A sabedoria popular propõe um remédio dito infalível para determinados tipos de depressão: “uma enxada e um quintal para carpir”; quase que brincando com o que é na verdade uma enfermidade, com sintomatologia variável, das mais leves às mais graves. Aqueles que dela não padecem, de certa forma a atribuem à indolência, falta de desejo de responder aos desafios da vida por pura inércia; no entanto, depressão é uma doença séria e não pode ser menosprezada, mas os casos referidos são aqueles não patológicos, em que as pessoas apresentam sintomas muito leves e parecem se comprazer em aumenta-los e entregar-se a eles, até como forma de justificar a inação perante a própria vida. A causa geralmente está ligada à falta de propósito existencial e certa preguiça vaidosa, como se o “sofredor” fosse especial e merecedor de atenção por sofrer. Nesse tipo de situação cabe, sim, a proposta de realizar alguma atividade manual, física, dedicar-se a algo além das obrigações triviais, dentro do que recomenda o I Ching, o antigo oráculo chinês, “é favorável ter em vista um objetivo ou destino”, forma saudável de quebrar as rotinas que parecem cárceres. 
Foi a partir do século XVIII que uma nova organização na produção agrícola e possibilidades de comércio e manufatura nas vilas e cidades trouxeram a estas um contingente significativo da população, cada vez mais afastada dos trabalhos rurais. O modo de vida urbano e a relativa menor dificuldade de obtenção do básico para a sobrevivência, o tempo livre pela primeira vez na história para pessoas que até uma geração anterior passavam a vida inteira trabalhando nos campos enquanto havia luz solar, e literalmente desmaiavam de cansaço após isto, causaram o aparecimento de ansiedades, insônia, uma grande agitação nervosa e até mesmo certa melancolia ou depressão. Males até então restritos aos aristocratas e à alta burguesia. As chamadas perturbações mentais, ao que parece, eram “privilégio” de pessoas mais ricas e cultas. Na literatura, o hipocondríaco de Molière, Hamlet de Shakespeare e os semideuses da Mitologia grega com seus acessos de cólera são exemplos clássicos; em peças e filmes modernos costumamos representar aristocratas ou até mesmo intelectuais como pessoas repletas de achaques, chiliques e imersos em profundo tédio, mostrando claramente o quanto consideramos este um mal trazido pela fartura. Camponeses não “enlouqueciam”, aqueles que eventualmente perdiam o foco em seu trabalho provavelmente morriam de fome antes que os sintomas se evidenciassem, ou tornavam-se os “bobos” de aldeias, vivendo de caridade em períodos de menor penúria. 
Atualmente este é um mal relativamente comum nos ambientes laborais ou escolares, em todas as faixas etárias, professores relatam o problema em crianças que recém iniciam os estudos, e apesar de ainda não existir exatamente um consenso sobre a depressão infantil, sabemos que quase sempre se trata de perturbação orgânica envolvendo variáveis sociais, biológicas ou psicológicas, uma disfunção que pode estar ligada à herança genética, ou à baixa autoestima, ou até um grito de socorro em função de desavenças familiares, violências ou problemas ambientais. Crianças e jovens nestes casos costumam apresentar características agressivas, são irritadiças e apresentam baixo desempenho escolar, além de outros sintomas complexos. Um cuidado indispensável é ao desenvolvimento irregular da cognição ou emoções, que pode levar aos pensamentos suicidas, infelizmente cada vez mais comum no ambiente escolar. Outro fator a ser levado em conta parece ser a excessiva sensibilidade às contrariedades e desacertos vitais, o pouco preparo para as vicissitudes e uma certa crença de merecimento sempre do melhor e mais agradável, que destrói complemente a resiliência, provocando a perda da capacidade de reação e manutenção do amor próprio em condições adversas. Envolvidos em graves problemas relativos à sua profissão, ao pouco investimento em estrutura adequada ao magistério, e mesmo pouco reconhecimento social, docentes tem tido dificuldade em trabalhar com mais esta questão no ambiente educacional.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.