratégias da saúde pública, maneira de reduzir ou até erradicar doenças, redutora de óbitos.

O país já combateu a febre amarela nos meios urbanos, varíola e poliomielite, mas atualmente em função de fake news vacinas se tornaram “uma arma biológica criada para controle populacional”.

Evidentemente uma pequena parte da população vacinada contra a Covid-19 tem efeitos colaterais, comuns para qualquer medicação, e como algumas doenças foram erradicadas há muito tempo, boa parte dos pais não conviveram com suas sequelas, o que somado à disseminação de notícias falsas, está produzindo o ressurgimento de mazelas como o sarampo, difteria e coqueluche.

Mas sempre é mais fácil procurar uma resposta mais simplificada, um “culpado” pelos azares da natureza, pois a possibilidade de que evitando um procedimento simples – vacinar a criança – possamos estar combatendo um mal parece sedutora, embora a ausência de vacinação possa trazer uma série de outros males, inclusive ressuscitando doenças já desaparecidas no país, como poliomielite e muitas outras.

Num momento pós pandemia isso se torna grave, pois o excessivo tempo sem aulas presenciais trouxe uma série de outros atributos à sala de aula: um certo descrédito no sistema educativo, reflexo também do momento político que atravessamos. Dificuldade de acatar autoridade, diminuição da coordenação motora pelo tempo fechado em casa, aumento dos abusos e agressões praticados em determinados lares.

Cada vez mais pesquisadores, pais e professores estão conscientes da importância dos primeiros anos de vida para a constituição saudável do futuro cidadão, e certamente o grupo familiar exerce imensa importância na estruturação do psiquismo da criança, na formação da personalidade do

adulto.

O tempo em que famílias se reúnem tem sido cada vez mais restrito e os papéis familiares tornam-se confusos; funções essenciais para o desenvolvimento saudável da criança exigem acolhimento, amor, e companheirismo dos familiares. Este é o melhor auxílio que um professor pode receber para efetivar com sucesso um bom processo de ensino-aprendizagem.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.